Família luta por repatriação de mineiro que morreu no Camboja

Gabriel Oliveira, de 24 anos, recebeu uma proposta de emprego em abril; morte de jovem foi comunicada à família em julho

Natural de Contagem, na Grande BH, o mineiro morreu no dia 7 de julho em razão de uma explosão na cozinha do local onde trabalhava em Camboja

A família do mineiro Gabriel Oliveira, de 24 anos, vive momentos de tensão desde o dia 15 de julho, quando descobriram que o jovem havia morrido enquanto trabalhava no Camboja, no Sudeste Asiático. Desde então, os familiares de Gabriel tentam viabilizar o translado do corpo junto ao Ministério das Relações Exteriores (MRE), mas já receberam duas recusas.

Com uma proposta de emprego na área da computação, o mineiro se mudou para a Ásia em abril, sem saber ao certo para qual país iria. Em entrevista à Itatiaia, o pai de Gabriel, o funcionário público aposentado, de 54 anos, Daniel Araújo, disse que os contatos com o filho aconteciam sempre que o mineiro saia do trabalho por vídeo chamada, e que ele sempre relatava jornadas exaustivas.

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“Ele recebeu uma proposta para o Sudeste Asiático. Aí ele chegou lá e parece que eles negociam para onde a pessoa vai, e ele acabou indo pro Camboja. Mas ele chegou via Tailândia, Camboja”, contou Daniel Araújo.

De acordo com o pai do jovem, a família não queria que ele fosse para o país. “Como ele morava sozinho, ele tinha recém-chegado para morar com a gente. Tinha 8 meses que ele estava com a gente. Ele estava trabalhando aqui na cidade, tava ok. Mas ele foi persuadido, ele estava muito seguro de que era um trabalho de fato”, lembrou.

Natural de Contagem, na Grande BH, o mineiro morreu no dia 7 de julho em razão de uma explosão na cozinha do local onde trabalhava no Camboja. A informação foi repassada à família pela empresa que empregava Gabriel. No entanto, o empreendimento não foi o primeiro a contatar a família sobre a morte.

Cerca de 8 dias após o acidente, o Ministério das Relações Exteriores (MRE) entrou em contato com os pais de Daniel Araújo e contou sobre o ocorrido. Na ocasião, também foi esclarecido que a família é que seria responsável pelo translado do corpo. Desde então os parentes tentam, com auxílio da Defensoria Pública da União, que a pasta banque o processo.

Desde junho de 2025, uma alteração no Decreto nº 9.199, de 20 de novembro de 2017, prevê hipótese excepcional de custeio de translado de corpo de brasileiro falecido no exterior. A legislação foi decretada após a morte da brasileira Juliana Marins, que caiu durante uma trilha no Monte Rinjani, na Indonésia.

O texto prevê cinco pontos principais para justificar o auxílio:

  • A família comprovar incapacidade financeira para o custeio das despesas com o translado;
  • As despesas com o translado não estiverem cobertas por seguro contratado pelo de cujus ou em favor dele, ou previstas em contrato de trabalho se o deslocamento para exterior tiver ocorrido a serviço;
  • O falecimento ocorrer em circunstâncias que causem comoção; e
  • Houver disponibilidade orçamentária e financeira.

À Itatiaia, Daniel Araújo contou que vai “até o fim” para conseguir o translado. “Nós precisamos de receber o corpo para a gente passar essa fase. Viver esse luto. Está sendo muito difícil para a família porque ele era um menino muito querido. Muito alegre”, afirmou.

Tráfico de pessoas

Em nota enviada à reportagem, o Ministério das Relações Exteriores (MRE) disse ter ciência e prestar toda assistência consular aos brasileiros vítimas do tráfico de pessoas no Sudeste Asiático. A pasta comentou que os primeiros casos de tráfico para região começaram a aparecer em 2022, quando eles publicaram o primeiro alerta consular a respeito do aliciamento de brasileiros.

Em fevereiro deste ano, um novo aviso sobre o assunto foi publicado pelo órgão. Na ocasião, a pasta alertou para o aumento significativo no número de brasileiros vítimas de tráfico de pessoas para exploração laboral no Sudeste Asiático.

“As vítimas, em sua maioria jovens com conhecimento de informática, são recrutadas por meio de redes sociais com falsas promessas de emprego em “call centers” ou empresas de tecnologia na Tailândia. Tais ofertas são direcionadas a brasileiros e contemplam salários competitivos, comissões por ativos vendidos e passagens aéreas”, detalhou a pasta no comunicado.

Assim que chegam ao país asiático, as vítimas são levadas de forma irregular para Myanmar, Laos e Camboja. O Itamaraty alertou para que as pessoas que receberem ofertas parecidas com essa devem ficar atentas aos sinais.

“Para auxiliar na identificação de possíveis situações de tráfico de pessoas, o Itamaraty produziu em conjunto com o Ministério da Justiça e Segurança Pública cartilha sobre trabalho no exterior e folheto específico para quem se encontre no Sudeste Asiático”, explicam.

Em relação ao caso do mineiro Gabriel Oliveira, o Itamaraty disse que a Embaixada do Brasil em Bangkok vem realizando gestões junto ao governo cambojano e prestando a assistência consular cabível, com base na Convenção de Viena sobre Relações Consulares e no “Protocolo Operativo Padrão de Atendimento às Vítimas Brasileiras do Tráfico Internacional de Pessoas”.

De acordo com a pasta, o “traslado de restos mortais de brasileiros falecidos no exterior só está previsto em situações excepcionais”, detalharam. “As ações deste Ministério se fundamentam no disposto no art. 257 do Decreto nº 9.199/2017 e no Decreto nº 12.535/2025, em fase de regulamentação.”

(Sob supervisão de Edu Oliveira)

Rebeca Nicholls é estagiária do digital da Itatiaia com foco nas editorias de Cidades, Brasil e Mundo. É estudante de jornalismo pelo Centro Universitário de Belo Horizonte (UNIBH). Tem passagem pelo Laboratório de Comunicação e Audiovisual do UniBH (CACAU), pela Federação de Agricultura e Pecuária de Minas Gerais (Faemg) e pelo jornal Estado de Minas

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