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‘Era Tite’ na Seleção termina após novo fracasso e com muitas perguntas por responder

Treinador brasileiro mudou estilo de jogo às vésperas da Copa do Catar, insistiu em jogadores longe da melhor forma e improvisados e não conseguiu justificar a convocação de Daniel Alves

Jogadores da Seleção lamentam nova eliminação na Copa do Mundo, a segunda seguida com Tite como treinador

Enviado especial ao Catar - Logo após a eliminação da Seleção, a verdadeira função de Daniel Alves no grupo de Tite no Catar ficou evidente: psicólogo. Ele chegou a dizer que tocaria até pandeiro, numa resposta a uma charge publicada no Brasil, logo no início do torneio, mas isso não fará mais parte da delegação, que amarga mais um fracasso sob o comando de Tite, treinador que tem a maior sequência à frente do time canarinho em toda a história. Ele completou 81 jogos na derrota para a Croácia por 4 a 2, nos pênaltis, após empate sem gols no tempo normal e por 1 a 1 na prorrogação, nesta sexta-feira (9), resultado que determinou a eliminação brasileira nas quartas de final.

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Depois de ficar sentado no meio de campo, de onde apenas assistiu a disputa de pênaltis, pois não cobrou nem o primeiro, geralmente tarefa do melhor batedor, nem o quarto, que se perdido, como aconteceu, determinaria a eliminação brasileira, Neymar foi amparado pelo “psicólogo” Daniel Alves, que não entrou em campo num jogo em que o Brasil teve laterais improvisados dos dois lados.

Isso porque a esquerda se transformou num drama, já que Alex Sandro lesionou o quadril na segunda partida da fase de grupos, e Alex Telles teve que ser cortado após grave contusão no joelho na derrota de 1 a 0 para Camarões, na última rodada do Grupo G.

Mas a convocação de Daniel Alves foi apenas um dos problemas da Seleção numa Copa em que mais uma vez amarga a eliminação diante de um europeu, o que acontece desde 2006, na primeira edição após o penta.

Volante

Tite, que durante praticamente todo o ciclo entre a Copa de 2018 e 2022 escalou seu time com dois volantes, quase sempre Casemiro e Fred, e que sempre foi marcado por um futebol equilibrado, foi picado pela mosca da ofensividade pouco antes do Mundial do Catar.

E abriu seu time como nunca fez em sua carreira, nem em clubes nem na Seleção. A fase de grupos foi numa chave frágil, onde o Brasil se classificou com antecipação e sem se esforçar muito. E esse foi o enredo das oitavas, diante de uma frágil Coreia do Sul.

A primeira grande equipe enfrentada soube explorar a fragilidade brasileira no meio. Modric foi o maestro de uma Croácia que valorizou a posse da bola e mais especulou que qualquer outra coisa.

O desgaste físico dos croatas estava em campo, assim como o seu poder de concentração e a qualidade do seu meio. Tanto que a posse de bola deles foi maior que a do time de Tite, que teve muito mais chances de gols, apesar de a maioria delas em jogadas de bolas rebatidas dentro da área.

Além disso, um Raphinha sem a melhor condição seguiu no time justamente porque o treinador precisava de um meia-atacante que marcasse muito bem, isso para compensar a fragilidade do seu meio, pois Casemiro e Lucas Paquetá ficaram sobrecarregados diante dos croatas.

Num jogo em que o fator psicológico era fundamental, o analista brasileiro ficou no banco. Daniel Alves não jogou e só apareceu no telão do Education City Stadium quando consolou Neymar após a eliminação.

Alexandre Simões é coordenador do Departamento de Esportes da Itatiaia e uma enciclopédia viva do futebol brasileiro