Um brasileiro pode ser preso nos Estados Unidos após morar quase cinco anos em um hotel de Nova York pagando apenas 200 dólares (R$996, na cotação atual). Mickey Barreto, natural do Rio Grande do Sul, morou no hotel New Yorker, no coração de Manhattan.
A informação é do jornal The New York Times. Em junho de 2018, o brasileiro se hospedou no hotel. Porém, diferente dos outros, ele não saiu na manhã seguinte, e transformou aquele quarto em uma residência por cinco anos, sem pagar nada a mais.
Barreto, que hoje tem 49 anos, morava na Califórnia antes de residir no hotel. Para morar no quarto, ele usou uma lei local de aluguel que previa que o hóspede poderia se tornar morador permanente se solicitasse um aluguel com desconto. No caso, o quarto se tornaria uma espécie de apartamento.
O New Yorker era um dos hoteis mais desejados de Manhattan. O quarto em que Barreto ficou era pequeno, com menos de 18 metros quadrados, decorado com carpete marrom e dourado. Há também camas, uma televisão de 42 polegadas e um armário.
Ainda segundo o New York Times, Barreto oscila entre o lúcido e o instável. Ele sofre com ataques de pânico e convulsões, mas nunca foi diagnosticado com doença mental. Ele alega ser o chefe de uma tribo indígena que ele fundou no Brasil, além de ser neto de Cristóvão Colombo, aquele que descobriu a América.
No dia seguinte que alugou o quarto, Barreto entregou uma carta ao gerente solicitando o aluguel do quarto por seis meses, mas foi negado. Ele deveria tirar os pertences até o meio-dia, mas não o fez e entrou na Justiça contra o hotel.
Na declaração, feita no dia 22 de junho de 2018, ele citou leis estaduais, códigos locais, e até mesmo um processo judicial. Na audiência, ele acabou ganhando o processo, já que não havia representantes do hotel. Assim, ele retornou ao quarto como residente do hotel.
Mas Barreto não parou por aí. Dias após a decisão, ele, junto da esposa, leu o processo e não achou nenhuma ordem de aluguel, limite de estadia e nada do tipo, mas notou que era mencionada a palavra posse. Ele, então, ligou para o tribunal e pediu para que alguém explicasse o que significava o termo.
Ele descobriu, então, que seria o dono do prédio, se obtivesse a posse, e não apenas locatário. Assim, procurou advogados para tentar passar o quarto para o seu nome, mas descobriu que o New Yorker não era dividido por quartos. Ele, então, decidiu registrar tudo. Barreto várias dificuldades ao longo do caminho, mas continuava tentando ter a posse do local.
Enquanto isso, os proprietários do hotel tentavam despejar o brasileiro, mas não conseguiram. Quando Barreto tentou protocolar a escritura do hotel pela sétima vez, conseguiu o que queria e se tornou proprietário do New Yorker.
Foi assim que ele se tornou o dono de um prédio de 111 mil metros quadrados, em maio de 2019. No entanto, dias depois, advogados do hotel foram à Justiça alegando que Barreto teria ‘roubado’ o título de proprietário do hotel. O juiz responsável pela ação concordou e afirmou que a escritura era “forjada em todos os sentidos”.
Barreto continuava sendo residente legal do hotel, mesmo após a decisão do juiz. Ele continuou morando no local, mas se recusou a assinar um contrato ou a pagar um aluguel. Por isso, em 2023, ele foi despejado.
Os advogados do hotel continuaram a entrar na Justiça contra Barreto alegando fraude, desacato e outras acusações e, em fevereiro deste ano, Barreto foi preso. Ele responderá por 24 acusações, sendo 14 por fraude criminal.
Agora, ele aguarda o julgamento no Supremo Tribunal do Estado de Nova York e pode ficar vários anos preso, caso condenado.