O tradicional desfile das escolas de samba de Juiz de Fora não será realizado em Juiz de Fora. A confirmação veio nesta terça-feira (7) com anúncio da Fundação Alfredo Ferreira Lage (Funalfa) do lançamento de um edital de fomento para qualificar as agremiações ao longo deste ano.
Conforme a Prefeitura, é uma forma de superar os impeditivos do desfile em 2025. O Ministério Público abriu um inquérito que segue tramitando para apurar a prestação de contas do Carnaval 2023. Enquanto isso, recomendou que a Funalfa se abstivesse de realizar qualquer tipo de repasse diretamente à Liga das Escolas de Samba de Juiz de Fora (Liesjuf), inviabilizando a preparação das agremiações, além da falta de tempo hábil para montar toda a estrutura que o evento demanda e da indefinição do local do evento.
A Itatiaia conversou com Fernando Luiz Baldioti, dirigente da Escola de Samba Real Grandeza e um dos fundadores da Liesjuf sobre o impacto do cancelamento e as expectativas para retornar em 2026.
Os desfiles em Juiz de Fora foram retomados em 2023, após seis anos sem ser realizados, incluindo o período de pandemia da covid-19.
Sem as escolas, o foco do Carnaval 2025 em Juiz de Fora será a programação de blocos e shows.
Tristeza e frustração, destaca dirigente
Para Fernando Luiz Baldioti, dirigente da Real Grandeza e um dos fundadores da Liesjuf, a comunidade carnavalesca recebeu com tristeza o cancelamento do desfile em 2025.
“Como presidente do conselho deliberativo da Escola de Samba Real Grandeza, é com muita tristeza que a gente vê essa situação do Carnaval de Juiz de fora. Infelizmente não teremos a folia, e a gente sabe que para o sambista a não realização dos desfiles carnavalescos gera uma frustração total. Mas temos que acatar a decisão e organizar, fazer o trabalho necessário para que o ano que vem, em 2026, possamos ter as escolas desfilando na passarela do samba”, falou à Itatiaia
Apesar da frustração pelo cancelamento do desfile das Escolas de Samba este ano, Baldiotti, destaca que a iniciativa da Prefeitura de lançar o edital de Fomento é positiva. Ele considera que vai resgatar o público mais jovem para dentro das quadras, que ficam nas comunidades.
Criar uma nova mentalidade, destacam presidentes de agremiações
O edital de fomento para qualificação do carnaval de Juiz de Fora, fará o incentivo para aproximação das agremiações das comunidades e a qualificação da mão de obra, como destaca Marcos Tadeu, presidente da Mocidade Alegre de São Mateus.
“Com esse fomento, teremos uma visibilidade maior do que vamos apresentar, vamos trabalhar o ano inteiro na confecção de fantasias, nos projetos sociais. Para que, carnaval de 2026, vamos ter escolas qualificadas e um grande desfile retomando a velha tradição de Juiz de Fora de fazer grandes carnavais”.
Marcos Tadeu, presidente da Mocidade Alegre de São Mateus, reiterou que o edital de fomento direciona o trabalho no contexto carnavalesco.
"É um momento importante, vamos sair de medidas paliativas, que acabam não resolvendo o problema para medidas mais duradouras, Um edital de fomento vai tratar dos principais problemas que nós temos, a formação de profissionais alegoristas, aderecistas, costureiras, percussão, para que, em 2026, seja um retorno do tamanho que o do Carnaval de Juiz de Fora merece”.
Eduardo Crochet enumerou as possibilidades de resultados para as agremiações e para o evento no geral com esta abordagem via fomento cultural.
“A gente consegue qualificar o que vamos apresentar no ano que vem, tanto a gestão quanto o envolvimento das escolas de samba com as comunidades. Refazer esse vinculo, trazer novos integrantes, ritmistas, passistas, pessoas que vão estar abrilhantando os desfiles e sendo qualificadas ao longo do ano. Também melhorando as estruturas das quadras e escolas de samba, transformando em verdadeiros pontos de cultura. A gente vai ter uma qualificação do Carnaval ao longo do ano, criando uma nova mentalidade, um novo momento na história desta tradição que a gente tem em Juiz de Fora”.
Contas do Carnaval 2023 sob investigação do MPMG
Em novembro, o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) instaurou inquérito civil para apurar a prestação de contas do Carnaval 2023 de Juiz de Fora.
Conforme a Promotoria de Justiça de Defesa do Patrimônio Público de Juiz de Fora, o objetivo é apurar a regularidade das despesas realizadas pela Liga das Escolas de Samba de Juiz de Fora (Liesjuf) com os recursos recebidos da Prefeitura de Juiz de Fora.
No procedimento, segundo o órgão, foi constatada evidências de fraudes na prestação de contas relativas a Folia de Momo de 2023, de repasse via Termo de Colaboração nº 05.2022.006 decorrente do Proc. Administrativo 18.886/2022, pela apresentação pela LIESJUF de notas fiscais de serviços que não foram efetivamente prestados.
Devido ao caso, a promotoria expediu recomendações à Funalfa:
- de apurar a conduta da Liesjuf de apresentação de notas fiscais por serviços não prestados em relação ao Carnaval 2023;
- que se abstenha de fazer transferências de recursos à Liesjuf para o Carnaval 2025 e outros eventos, até definitiva apuração e ressarcimento aos cofres públicos de danos eventualmente apurados (sem prejuízo de viabilização de repasses direto às agremiações carnavalescas mediante formalização de termo de colaboração e prévio chamamento público);
- e que sejam fixados em futuros contratos ou termos de colaboração para eventos com data certa, incluindo carnaval, prazos razoáveis de vigência e prestação de contas, e mesmos para a prestação de contas não devem ultrapassar 90 dias contados dos festejos, de forma a agilizar o controle dos gastos públicos.
Na época, em nota, a Liesjuf informou que colaborava com o MPMG sempre que solicitada e que a prestação de contas de 2023 foi aprovada, cumprindo o trâmite e dentro dos prazos da Lei 13.019.
Segundo a nota, “a Liga não tem como se manifestar sobre decisões do MP, porque, ao contrário do grande público, que tem absorvido informações distorcidas e antecipando decisões, desconhecemos o motivo de tal denúncia. Sempre defendemos, e nos posicionamos no início das negociações, que as escolas receberam diretamente os recursos da Funalfa, conforme é recomendado pelo MP” .
Até 2024, segundo a nota, não foi possível eximir a Liga do compromisso, já que a maioria das escolas encontravam-se sem condições de cumprir a legislação atual, devido às certidões negativadas, o que as impossibilitava de receber recursos públicos.