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Prata pelo Brasil, Caio Bonfim desabafa após ‘anos sendo xingado na rua': ‘Senti a mão de Deus’

Em Paris 2024, após anos de superação, atleta subiu no segundo lugar mais alto do pódio na marcha atlética

Caio Bonfim agradece a Deus pela medalha de prata em Paris 2024

Minutos após ter conquistado a medalha de prata olímpica na prova de 20km da marcha atlética, o brasileiro Caio Bonfim desabafou sobre os anos em que foi xingado por praticar o esporte e agradeceu a Deus pelo “suporte” nesta quinta-feira (1), em Paris.

Treinado pelo pai e filho de uma mulher oito vezes campeã brasileira da marcha atlética, Caio Bonfim reuniu forças dentro de casa, ainda que, fora dela, o preconceito tomasse conta da sua vida.

“Quando eu atravessei em 13º em Tóquio, falei comigo mesmo: ‘E aí, cara? É isso aí que você pode fazer, ficar entre os 10 do mundo e tal. É lindo, maravilhoso, mas você pode mais’. Fiz um compromisso comigo, sabe? O cara perguntou se foi difícil essa prova. Falei: ‘Não, difícil foi desde o dia em que fui marchar na rua pela primeira vez e fui xingado’. Mas falei: ‘Eu estou pronto, pai, eu quero ser marchador’”, disse, em entrevista emocionante à CazéTV.

Aos prantos, Caio Bonfim ressaltou o apoio da família desde o primeiro dia e relembrou as suas outras três participações em Jogos Olímpicos. Em Londres 2012, ele terminou longe da ponta, apenas na 33ª posição. No Rio 2016, Caio bateu na trave e ficou no 4º lugar. Em Tóquio, o marchador ficou em 13º lugar.

“Quando eu falei isso para o meu pai, foi o dia em que decidi ser xingado sem ter problema. Ali, eu larguei para esse dia. São quatro Olimpíadas. Terminei carregado numa cadeira de rodas em 2012, fiquei em quarto no meu país [2016], com a minha família, 13º [em 2020] e, hoje, aqui, medalhista olímpico e poder falar que esse momento é eterno. Tem que ter muita coragem para viver de marcha atlética. Eu sou medalhista olímpico, valeu a pena pagar o preço”, disparou.

Caio Bonfim conquistou medalha de bronze para o Brasil em Paris 2024

Inspiração na família

“Quando eu liguei a TV de madrugada lá em Pequim para ver o [José Alessandro] Baggio ser 14º, o Mário [José Júnior] em Sydney, o [Sérgio] Galdino novinho em 1996, uma Olimpíada que minha mãe fez índice e não foi. Em 2012, eu falei: ‘Mãe, quem disse que você não é atleta olímpica?’. Hoje, eu pude falar para o meu pai e para a minha mãe que nós somos medalhistas olímpicos”, completou Bonfim.

Força veio da ‘mão de Deus’

Durante a entrevista, Caio disse ter sentido a “mão de Deus” no decorrer da prova, o que o motivou a conquistar a medalha mais importante da sua vida.

“Não é fácil. No meio da prova, você olha um, dois, três, quatro, cinco. ‘Meu Deus, ainda estou em décimo, chegou a hora de me mostrar aqui’. Você tem que lidar com tanta coisa, mas eu senti a mão de Deus me segurando e falando: ‘Vamos, cara’. A prova parece que estamos brincando de rebolar, mas são 20km”, encerrou.

Pódio na marcha atlética

Brian Pintado, do Equador, ficou com a medalha de ouro. A medalha de bronze ficou com o espanhol Álvaro Martín. Max dos Santos, outro brasileiro na prova, ficou em 28º lugar.

Mãe atleta e pai treinador

Gianette Bonfim, mãe de Caio, foi atleta e oito vezes campeã da marcha atlética. Ela chegou a ter índice olímpico para participar dos Jogos Olímpicos de 1996, mas não competiu e foi a primeira incentivadora do filho no esporte. Ele é treinado pelo pai, João Sena.

Caio treina no Distrito Federal, no estádio Augustinho Lima. Ele e a família organizam e administram o Centro de Atletismo de Sobradinho, organizado pela família Bonfim.

Antes de se dedicar exclusivamente ao atletismo, Caio se aventurou em outro esporte. O brasileiro chegou a fazer parte das categorias de base do Brasiliense, time do Distrito Federal.

Drama na infância

Caio precisou superar o primeiro desafio da vida logo aos sete meses. O atleta teve meningite aos sete anos de idade, além de duas pneumonias. Por não derivados de leite devido a uma intolerância à lactose e pela falta de cálcio, os ossos se fragilizaram. Os resultados foram as pernas tortas.

Caio foi operado quando tinha três anos e teve as pernas realinhadas. Os médicos consideravam difícil o menino voltar a caminhar.

Caio é o principal nome da marcha atlética no Brasil. Está na quarta Olimpíada.

A virada

Caio começou a se dedicar para a Marcha Atlética em 2007, aos 16 anos. O atleta dividia os treinos de atletismo com o futebol.

Com o apoio dos pais, foi campeão brasileiro nas categorias de base. A evolução no esporte foi premiada com feitos inéditos como o 4º lugar na Rio 2016, além de destaque em Mundiais e Jogos Pan-Americanos.

A prova

O brasileiro começou a prova com o maior ritmo entre todos os atletas. Logo nos primeiros quilômetros chegou à liderança e abriu vantagem sobre o pelotão que vinha atrás.

Neste momento, ele sofreu duas advertências da arbitragem. Se tomasse a terceira, sofreria punição de dois minutos e estaria fora de uma disputa pelo pódio.

Por garantia, Caio Bonfim diminuiu o ritmo e permitiu a chegada do pelotão da frente. Foi onde ele ficou até a reta final na prova, ao lado dos principais concorrentes.

No quilômetro 14, o brasileiro voltou à liderança, acompanhando de perto pelos rivais. A partir daí, se formou um pelotão menor. Caio Bonfim ficou até o fim entre os primeiros, mas o equatoriano disparou no final para ficar com o ouro.

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Leonardo Garcia Gimenez é repórter multimídia na Itatiaia. Natural de Arcos-MG e criado em Iguatama-MG. Passou também pela Record Minas.
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