No Dia Mundial da Saúde Mental, celebrado em 10 de outubro, ganha força o debate sobre o bem-estar emocional dos atletas de alto rendimento. Em um cenário de crescente exposição nas redes sociais e pressões intensas por desempenho, iniciativas tecnológicas têm se mostrado aliadas na promoção de ambientes mais seguros e saudáveis. Um exemplo é o projeto SafeSport, desenvolvido pela Sportradar, em parceria com a Tennis Data Innovations (TDI) e a Arwen AI.
Lançado em 2024, o SafeSport tem como objetivo proteger tenistas profissionais de abusos e ataques virtuais. Utilizando inteligência artificial em tempo real, o sistema identifica e oculta automaticamente comentários ofensivos nas redes sociais dos atletas.
Segundo Felippe Marchetti, diretor de Integridade da Sportradar para a América Latina, a tecnologia já analisou mais de 3,1 milhões de comentários, classificando cerca de 162 mil como severos, que foram ocultados para reduzir a exposição dos jogadores a discursos de ódio. O serviço contempla os 250 melhores tenistas de simples e 50 de duplas, além de monitorar os canais digitais oficiais da ATP.
Além da filtragem de conteúdo, o projeto investe em educação e conscientização digital, orientando atletas sobre ameaças virtuais, fraudes, falsificação de identidade e deepfakes. No primeiro ano de operação, o time de integridade investigou mais de 3.300 casos, identificou 68 responsáveis e encaminhou 28 deles para autoridades competentes.
“O SafeSport representa um avanço concreto na proteção à saúde mental e ao bem-estar dos atletas, mostrando como a tecnologia pode ser usada para criar ambientes mais seguros e responsáveis no esporte”, destaca Marchetti.
O diretor ressalta que o tema é especialmente sensível no Brasil. Um levantamento conduzido pela ex-nadadora Joanna Maranhão, integrante da Comissão de Ética do Comitê Olímpico do Brasil (COB), revelou que 93% dos atletas brasileiros já sofreram algum tipo de assédio ou violência (física, sexual ou psicológica). O dado, muito superior à média global, acende um alerta sobre a necessidade de ampliar o combate às violências, inclusive no ambiente digital.
Saúde mental e performance: uma relação direta
A importância da saúde mental para o desempenho esportivo tem sido cada vez mais reconhecida. De acordo com um estudo publicado no British Journal of Sports Medicine, situações de abuso — psicológicas, emocionais ou sociais — aumentam significativamente o risco de ansiedade, depressão e fadiga, comprometendo a concentração, a recuperação física e a tomada de decisão durante as competições.
Casos recentes reforçam essa percepção. A tenista Bia Haddad Maia decidiu interromper sua temporada para cuidar do bem-estar emocional, decisão apoiada por Gustavo Kuerten (Guga), ex-número 1 do mundo.
Romper tabus e normalizar o cuidado
Para Marchetti, falar abertamente sobre saúde mental é essencial para quebrar o estigma que ainda cerca o tema no esporte de alto rendimento. “Durante muito tempo, o assunto foi tratado como tabu. Hoje, entendemos que o desempenho não depende apenas do preparo físico, mas também de fatores emocionais e psicológicos”, explica.
Atletas enfrentam rotinas intensas de treinos, viagens e cobranças, além da exposição constante na mídia e nas redes sociais. Esse ambiente de pressão reforça a importância de normalizar o cuidado com a mente — uma tendência que vem ganhando força com nomes como Simone Biles, Naomi Osaka, e os brasileiros Richarlison e Yuri Alberto, que têm falado abertamente sobre o apoio psicológico como parte fundamental de sua preparação.
Tecnologia como aliada
A Sportradar vem apostando em soluções baseadas em inteligência artificial para identificar e remover mensagens ofensivas antes que cheguem ao atleta, reduzindo o impacto emocional causado por ataques virtuais e fortalecendo a segurança digital.
“A tecnologia sozinha não resolve o problema, mas é uma aliada fundamental dentro de uma estratégia mais ampla de proteção e conscientização”, afirma Marchetti. “Ela permite monitorar padrões, agir de forma preventiva e gerar dados que ajudam a responsabilizar quem está por trás dos abusos.”
O executivo conclui que o combate ao cyberbullying e aos discursos de ódio no esporte é um passo essencial para garantir que o ambiente digital reflita os valores de respeito e fair play que o esporte representa.