O presidente da Argentina, Javier Milei, enfrenta nesta quarta-feira (24) a primeira greve geral em apenas 45 dias de governo.
A paralisação foi convocada pelas centrais sindicais contra as medidas econômicas do governo, que inclui um rígido ajuste fiscal e reformas de leis trabalhistas que estavam em vigor há décadas.
O decreto presidencial de Javier Milei, anunciado nos primeiros dias de governo, também limita o direito à greve e afeta o financiamento dos sindicatos.
O governo tenta reverter uma grave crise econômica, com uma inflação recorde de 211% ao ano.
O mega Decreto de Necessidade e Urgência (DNU), com 366 artigos, introduz várias mudanças na legislação trabalhista argentina, em especial sobre o direito à greve.
Milei incentiva demissões de grevistas por justa causa e exige que 75% do orçamento da União seja destinado para serviços considerados essenciais, como educação, transporte e alimentação.
O DNU também regulamenta assembleias trabalhistas, condiciona a arrecadação de fundos sindicais e reduz indenizações por demissão.
As centrais sindicais questionaram a constitucionalidade do capítulo trabalhista do mega decreto na Justiça, que suspendeu seus efeitos provisoriamente.
O governo recorreu da decisão, e o caso foi elevado à Suprema Corte, que atualmente está em recesso.
“O país não está a venda”
No início da manhã desta quarta-feira (24), manifestantes começaram a se reunir no centro de Buenos Aires com faixas que carregavam o slogan: “O país não está à venda”.
A greve vai durar 12 horas, contando a partir do meio-dia (mesmo horário de Brasília). A manifestação principal acontece em frente ao Congresso Nacional da Argentina, mas a greve sindical se estende para todo o país.
O transporte aéreo foi um dos primeiros setores impactados. Antes dos protestos, a maior companhia aérea do país, Aerolíneas Argentina, também cancelou todos os voos agendados para esta quarta-feira (24).
“Estou indignado, já perdi dinheiro vindo para cá e a noite no hotel. Não sei se me devolverão”, disse Sergio González à AFP no Aeroparque, em Buenos Aires, ao saber que havia perdido seu voo para Mendoza.
Governo contra-ataca
A greve geral é convocada pela maior central sindical da Argentina, a Confederação Geral do Trabalho (CGT), de orientação peronista, com o apoio da Confederação dos Trabalhadores Argentinos (CTA). Juntos, eles esperam reunir milhares de manifestantes.
A ministra da Segurança, Patrícia Bullrich, classificou os organizadores do protesto como “sindicalistas mafiosos, gestores da pobreza”, em publicação na rede social X (ex-Twitter).
A ex-candidata à Presidência pela chapa “Juntos por el Cambio”, do ex-presidente Mauricio Macri, também culpou “juízes cúmplices e políticos corruptos, defendendo os seus privilégios” contra as reformas promovidas por Milei.
Bullrich ficou em terceiro lugar no primeiro turno das eleições presidenciais da Argentina e anunciou apoio a Milei na reta final da corrida. O candidato ultra-liberal venceu o peronista Sergio Massa no segundo turno, com uma vantagem de 55,69% a 44,30%.
Essa é a primeira manifestação nacional contra o governo de Javier Milei após a posse, em 10 de dezembro de 2023.
O presidente, do partido “La Libertad Avanza”, tenta tenta reverter a grave crise econômica com medidas drásticas.
Em dezembro, o consumo na Argetina caiu 13,7%, segundo a câmara empresarial CAME. A produção nas pequenas indústrias reduziu 26,9% no mesmo período, indica a pesquisa.
Além disso, algumas decisões de Milei, como a desvalorização de 50% dos preços dos combustíveis, reduziram drasticamente o poder de compra dos trabalhadores e aposentados.
No último sábado (20), o presidente também anunciou o cancelamento benefícios sociais de mais de 27 mil argentinos por irregularidades em programas relacionados à empregabilidade.
No entanto, diversas pesquisas de opinião mostram que o presidente mantém uma “imagem positiva” entre 47% e 55% da população argentina.
“O que a greve de quarta-feira (24) vai mostrar é que há duas Argentinas. Há uma Argentina que quer ficar para trás, no passado, na decadência”, disse Milei.
*Com informações da AFP
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