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Santa Marina, clube paulista centenário, pode ser despejado após batalha judicial

Coação, patrimônio histórico, impostos e acordos fazem parte do histórico judicial entre as partes

Acervo do Santa Marina na sede em Águia Branca

Time amador centenário de futebol, Santa Marina Atlético Clube, poderá ser despejado da sede na Água Branca, Zona Oeste de São Paulo, após disputa na Justiça com a multinacional francesa Saint-Gobain.

O espaço utilizado pelo clube é de propriedade da empresa e ocupa 9,6 mil m² de uma área com mais de 250 mil m².

Em 2017, o Santa Marina e a Saint-Gobain iniciaram a batalha judicial. Com as resoluções, a empresa teve reconhecido o direito de reaver a parte do terreno utilizado pelo clube, mas teria que manter o acervo histórico do Santa Marina até que os estudos que determinem sua importância na história sejam concluídos.

A defesa do clube alega que arca com as despesas do espaço e que tem direito total de acesso. Além disso, o Santa Marina diz que o representante do clube que assinou o contrato de empréstimo foi coagido pela Saint-Gobain.

Em entrevista ao G1, Caio Marcelo Dias, advogado do clube, explicou a relação entre o funcionário e a multinacional. “Francisco, presidente do clube à época, trabalhava na vidraria Saint-Gobain. Foi bem na época que ele assinou o contrato. Ele foi coagido a assinar este contrato de comodato, porque, se não, eles iriam mandá-lo embora. Quando ele assinou, em 2007, [...] ele foi mandado embora [meses depois]”, relatou.

A Saint-Gobain também se pronunciou ao portal. “Ao longo de todos os anos foram oferecidas várias alternativas, inclusive o uso do imóvel por meio de um contrato de comodato, que acabou por expirar em 2019. A Saint-Gobain propôs um novo acordo em 2021, que garantiria a permanência do SMAC no local, como tem ocorrido nos últimos anos. Infelizmente os representantes do Clube se mostraram irredutíveis e declararam que não estão abertos a essa alternativa, demandando outras ações que estão fora do tema em questão”.

Em 2021, uma reintegração de posse em favor da multinacional estava marcada, mas o Ministério Público suspendeu a ação alegando que o acervo histórico do clube seria desfeito. A Saint-Gobain pretendia destinar o espaço para outras finalidades.

Atualmente, o espaço do Santa Marina é usado por uma escolinha de futebol. Com mensalidades de R$ 70,00 e funcionamento em quatro dias na semana, esta é a principal fonte de renda para o clube. O campo também é alugado para jogos de futebol de várzea.

Se a reintegração de posse acontecer, as atividades serão paralisadas.

Confira a nota da Saint-Gobain na íntegra:

“Ao longo de todos os anos foram oferecidas várias alternativas, inclusive o uso do imóvel por meio de um contrato de comodato, que acabou por expirar em 2019. E, embora tenha recebido o parecer judicial favorável confirmando a posse do imóvel, e que ainda permitia a retomada do espaço então ocupado pelo SMAC, a Saint-Gobain buscou mais uma vez o diálogo.

Junto ao Ministério Público e às lideranças do Clube, a Saint-Gobain propôs um novo acordo em 2021, que garantiria a permanência do SMAC no local, como tem ocorrido nos últimos anos. Infelizmente os representantes do Clube se mostraram irredutíveis, e declararam que não estão abertos a essa alternativa, demandando outras ações que estão fora do tema em questão.

O processo seguiu seu curso e, no mês de abril/2023, após vários recursos terem sido rejeitados em diversas instâncias judiciais, o Poder Judiciário determinou o cumprimento da ordem de reintegração da Saint-Gobain na posse à área ocupada pelo SMAC, que será cumprida na quarta-feira a partir das 08h. O Ministério Público está ciente da reintegração de posse e é importante ressaltar que será preservado no local o acervo histórico do Clube, até decisão definitiva do Poder Judiciário.

O Grupo Saint-Gobain, que atua há mais de 80 anos no Brasil e trabalha continuamente para o desenvolvimento do setor da construção no país, é pautado nos princípios de responsabilidade social e ambiental, e reitera seu empenho para a melhor solução possível”, diz a empresa.

Graduada em Jornalismo pela PUC Minas e repórter do portal Itatiaia Esporte. Cobre outras modalidades, especialmente vôlei.