Ouvindo...

Lançamento de “Latência”, novo livro de Letícia Andrade, reúne dramas e contos que exploram o feminino em suas potências e contradições

Obra publicada pela Editora Devires aborda o universo feminino e a resistência por meio de narrativas que transitam entre o trágico e o político

Na noite de sexta-feira (24), aconteceu o lançamento do livro Latência, da dramaturga, diretora e pesquisadora Letícia Andrade, publicado pela Editora Devires. A obra reúne quatro dramas — “Medeiazonamorta”, “Peça-me um refrão”, “Ela veio para ficar” e “Ondas de onde parto” — além de trinta e quatro contos breves, compondo um mosaico de narrativas intensas e provocativas.

Com uma escrita que transita entre o trágico, o irônico e o corrosivo, Letícia dá voz a mulheres que resistem à domesticação social: mães, artistas e trabalhadoras que habitam a fronteira entre o íntimo e o político. O título, Latência, remete ao que pulsa sob a superfície — aquilo que lateja, se oculta, mas nunca deixa de existir. “Latente é o que palpita, o que está disfarçado, mas insiste em emergir”, define a autora.

A capa do livro traz a pintura Portrait of the Dancer Aleksandr Sakharov (1909), do expressionista russo Alexej Jawlensky, reforçando o diálogo entre corpo, expressão e subjetividade — temas recorrentes na obra de Letícia. Entre os contos, destaca-se “Nem bonita, nem feia”, que abre um olhar sobre a identidade e a alienação feminina em meio à rotina urbana. No trecho, a autora escreve:

“Me deixa cuidar dela, ela não é ninguém, não é bonita, nem feia, mesmo assim, me deixa. (...) Ela era invisível. Um inseto. Não, melhor, um pernilongo. Que a fura. Que a chupa. Que coça a pele quando marca.”

Letícia Andrade nasceu em São Paulo, mas se define como mineira de vida. Com mais de 25 anos de trajetória artística em Belo Horizonte, é diretora, dramaturga, pesquisadora e professora efetiva do Departamento de Artes da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), atuando nas áreas de direção e teoria teatral. Foi também professora de iluminação cênica por oito anos.

Mestre em Teoria da Literatura, Doutora em Artes e Pós-Doutora em Estudos Literários pela UFMG, Letícia desenvolveu um mapa inédito de 270 diretoras teatrais mundiais, contribuindo para a visibilidade das mulheres na direção teatral. Além da intensa atuação acadêmica e artística, ela se define como mãe, feminista e cozinheira, formada pelo Instituto Gastronômico das Américas.

Com Latência, Letícia reafirma sua escrita como um espaço de pulsação e resistência — uma dramaturgia que não busca apenas narrar, mas fazer o leitor sentir o que está prestes a explodir sob a pele.

Leia também

Laura Gorino é graduanda em Jornalismo na UFOP e atua como Assistente de Comunicação na rádio Itatiaia Ouro Preto. Ela trabalha na cobertura de pautas de diversos nichos, com um interesse especial em jornalismo cultural.