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Verde que refresca: como a criação de áreas verdes está mudando o clima de Montes Claros

Quente durante o ano inteiro, o plantio de árvores têm feito diferença na cidade

Parque Sagarana recebe milhares de visitantes anualmente

Verões quentes com chuva e estação seca prolongada. Este é o clima que define Montes Claros como uma típica cidade do sertão mineiro onde o sorvete de Pequi e o chá gelado de Caju são procurados com frequência para amenizar a sensação térmica sufocante. Mas para além destas duas alternativas, nos últimos anos, as áreas verdes da cidade viraram verdadeiros refúgios até no inverno.

De acordo com o professor de meteorologia da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), Renan Milo, devido a localização geográfica da cidade, mesmo durante esta estação do ano as temperaturas não caem de forma brusca e, por isso, é comum encontrar os termômetros batendo na casa 26 graus chegando até 29 graus Celsius (ºC). No verão, a situação climática volta a se intensificar, porque “Montes Claros está numa região onde o sol passa no ‘Zênite’. Ou seja, o sol passa a pino e, por isso, nós temos 13 horas de sol por dia”, explica.

Milo ainda completa que, por estar rodeada de montanhas e há apenas 678 metros acima do nível do mar, a cidade não recebe grandes correntes de ar, o que contribui para a formação das ilhas de calor. Então, foi pensando em maneiras de como minimizar o desconforto da população que a prefeitura do município começou a investir na criação de microclimas.

Por meio da criação de áreas verdes e a arborização de ruas, calçadas e avenidas, a ideia é que bolsões de ar ajudem a diminuir a temperatura ambiente de regiões específicas. Um grande exemplo desta iniciativa, é o Parque Sagarana. Inaugurado em 2018, o espaço de 35 mil metros quadrados, que conta com pista de caminhada, playground para as crianças e mesas para confraternizações embaixo da copa de árvores, se tornou um dos locais mais visitados pelos montes-clarenses.

Ana Carolina Scarcella da Silveira, de 29 anos, e Tauã Lacerda Teixeira, de 26 anos, escolheram o local para a descobrir o sexo do bebê que eles aguardam. O casal, que visita com frequência o parque, relata que são muito ligados à natureza e que consideram o Sagarana um lugar familiar. “A gente gosta muito dessa parte relacionada à natureza, que faz muito a ver, com o que fala sobre a família, sobre a geração de filhos e a mãe natureza em si”, explica Tauã. Já Ana Carolina conta que o local foi escolhido por ser “calmo, tranquilo e fresco”.

Casal de grávidos descobriu no Parque Sagarana que esparam um menino

Do micro ao macro

Em parceria com a Universidade de Surrey, no Reino Unido, pesquisadores do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da Universidade de São Paulo (USP), chegaram à conclusão que áreas verdes podem diminuir em até 5 graus Celsius a temperatura no ambiente urbano. A informação foi divulgada na revista científica The Innovation.

No estudo realizado, 202 artigos científicos foram avaliados considerando as áreas de infraestrutura verde-azul-cinza (GBGIs) de várias cidades do mundo. Ou seja, parques, florestas urbanas, paredes verdes, telhados verdes e árvores que são classificados como infraestrutura verde, foram avaliados, bem como rios, lagos e corpos d´água, que são parte da infraestrutura azul, e edifícios, estradas e sistemas de drenagem, que são infraestrutura cinza.

Como resultado, os locais que registraram maior impacto de resfriamento do ar foram jardins botânicos, com máxima de 5 graus e mínima de 3,5 graus Celsius (ºC). Áreas úmidas, paredes verdes, árvores nas ruas e varandas com vegetação também contribuem para quedas de temperaturas, de acordo com a pesquisa.

Mão na massa! Ou melhor, na terra

É baseado nesta lógica, em que o microclima impacta o macro, que a Secretaria de Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (SEMMA) em Montes Claros regulamentou a doação de mudas de árvores nativas e frutíferas para moradores em 2022. “Nosso objetivo é incentivar a arborização urbana com essa doação. Colocar [árvores] em quintais, no seu passeio, na sua rua”, explica o secretário da pasta, Fabiano Oliveira.

Anualmente, cada cidadão pode solicitar a retirada de três mudas por endereço e CPF para plantar no município. De acordo com Oliveira, para atender de forma prática a demanda, ficam em estoque constante entre 2 mil a 3 mil mudas para pronta-entrega no Viveiro Municipal Professor Santos D’Angelo Neto, que está anexo ao Parque Guimarães Rosa. Espécies de aroeira salsa, ipê mirim, flamboyant, jabuticaba, caju e cajá são algumas das disponíveis.

A produção de mudas é realizada há mais de 20 anos no Viveiro de Montes Claros

Além da doação de mudas, o SEMMA também é responsável por oficinas voltadas para a educação ambiental. Realizadas no Parque Milton Prates, a ideia é que a população aprenda a fazer suas próprias mudas com sementes do Cerrado para que, de fato, plantem árvores. “Tem pessoas que não são muito conscientes e não plantam. Então, tudo isso é fundamental para que as pessoas não só ganhem uma muda e levem para casa”, finaliza o secretário.

Interessados em participar das oficinas devem comunicar a Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Montes Claros por meio do número (38) 2211-3339. Para solicitar a retirada de mudas de árvores, é necessário comparecer à Secretaria, localizada na Avenida Doutor José Corrêa Machado, 900, bairro Ibituruna - Montes Claros, com comprovante de endereço e carteira de identidade.

Jornalista formada pela PUC Minas. Já trabalhou no Jornal Marco, na Assessoria de Comunicação da Receita Federal e na Record TV Minas. Atualmente, é repórter multimídia na Itatiaia.