Jovens chinesas estão utilizando aplicativos de conversa com inteligência artificial para criar relacionamentos amorosos com chatbots personalizados.
Pela primeira vez na história, a tendência apresenta a possibilidade de humanos namorarem um robô, e levanta questões sobre a solidão, a ética das plataformas e a relação com a tecnologia.
O aplicativo Wantalk, desenvolvido pela Baidu, é um dos mais populares, permitindo que as usuárias escolham a profissão e o rosto do namorado virtual.
Com milhões de usuários, o aplicativo atrai principalmente mulheres jovens. Esses relacionamentos podem durar mais de um ano, oferecendo personalidades específicas e interações “ao vivo”, 24 horas por dia.
As usuárias podem conversar com seus “namorados virtuais” através de mensagens de texto, voz e até mesmo videochamadas.
Na maioria dos casos, os aplicativos são gratuitos com exibição de anúncios durante as interações, sendo uma estratégia para monetização dos apps.
As mulheres envolvidas relatam a importância emocional desses relacionamentos. Elas tratam os chatbots como verdadeiros amores - no período da “modernidade líquida”, descrita por Zygmunt Bauman, em que a sociedade se vê cada vez mais distantes e sozinhas na era digital.
Durante o isolamento social imposto pela pandemia de Covid-19, em 2021, o Japão, vizinho da China, criou o Ministério da Solidão para combater os crescentes casos de pessoas sozinhas, especialmente idosos, que afetam a saúde pública.
Ética
Apesar de preocupações legais sobre o uso de dados pessoais, a tendência parece crescer na China, com mulheres interagindo com seus companheiros virtuais em cafés e até mesmo planejando piqueniques.
Há receios sobre o uso inadequado e não autorizado dos dados, ameaças à segurança cibernética e potenciais impactos na saúde mental dos usuários devido à manipulação emocional.
A falta de regulamentação clara e de normas de transparência contribui para o ambiente ético incerto em torno dessas práticas de compartilhamento de dados com aplicativos de inteligência artificial.
Cena de filme
A relação amorosa entre humanos e a inteligência artificial foi premeditada pelo filme “Her” (2013), de Spike Jonze.
No enredo, o protagonista, interpretado por Joaquin Phoenix, desenvolve um relacionamento amoroso com um sistema de inteligência artificial, com a voz da atriz Scarlett Johansson.
Na época do lançamento, o filme chamou atenção ao apresentar essa possibilidade “distópica” em um futuro que parecia distante, há 10 anos atrás.
A obra mostra humanos estabelecendo conexões profundas e emocionais com entidades virtuais, ao ponto de serem absolutamente dependentes da tecnologia.
Assim como na ficção, a tendência está se tornando cada vez mais comum entre os jovens na China, onde as relações humanas são cada vez mais difíceis de estabelecer em uma sociedade multiconectada.
*Com informações da AFP
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