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A culpa de se divertir: por que o prazer virou motivo de julgamento nas redes

Em tempos de hiperexposição e comparações constantes, até a felicidade virou alvo de crítica.

A culpa de se divertir por que o prazer virou motivo de julgamento nas redes

Quando a felicidade vira alvo

Nas redes sociais, sorrir demais, viajar muito ou simplesmente demonstrar felicidade se tornou motivo de julgamento. O que era para ser uma celebração da vida virou, em muitos casos, um ato de exposição ao tribunal digital. Em tempos de vigilância constante, o prazer passou a ser vigiado e questionado, especialmente quando o lazer é exposto publicamente. Além disso, duas palavras de transição como “por isso” e “além de” são quase sempre acompanhadas de uma justificativa para qualquer ação que envolva diversão.

A culpa de se divertir por que o prazer virou motivo de julgamento nas redes

A comparação como combustível do julgamento

A cultura da comparação alimentada pelos algoritmos intensifica esse cenário. As pessoas se comparam, se cobram e, por vezes, descontam suas frustrações nos outros. O prazer alheio se torna ofensivo porque expõe o que muitos não têm ou não vivem. Assim, se divertir vira um gatilho para o julgamento e não mais um direito básico do ser humano. A crítica disfarçada de opinião é uma prática que ganha força no ambiente online, tornando-se uma forma cruel de controle social.

O recorte de gênero no julgamento do lazer

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Outro ponto relevante é a culpabilização do lazer feminino. Mulheres que viajam sozinhas, que vão a festas ou que publicam momentos de descanso frequentemente recebem comentários negativos. A sociedade cobra que elas estejam sempre produtivas, cuidadoras ou engajadas em causas coletivas. A alegria, quando vem de uma mulher, precisa ser justificada, e se for plena demais, é automaticamente vista como exagero ou irresponsabilidade.

Prazer versus crise econômica

A economia também entra nessa equação. Mostrar viagens, experiências gastronômicas ou qualquer atividade considerada de “luxo” é visto por alguns como afronta em tempos de crise. A crítica surge como falsa consciência social, mas esconde muitas vezes inveja ou frustração. É mais fácil julgar quem está se divertindo do que admitir que se gostaria de estar no mesmo lugar. Esse comportamento revela um sintoma da sociedade do espetáculo e da carência afetiva digital.

As consequências do julgamento constante

As consequências desse fenômeno são profundas. Muitos usuários começam a se autocensurar, evitando postar momentos de lazer ou felicidade. O medo do julgamento inibe a espontaneidade e transforma o prazer em algo clandestino. Celebrar conquistas pessoais se torna um ato político, um gesto de resistência contra a normatização da culpa.

A psicologia digital e os efeitos emocionais

A psicologia digital já estuda o impacto desse tipo de comportamento na saúde mental. A exposição à crítica constante, mesmo que velada, gera ansiedade, baixa autoestima e sensação de inadequação. Quando até a felicidade é policiada, sobra pouco espaço para autenticidade. A performance substitui o sentimento genuíno, e os feeds viram vitrines de justificativas.

Como resgatar o direito ao lazer

Recuperar o direito de se divertir passa por uma mudança cultural. Precisamos resgatar a leveza de viver sem pedir desculpas por isso. A internet deve ser um espaço de expressão, não um tribunal de repressão. O prazer não precisa de legenda explicativa, nem de filtros morais alheios. Rir, descansar, viajar, dançar — tudo isso é parte do que nos torna humanos.

O desafio de ser autêntico

Desafiar o julgamento exige coragem, mas também consciência. Postar menos para agradar e mais para compartilhar de verdade pode ser um começo. Reduzir o tempo gasto em perfis que alimentam comparações e estimular conversas reais fora da tela também ajuda. E, acima de tudo, lembrar que o prazer não precisa ser escondido, apenas vivido.

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Profissional de Comunicação. Head de Marketing da Metalvest. Editor do Jornal Lagoa News. Líder da Agência de Notícias da Abrasel. Ex-atleta profissional de skate. Escreve sobre estilo de vida todos os dias na Itatiaia.