Quais são as soluções para o curtailment?

Cortes de energia renovável cresceram nos últimos anos; produção precisa acompanhar consumo e armazenamento é grande desafio

Setor discute solução para o desperdício de energia limpa no Brasil

O Brasil vive um paradoxo no setor de energia elétrica. Ao mesmo tempo em que cresce a geração por meio de fontes renováveis, o país precisa cortar essa produção de energia limpa por um excesso de oferta e incapacidade de transmissão em operações que são conhecidas como curtailment, acionada a fim de evitar falhas sistêmicas que podem causar apagões. Mas como contornar o problema?

Especialistas ressaltam que o curtailment é o grande desafio da matriz energética brasileira. Para solucionar a questão, primeiro é necessário entender o que leva o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) a cortar essa energia. Segundo dados do ONS monitorados pela consultoria Volt Robotics, em outubro foram cortados 5,9 mil GWh do sistema, causando um prejuízo para os geradores de renováveis na ordem de R$ 1,1 bilhão.

O diretor-geral da Volt, Donato Filho, explica que são três razões que levam aos cortes de energia renovável: restrição elétrica, quando há algum problema na transmissão da rede; cortes de confiabilidade, quando o operador identifica um risco ao equilíbrio do sistema; e o corte energético, quando não há demanda para a oferta sendo gerada suprir.

“Depois do apagão de agosto de 2023, o operador passou a ser bem mais rigoroso na questão do curtailment. Esse ano, em julho, agosto, setembro e outubro, o país bateu recorde atrás de recorde de cortes. A gente impede as usinas de gerar. Tem usinas que venceram um leilão com uma receita, e uma vez por ano é feito um encontro de contas. O quanto gerou e o quanto tem de contrato, então ela tem que ressarcir os consumidores”, disse Donato Filho.

Os dados levantados pela Volts revelam que os cortes são maiores no período em que as usinas solares geram mais energia, entre 7h e 17h, quando o uso de energia elétrica é bem menor que a oferta das usinas no sistema. Isso ocorre pelo padrão de consumo do brasileiro, que ao trabalhar durante esse período, só vai gerar demanda para o sistema no fim do dia.

Segundo Donato, o sistema tem sido sobrecarregado pela geração distribuída, que são as pequenas usinas solares que podem ser instaladas em residências e comércios. Desde 2020, o número anual de conexões dos painéis cresceu de maneira exponencial, chegando a 99% dos municípios brasileiros.

“O corte energético tem a cara do solar, mas também há um corte de confiabilidade que ocorre no fim do dia, pegando energia eólica. O operador atende o pico de consumo com térmica e hidrelétrica, porque ele confia nelas e tira as usinas eólicas do jogo. A carga que o sistema enxerga cai muito pela manhã, mas porque tem muita geração distribuída e a carga necessária é pequena”, ressaltou.

Mas como o curtailment pode ser resolvido?

Na ponta do consumo, Donato Filho acredita que o caminho para superar o curtailment é incentivar a população a usar energia elétrica quando a geração é mais barata. Segundo o painel de preços da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), a energia chega a custar R$ 283 MWh no pico da geração de energia solar, aos 12h, enquanto às 19h a energia é gerada por R$ 694,34.

“A gente tem que começar a ofertar energia barata de manhã. Tem que se comunicar com a população e explicar a situação. É preciso explicar que a pessoa não precisa lavar roupa no fim do dia. Tem várias coisas para fazer e incentivar o aumento de consumo no início do dia. Essa é uma coisa para ser mais rápido”, declarou o especialista.

As baterias que sempre aparecem como uma solução óbvia diante dos curtailment, segundo Donato Filho, ainda sofrem com impostos muito altos, uma vez que são classificadas como equipamentos de informática. “Se a gente liberar a carga tributária das baterias, vai ser um baita benefício”, disse.

Segundo Sérgio Pataca, consultor da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) para o mercado de energia elétrica, existem três tipos de saída para o problema. No longo prazo, ele afirma que é necessário uma reforma estrutural do setor. Enquanto no médio, Pataca afirma que é necessário pensar em investimentos em armazenamento como baterias, ou até uma tecnologia que está sendo consolidada no mundo: as hidrelétricas reversíveis.

No curto prazo, ele cita a melhoria na regulamentação, defendendo critérios puramente técnicos para que os cortes sejam minimizados. “É necessário um corte que realmente análise toda a geração, não só uma parte como é feita hoje. Tem que ter o melhor critério possível para a redução de custo, um critério amplo na metodologia”, completou.

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Jornalista formado pela UFMG, Bruno Nogueira é repórter de Política, Economia e Negócios na Itatiaia. Antes, teve passagem pelas editorias de Política e Cidades do Estado de Minas, com contribuições para o caderno de literatura.
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