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Justiça determina reintegração de aluno negro expulso de instituição em JF

Família alega que ele reagiu a bullying de outro estudante, de pele branca, que foi suspenso por cinco dias. IF Sudeste ainda não foi notificado da decisão judicial.

Campus Juiz de Fora do Instituto Federal Sudeste de Minas Gerais (IF Sudeste MG)

“Não é possível mensurar o dano”, o relato é de Josiane Barbosa da Silva, mãe de Robson Luís, de 19 anos. Nesta semana, a juíza Laura Lima e Silva Mansur da 4ª Vara Federal de Juiz de Fora determinou que a reintegração imediata do curso de eletromecânica do Instituto Federal Sudeste de Minas Gerais (IF Sudeste MG).

O fato foi em 2023. Ele tinha 16 anos e cursava o primeiro ano de Eletromecânica no campus em Juiz de Fora. O motivo alegado foi que ele se envolveu em uma briga. Robson, que é negro, teve uma penalidade diferente do outro envolvido, de pele branca, que foi suspenso por cinco dias.

Na decisão, a juíza Laura Lima e Silva Mansur relata que “a expulsão, além de inadequada sob a ótica pedagógica, violou os princípios da igualdade, razoabilidade, isonomia e legalidade”. A magistrada considerou o relato da Defensoria Pública da União que evidenciava a conduta exemplar do aluno, por meio do histórico escolar.

A decisão da instituição pela expulsão, segundo a juíza, “não se coaduna com os valores e finalidades da educação pública, em especial quando aplicada contra menor em fase formativa, cuja conduta não é reincidente e foi motivada por um longo histórico de perseguições e agressões, conforme evidenciado pelas provas documentais e áudios já anexados ao processo”.

A Itatiaia entrou em contato com a assessoria de comunicação do IF Sudeste MG. Em nota, a instituição informou que ainda não foi oficialmente notificada, mas que, assim que ocorrer, a Reitoria comunicará o Campus Juiz de Fora para cumprimento. A gestão também afirmou que está cooperando para o cumprimento da decisão judicial, destacando que atendeu a um pedido de reunião feito pelo Compir.

Expulsão ocorreu após reação ao ataque de colegas

Em coletiva de imprensa nesta quarta-feira (25), a mãe contou que o filho sofria bullying há algum tempo tanto pela origem humilde, quanto pela cor da pele, e que o fato já tinha sido comunicado à secretaria. Na época, o Conselho Municipal para a Promoção da Igualdade Racial (Compir), denunciou o caso de racismo.

No dia do fato que levou à expulsão, a mãe relata que ele foi encurralado por um grupo em uma sala de aula e reagiu com um soco. Mesmo tendo boas notas, bom relacionamento e nenhum histórico de violência anterior, ele foi expulso e avisado sobre a penalidade na volta às aulas logo após as férias de julho.

Josiane relata como a família recebeu a notícia. “Muita dor. Uma mistura de frustração, tristeza e revolta, porque a gente viu a impunidade, a injustiça, o preconceito, de se sentir menor. Naquela época, eu implorei para que a escola revisse o acontecido, e em nenhum momento encontramos o amparo, a humanização da escola”

Após ser expulso, o aluno foi acolhido na escola de origem, a Escola Estadual Antônio Carlos, e atualmente cursa Ciências Contábeis.

Ouça a matéria de Désia Souza.

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Désia Souza é jornalista pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), onde também cursou pós graduação em “Mídia e Cidadania” e mestrado em “Comunicação e Poder”. É coordenadora de jornalismo na Itatiaia Juiz de fora, onde também atua como âncora e repórter.
Mayara Fernandes é natural de Juiz de Fora, graduanda em jornalismo pela Faculdade de Comunicação da UFJF. Gosta de ver filmes e ler livros. Estágiaria Web e Design Gráfico em Juiz de Fora desde abril de 2024.