Tadeuzinho projeta 2026 com Propag: ‘Deixar de gastar com juros e gastar com pessoas’

Presidente da Assembleia diz que trabalho dos deputados foi feito em 2025 e que a responsabilidade sobre o futuro fiscal de Minas agora está com o governador Romeu Zema (Novo)

Em entrevista exclusiva à Itatiaia, Tadeu Martins Leite (MDB) fez balanço sobre a atividade da Assembleia em 2025 e projetou o próximo ano

A Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) encerra nesta sexta-feira (19) o expediente de 2025 e entra em recesso até fevereiro. Comandando a casa em um ano marcado por intensos debates relacionados à dívida com a União, o presidente da Casa, Tadeu Martins Leite (MDB), concedeu uma entrevista exclusiva à Itatiaia para fazer um balanço dos trabalhos dos deputados estaduais no ano.

O segundo semestre da Assembleia foi tomado por textos relacionados ao Programa de Pleno Pagamento de Dívidas dos Estados (Propag), que prevê o refinanciamento da dívida com a união com abatimento de juros em parcelas divididas em até 30 anos. para isso, o governador romeu zema precisou aprovar um extenso pacote de projetos no legislativo. Tadeuzinho avalia o trabalho dos deputados neste tema e considera que o governo tem uma oportunidade única para resolver a situação fiscal do estado.

“Nos últimos 20 anos, Minas jogou praticamente no lixo em torno de R$ 100 bilhões só em pagamento de juros para a União com essa dívida que se arrasta desde praticamente desde 1998. Agora com esse novo modelo que é o Propag, nós estamos conseguindo dar a oportunidade para que o governo faça adesão da melhor forma possível para a gente conseguir ficar livre desse pagamento de juros. E, mais do que isso, entregar agora ao estado a oportunidade de ele fazer investimento real nas pessoas, nos mineiros, nas regiões e nos servidores. Nós temos que começar, a partir do ano que vem, a fazer as discussões fundamentais e necessárias como a recomposição e incorporações salariais”, destacou.

Para tratar sobre a dívida de quase R$ 180 bilhões de Minas junto à União, a adesão ao Propag envolveu projetos complexos e arrastados na casa, como a privatização da Copasa e a federalização da Codemig. Para Tadeuzinho, o trabalho dos deputados foi feito e a responsabilidade agora está na mesa dos governos estadual e federal.

“Tudo que a Assembleia pôde fazer para dar ao governo a oportunidade de fazer a adesão ao Propag na melhor condição possível, ou seja, sem pagar juros nenhum, foi feito. Até um pouco a mais. Dos 14 projetos que chegaram à Assembleia, nós entregamos dez. [...] A partir do ano que vem a bola está agora com o governo do estado e com o governo federal. Eu espero que a discussão político-partidária não atrapalhe essa discussão, que é uma discussão eminentemente técnica”, afirmou o presidente ao defender o trabalho da Casa.

Veja a entrevista completa:

Virada de chave em 2026

Com os debates sobre a dívida fora do radar da Assembleia e com a entrega de aprovações cruciais para o executivo, Tadeuzinho acredita que, em 2026, o governo de Romeu Zema (Novo) possa apresentar à Casa Legislativa propostas que atendam aos anseios dos mineiros. Ele exemplifica a expectativa com medidas para recompor os salários de servidores, há muito tempo defasados no estado.

“Nós fizemos tudo o necessário para dar ao estado um fôlego financeiro, ou seja, de deixar de gastar dinheiro com juros para gastar com as pessoas. Espero que, a partir do ano que vem, a gente tenha essa maturidade também, esse trabalho, essa priorização do governo do estado para discutir a recomposição e incorporação salarial. Nós temos diversos servidores que cerca de 50% do salário deles são de gratificações, ou seja, não incorporam, não podem tirar licença porque perdem essas gratificações ou não podem aposentar”, declarou o deputado.

Pretensões eleitorais e lembrança de Lula

A virada de ano não significa apenas a conclusão dos temas do Propag entre os deputados mineiros. O momento é também de atenções voltadas às urnas em outubro. Com o destaque obtido nas discussões da dívida mineira, Tadeuzinho virou um nome no radar de partidos que ainda buscam seu candidato em 2026.

Na última semana, durante passagem por Belo Horizonte e Itabira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) citou o presidente da Assembleia como um possível nome apoiado pelo PT ao Governo de Minas. Tadeuzinho comentou a lembrança presidencial.

“Eu não estou como candidato ao governo. Mas se porventura em algum momento eu fosse, gostaria primeiro, obviamente, de estar ao lado das pessoas, dos prefeitos, dos vereadores e ter os apoios necessários também para toda uma candidatura. Repito que essa não é uma discussão que está no meu radar, na minha prioridade, mas obviamente não tem como não dizer que você não fica feliz de ser citado pelo presidente da República como um como uma possível candidatura. Isso é sinal que estão enxergando o trabalho que nós estamos fazendo aqui na Assembleia de Minas como presidente, como deputado estadual”, comentou.

Tadeu ainda afirmou que trata com naturalidade a busca petista por candidatos ao Governo de Minas, mas evitou falar especificamente sobre seus planos eleitorais antes do início efetivo do próximo ano. Os trabalhos da assembleia em 2026 serão retomados em fevereiro.

O que é o Propag

O Programa de Pleno pagamento de Dívidas dos Estados (Propag) foi criado a partir das dificuldades encontradas pelo governador Romeu Zema (Novo) em aprovar a adesão de Minas Gerais ao Regime de Recuperação Fiscal (RRF) na Assembleia Legislativa (ALMG). Principal pauta do Executivo Estadual para lidar com a situação da bilionária dívida com a União, a medida foi considerada excessivamente austera pelos parlamentares e não caminhou na Casa.

O RRF foi instituído durante a presidência de Michel Temer (MDB) como uma forma de adequação orçamentária dos estados endividados. Durante nove anos de vigência do regime, os estados precisam conter investimentos, limitar os reajustes salariais dos servidores e congelar novos concursos para o funcionalismo público, por exemplo.

Sem conseguir aderir ao regime via Legislativa, Zema conseguiu o ingresso via Supremo Tribunal Federal (STF) em 2024. Minas, então, se somou a um grupo formado por Goiás, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro, todos operando sob o RRF. Paralelamente à empreitada jurídica do governador, membros da oposição na Assembleia, o presidente da Casa, Tadeu Martins Leite (MDB), e o então presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), começaram a costurar o que viria a ser o Propag.

O projeto de lei complementar que propunha a criação do Propag foi aprovado no Congresso Nacional em dezembro de 2024, sancionado parcialmente pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em janeiro do ano seguinte e regulamentado em abril.

O programa prevê a criação de condições para que os estados endividados com a União consigam parcelar o pagamento do débito em até 30 anos. Neste contexto, o Propag estabelece mecanismos para a redução dos juros cobrados sobre as parcelas, hoje calculados pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) — que estabelece a inflação — mais 4% do estoque da dívida ao ano.

O ingresso no Propag deve ser decidido pelos estados até o fim deste ano e pode ser feito em diferentes modelagens, todas elas com a possibilidade da redução dos juros reais com a eliminação dos quatro pontos percentuais cobrados além da inflação.

O modelo escolhido pelo governo mineiro e em discussão com um pacote com mais de uma dezena de projetos enviados à Assembleia prevê a redução de dois pontos percentuais a partir do abatimento de ao menos 20% do estoque da dívida. Hoje, Minas deve cerca de R$ 175 bilhões à União e, portanto, precisaria pagar R$ 35 bilhões para atingir seu objetivo.

Esse pagamento pode ser feito a partir da federalização de ativos estatais para amortizar a dívida com seu repasse ao governo federal ou via privatização dos bens com uso do recurso para o abatimento do débito. Neste contexto estão os polêmicos debates de venda de imóveis do estado e da Copasa e da federalização da Codemig, há meses monopolizando a discussão no Legislativo mineiro.

Outro ponto percentual pode ser abatido com o compromisso de que a economia obtida com essa redução de juros seja reinvestida no estado. O uso do valor que não será pago em forma de dívida deve, portanto, ser aplicado em ações de segurança pública, ensino profissionalizante, infraestrutura e outras áreas nevrálgicas da estrutura do estado.

Por fim, mais um ponto percentual pode ser suprimido com a contribuição com o Fundo de Equalização Federativa. Instituído pelo próprio Propag, essa medida foi tomada como uma forma de negociar a aprovação do texto no Congresso junto a parlamentares de estados que não estão em dívida com a União e que viam no programa de refinanciamento uma iniciativa de favorecimento das unidades federativas em débito. Os valores destinados ao fundo serão redistribuídos entre os estados do país.

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Repórter de política da Itatiaia, é jornalista formado pela UFMG com graduação também em Relações Públicas. Foi repórter de cidades no Hoje em Dia. No jornal Estado de Minas, trabalhou na editoria de Política com contribuições para a coluna do caderno e para o suplemento de literatura.

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