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Servidor público denuncia caso de racismo durante trabalho

Leonardo Francisco Sales relata insulto racial e destaca luta pelos direitos da população negra

Leonardo falou abertamente sobre caso de racismo na Câmara Municipal de Ouro Preto

O servidor público do departamento de trânsito de Ouro Preto, Ourotran, Leonardo Francisco Sales, de 42 anos, utilizou a Tribuna Livre da Câmara de Ouro Preto para denunciar o caso de racismo que sofreu por um morador da região central de Ouro Preto. Como noticiado pela Itatiaia, no sábado, 1º de julho, Leonardo foi insultado por um morador de uma das ruas mais tradicionais do município, a Rua Randolfo Bretas, conhecida como rua da Escadinha, no Centro de Ouro Preto, enquanto exercia seu trabalho. De acordo com Leonardo, um homem cometeu injúria racial contra ele ao ser proibido de transitar pela rua, que desde o dia 20 de maio encontra-se interditada para o trânsito de veículos, devido ao alto número de acidentes.

O homem foi detido pelo crime de injúria racial. Emocionado, Leonardo disse que vai lutar pelos seus direitos e o de toda população negra do município, que equivale a cerca de 80% do total de ouro-pretanos, de acordo com o IBGE.

“Hoje eu venho pedir respeito para as pessoas pela cor da pele, independente do que for, isso aqui não é doença, isso aqui é uma honra para mim, para minha família, para todos os negros, não só de Ouro Preto, mas de todo o Brasil, de todo mundo. Eu senti na pele o que o Vinícius Júnior tá passando”, afirmou.

Leonardo também compartilhou sua experiência, destacando que sofreu xingamentos racistas de um indivíduo, resultando em um impacto emocional significativo. Ele mencionou a dificuldade de lidar com essa situação ao chegar em casa e se deparar com sua família. Para Leonardo, esse incidente representou uma clara falta de respeito em relação ao seu trabalho. Ele expressou frustração por ser constantemente desencorajado a abordar o assunto, sendo encorajado a ignorar e esperar por um pedido de desculpas. Para ele, essa situação não é considerada normal.

“Hoje, com o conhecimento e os meios de comunicação disponíveis, é absurdo que ainda existam pessoas que pratiquem tais atos. Parte da justiça foi feita. Eu pude dormir na minha casa. Enquanto isso, ele teve que passar a noite na prisão”, disse.

Leonardo também expressou a necessidade de os pretos e negros cortarem brincadeiras e comentários ofensivos, provenientes de colegas e amigos. Ele se comprometeu a lutar pelos seus direitos enquanto puder, pois o que aconteceu com ele hoje também ocorre com muitos outros, sem que ninguém se manifeste a respeito.

A Comissão de Direitos Humanos da Câmara se colocou à disposição do servidor para que as devidas providências fossem tomadas sobre o caso. À Itatiaia, o diretor de Promoção de Igualdade Racial de Ouro Preto, Kedison Guimarães, se pronunciou sobre o assunto.

“O servidor da Ourotran sofreu ataques racistas enquanto realizava suas atividades de trabalho. A diretoria está em contato com a vítima e prestando total apoio neste momento. Ressaltamos que fatos como esse são inadmissíveis, tanto aqui como em qualquer lugar. Infelizmente, ocorrências desse tipo são recorrentes na cidade de Ouro Preto. Estamos empenhados em combater o racismo em todas as suas formas, pois ele nos fere, tanto mental quanto fisicamente. Vale lembrar que o racismo é crime”, afirmou Kedison.

Cometer injúria racial é crime, equiparado ao racismo, sendo passível de dois a cinco anos de reclusão, além de multa. O crime não cabe fiança e é imprescritível.

A vítima que estiver sofrendo racismo ou injúria, deve chamar a Polícia Militar por meio do Disque 190. Se o crime já tiver ocorrido, a vítima deve procurar a Polícia Militar e fazer um boletim de ocorrência, com o máximo de detalhes possíveis e se possível, levar as testemunhas do ocorrido.

Isabela Vilela é repórter multimídia na Itatiaia Ouro Preto desde 2022. Jornalista formada pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), é mestranda em Comunicação pela mesma instituição, pesquisando sobre a produção jornalística em plataformas digitais. Antes, passou pela Agência Primaz de Comunicação e atuou como Copywriter e Produtora de Conteúdo em organizações sociais de Minas Gerais e São Paulo.