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O que está acontecendo na França e quais os motivos dos protestos? Respondemos

Saiba também quem é Nahel M., cuja morte foi estopim para ondas de violência na França

Polícia é alvo de muitos protestos na França

Desde o início desta semana, a França vive como em um “barril de pólvora”. Ondas de protestos muito violentos acontecem nas ruas das principais cidades franceses e fazem com que o país pare para entender o que está acontecendo. O presidente Emmanuel Macron cancelou visitas de Estado por conta dos distúrbios, eventos também foram adiados e todas as noites centenas de pessoas vão às ruas protestar.

Mas o que está acontecendo na França? E quais os motivos de protestos tão violentos? A resposta está na indignação com a morte um jovem cuja família era de origem argelina. Ele foi baleado durante uma abordagem policial quando dirigia um carro alugado em Nanterre. O incidente provocou um debate sobre o racismo policial em um país onde 13 pessoas morreram em circunstâncias semelhantes em 2022.

A versão inicial da polícia indicava que o jovem, que já havia se envolvido com agentes em casos semelhantes, havia tentado atropelar os policiais com o carro. Mas, um vídeo amador amplamente divulgado mostrou que ele foi executado à queima-roupa.

Preocupação mundial com o racismo

A ONU pediu na sexta-feira às autoridades francesas que lidem seriamente com os “profundos” problemas de “racismo e discriminação racial” em suas forças de segurança.

O Ministério das Relações Exteriores da França respondeu que essas considerações eram “totalmente infundadas”.

Mounia, mãe da vítima, disse à emissora France 5 que não culpa a polícia como um todo, apenas o policial que matou seu filho.

A Justiça decretou a prisão preventiva por homicídio doloso do policial de 38 anos responsável pelo disparo, que, segundo seu advogado, pediu “desculpas à família” de Nahel.

Quem era Nahel

Nahel M. é lembrado por pessoas próximas como um “garoto tranquilo” que às vezes estava “no limite”, mas não era muito diferente de tantos outros jovens da periferia. O menino de 17 anos foi criado por sua mãe em Nanterre, uma periferia no oeste de Paris. Era fã de rap e de motocicletas.

“Nahel era um garoto tranquilo. Cometeu crimes, sim, mas em que mundo isso é uma desculpa para matá-lo? Você sabe como são os jovens de 17 anos”, suspira Saliha, uma moradora de Nanterre, de 65 anos.

“Nahel é filho de todos nós”, disseram na quinta-feira os participantes de uma marcha de homenagem que terminou em confrontos violentos com as forças de segurança.

Mounia, sua mãe, descreveu-o como seu “melhor amigo”. “Para mim, ele era tudo”, afirmou esta mulher, dilacerada, que se recusou a culpar o conjunto da polícia pela morte do filho.

“Garoto do bairro”

Sua morte teve eco para além das fronteiras francesas. Na Argélia, país de origem de sua família, o Ministério das Relações Exteriores expressou sua “consternação” com o ocorrido.

O jovem, que também era muito próximo da avó materna, trabalhava como entregador, segundo o advogado da família. Havia iniciado um “programa de inserção” com a associação Ovale Citoyen, que usa o esporte para acompanhar os jovens, e havia se associado ao clube de rúgbi de Nanterre.

Nahel M. não tinha antecedentes criminais, mas já havia passado por confrontos com a polícia por eventos parecidos com este que levou à sua morte, segundo o promotor de Nanterre. Por esse motivo, teve de comparecer a um tribunal da Justiça da Infância e da Juventude em setembro.

“Para mim, Nahel era o típico exemplo de um garoto de bairro que tinha abandonado a escola, que às vezes estava no limite, mas não um ladrão, e que tinha vontade de seguir em frente”, disse o presidente da Ovale Citoyen, Jeff Puech, ao jornal Sud-Ouest.

“Ia construir um novo futuro”, disse a associação no Twitter.

Há um mês, Nahel realizou o sonho de muitos jovens. Apareceu como figurante em um videoclipe gravado em Nanterre por uma estrela do rap francês. No vídeo, ele é visto fazendo o gesto característico de Jul, o cantor, que em suas redes sociais compartilhou o apelo para ajudar financeiramente a família de Nahel, o “irmãozinho”

AFP
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