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Empresa detecta 139 jogos suspeitos de manipulação; mas só três na elite

Sportradar tem acordo com a CBF desde 2017 para monitorar apostas esportivas; partidas na base e Estaduais encabeçam a lista

Zagueiro Bauermann , do Santos, é suspeito de envolvimento em casos de manipulação de jogos

A CBF tem um acordo, desde 2017, com a empresa Sportradar, com sede na Suíça, para o monitoramento de apostas esportivas e o cruzamento de informações que identifique possíveis manipulações em jogos de futebol por todo o país, desde a elite nacional até Campeonatos Estaduais e torneios de base.

Em 2022, 139 jogos de futebol no Brasil foram considerados suspeitos, segundo o relatório produzido pela Sportradar. Destes, segundo informação repassada pela empresa à Itatiaia, a “grande maioria foi em torneios de base e divisões menores nos Estaduais”.

Como os jogos suspeitos são repassados para as autoridades para uma investigação oficial, a empresa afirma não poder revelar quais são essas 139 partidas -- há também com a CBF um acordo de confidencialidade.

A Itatiaia apurou que pelo menos três partidas da elite nacional investigadas pelo Ministério Público de Goiás (MP-GO) na Operação Penalidade Máxima entraram no alerta da Sportradar, com dados sendo informados às autoridades. Mesmo assim, o relatório produzido pela empresa mostra que movimentos de apostas altas, que podem gerar desconfiança, ainda são produzidos em maior escala em divisões menores ou em jogos de base, onde o interesse público é menor.

Em escala global, o relatório da Sportradar, divulgado em março de 2023, mostrou que 775 jogos de futebol foram considerados suspeitos em 2022, em 92 países -- o Brasil e suas 139 partidas encabeçam a lista mundial, portanto.

Mas o detalhe que chama a atenção é que, nesses dados, apenas 17,5% foram em partidas de primeira divisão. São 30,5% em confrontos de segunda divisão, 29,15% na terceira divisão, 7,85% na base e 15% em torneios amadores organizados por federações nacionais.

Por isso que a enxurrada de casos na elite nacional que estão aparecendo na investigação dos promotores de Goiás tem assustado dirigentes de clubes, de federações e membros da Justiça desportiva. Porque essa não é a regra nesses casos.

Parceira de várias entidades desportivas e ligas, como a NBA, Uefa, MLB (liga de beisebol dos EUA) e Conmebol, a Sportradar se define como uma fornecedora global de soluções de integridade esportiva. Ela não é a única no mercado a oferecer esse tipo de serviço: recentemente a Federação Paulista de Futebol (FPF) trocou a Sportradar pela Stats Perform, com sede nos Estados Unidos.

A Operação Penalidade Máxima

O Ministério Público de Goiás ofereceu nova denúncia contra 17 pessoas no âmbito da Operação Penalidade Máxima II. Os denunciados são divididos em três núcleos: financiadores, apostadores e intermediadores. Seis jogadores estão denunciados nessa nova fase. A Itatiaia teve acesso à denúncia e detalha as argumentações do MP-GO.

Nove pessoas são investigadas por “dar ou prometer vantagem patrimonial ou não patrimonial com o fim de alterar ou falsear o resultado de uma competição desportiva”. Efetivamente, são as pessoas que abordaram os jogadores oferecendo valores para cometer pênalti ou ser punido com cartão. A pena de reclusão vai de dois a seis anos e multa.

Bruno Lopez de Moura, Ícaro Fernando Calixto dos Santos, Luís Felipe Rodrigues de Castro, Victor Yamasaki Fernandes, Zildo Peixoto Neto, Gabriel Ferreira Neris, Romário Hugo dos Santos, Pedro Gama e Matheus Phillippe Coutinho Gomes estão nessa categoria. Alguns deles são denunciados mais de uma vez - Bruno e Luís Felipe, por exemplo, foram enquadrados no mesmo artigo 13 vezes.

Os jogadores Eduardo Bauermann (Santos), Victor Ramos (à época na Portuguesa), Igor Carius (à época no Cuiabá), Paulo Miranda (à época no Juventude) e Fernando Neto (à época no Operário-PR) foram denunciados no Art. 41-C do Código Penal Brasileiro. A pena é de reclusão de dois a seis anos para quem solicita ou aceita vantagem ou promessa de vantagem para qualquer ato ou omissão destinado a alterar ou falsear o resultado de competição esportiva.

Aqui vale ressaltar que os jogadores não necessariamente receberam o dinheiro prometido. Victor Ramos, por exemplo, acertou os detalhes do acordo, mas não chegou a receber o dinheiro, pois a aposta não foi efetivada.

Outros quatro jogadores colaboraram com as investigações e não foram denunciados pelo MP-GO. Onitlasi Moraes Rodrigues Júnior (à época no Juventude), Kevin Lomónaco (Bragantino), Nikolas Santos de Farias (Novo Hamburgo) e Emilton Pedroso Domingues (Inter de Santa Maria) receberam valores e concordaram com a manipulação, mas auxiliaram o órgão público.

Kevin Lomónaco teria aceitado vantagem indevida em um jogo do Brasileirão e recebido R$ 30 mil, mas quando foi abordado novamente pelos aliciadores para ser advertido num jogo do Campeonato Paulista negou a proposta.

A investigação ainda está em andamento e o governo federal determinou que a Polícia Federal participará da apuração.

Formado em jornalismo pela PUC-Campinas em 2000, trabalhou como repórter e editor no Diário Lance, como repórter no GE.com, Jornal da Tarde (Estadão), Portal IG, como repórter e colunista (Painel FC) na Folha de S. Paulo e manteve uma coluna no portal UOL. Cobriu in loco três Copas do Mundo, quatro Copas América, uma Olimpíada, Pan-Americano, Copa das Confederações, Mundial de Clubes, Eliminatórias e finais de diversos campeonatos.