Conheça os perigos da sarna otodécica e a importância de checar o ouvido dos pets

Diferente da sarna sarcóptica, que ataca o corpo, este parasita vive, se alimenta e se reproduz dentro do conduto auditivo do pet

Mesmo animais que tomam banho semanalmente podem contrair o ácaro se tiverem contato com objetos contaminados ou outros animais em passeios

Ver o cão ou gato coçar as orelhas com as patas de trás é uma cena comum, mas na veterinária, esses sinais podem alertar para a presença de um inimigo invisível a olho nu, mas perigoso para a saúde auditiva: o ácaro otodectes cynotis, conhecido popularmente como “sarna de ouvido”.

A sarna otodécica é uma infestação parasitária altamente contagiosa, responsável por muitos dos casos de otite externa em felinos. Diferente da sarna sarcóptica, que ataca o corpo, este parasita vive, se alimenta e se reproduz dentro do conduto auditivo do pet.

O grande perigo, alertam os especialistas, é a confusão do diagnóstico caseiro. O tutor nota uma cera escura e tenta limpar com soluções caseiras, sem saber que aquela secreção é, na verdade, uma mistura de cerúmen, sangue coagulado e dejetos dos ácaros.

Leia também

A transmissão ocorre majoritariamente por contato direto. Onde há um animal infestado, é provável que todos os outros, cães ou gatos, também estejam. Estudos de parasitologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) reforçam o alto potencial de infecção do ácaro em ambientes com muitos animais.

Sem falar na capacidade do parasita de não respeitar barreiras de espécie, saltando de gatos para cães com facilidade.

A médica veterinária Mariana Castelhano Diniz, da Ourofino Saúde Animal, detalha o mecanismo de ação que causa o sofrimento no animal e o risco de lesões secundárias graves, como o otohematoma, caracterizado pelo inchaço da orelha por rompimento de vasos sanguíneos:

“A presença dos ácaros está associada à coceira constante, e eles se alimentamde restos epidérmicos e fluidos teciduais da epiderme. A transmissão desse tipo de sarna ocorre através do contato direto com animais infestados”.

Um mito comum que precisa ser derrubado é o da “imunidade por limpeza”. Mesmo animais que tomam banho semanalmente podem contrair o ácaro se tiverem contato com objetos contaminados ou outros animais em passeios.

Embora o risco de transmissão para humanos seja considerado raro e autolimitante, a infestação ambiental é um problema real. Isso porque o ciclo de vida do otodectes permite que ele sobreviva fora do hospedeiro por tempo suficiente para infectar outro animal que compartilhe a mesma cama ou escova.

A Itatiaia preparou uma lista com sinais de alerta para ajudar os tutores a diferenciarem a sarna otodécica de uma sujeira comum:

  • A característica mais distinta dessa sarna é a aparência da secreção no ouvido. Diferente da cera normal, que é amarelada ou marrom clara, a sarna otodécica produz um uma substância seca, granulada e escura, como borra de café.
  • De tanto coçar, o pet faz feridas na parte de fora da orelha e no pescoço. Em casos avançados, a pele da região fica grossa e sem pelos.
  • O movimento brusco e frequente da cabeça para as laterais é uma tentativa desesperada do pet de “expulsar” o corpo estranho que causa coceira.
Jessica de Almeida é repórter multimídia e colabora com reportagens para a Itatiaia. Tem experiência em reportagem, checagem de fatos, produção audiovisual e trabalhos publicados em veículos como o jornal O Globo e as rádios alemãs Deutschlandfunk Kultur e SWR. Foi bolsista do International Center for Journalists.

Ouvindo...