Ex vice-presidente do Conselho Deliberativo do Atlético e um dos apoiadores do clube (integrante do chamado ‘4Rs’), Rafael Menin é uma das peças mais importantes no processo de transformação do clube em Sociedade Anônima do Futebol (SAF).
Nesta terça-feira (22), ele concedeu entrevista exclusiva à Itatiaia e falou sobre o planejamento do alvinegro para a mudança de patamar e esclareceu dúvidas importantes que, muitas das vezes, até tiram o sono dos torcedores.
"É um prazer muito grande falar de um tema que pode representar o futuro do clube, e a gente espera que seja para melhor. É importante dizer que é um processo que começou há muitos meses. Procuramos os melhores assessores para nos ajudar nesta tarefa tão importante.Depois de muitos meses, temos uma proposta não vinculante em relação à nossa SAF. Ela só avançará caso torcida e conselho entendam que este movimento será transformador para o bem do clube. Faremos com total transparência. Não é um processo que acontecerá em uma semana, pois leva tempo. Torcida, imprensa e conselho, todos os participantes do futebol do Galo, terão tempo para analisar, debater e até sugerir mudanças”, destaca Rafael.
“O que a gente quer é fazer num modelo diferente do que foi feito até agora no futebol brasileiro. As SAFs foram feitas numa velocidade muito grande, porque era sobrevivência. Cruzeiro, Vasco e Botafogo fizeram assim. Estamos fazendo algo com mais calma, tranquilidade e debate. Não há modelo fechado. Há uma ideia formulada pelos nossos assessores contratados. Foram mais de 100 investidores acessados, chegando no final a oito, e, depois, caminhando para um fundo, o qual entendemos que representa melhor o que a gente busca como SAF ideal”, vai além.
Sobre o diferencial da SAF atleticana, em relação a outros clubes do Brasil que adotaram o sistema, Menin aponta que a participação dos conselheiros será importante, mesmo quando a associação for ‘sócia minoritária’.
“Neste caso, o conselho do Atlético terá voz ativa. Foi uma condição desde o primeiro momento. Nas outras SAFs, ele perder total importância e o clube passa a ter um único dono. No caso do Galo, estamos construindo de uma forma que o conselho terá uma voz muito ativa nas principais decisões que serão tomadas no futuro do clube. Com isso, mais do que um investidor com visão de curto, médio e longo prazo, conseguiremos um equilíbrio, sempre respeitando a história e as ambições do clube, mas também tendo as ações gerenciais, do futebol, administrativas, de investimento e redução de dívida, caminhando de maneira equilibrada. Nosso rival, por exemplo, terá que ser muito austero. Terá que primeiro pagar dívida, para depois investir no futebol. Queremos garantir governância e transparência, diminuir as dívidas, e também aumentar o poder de investimento do clube”, explica.
“A princípio, o investidor terá percentual minimamente superior a 50%. O clube ficará com um representativo e, por isso, terá voto neste novo conselho de administração que terá que ser criado. É o grande diferencial do Atlético em relação às demais SAFS. Clubes sociais e de lazer não entrarão na SAF. Há uma discussão para que um outro ativo possa, ou não, entrar na SAF. Poderemos fazer uma SAF mais enxuta, com um investimento muito bom, reduzindo as dívidas drasticamente e fazendo investimento no futebol, mas se for de entendimento de torcida e conselho, podemos colocar eventualmente mais um bem na SAF, aumentando a capacidade de investimento. Qualquer que seja o caminho, temos a segurança para colocar o Atlético numa prateleira maior e que seja mais competitivo. Não é segredo para ninguém que o Galo enfrenta dificuldades financeiras históricas. Em 2022, o clube pagará mais de R$ 100 milhões de juros. A venda do Diamond Mall (R$ 340 milhões) foi importante, mas não resolve, pois estamos falando de uma dívida de mais de R$ 1 bilhão. Temos que dar este passo corajoso. Olhando para o que aconteceu na Europa, há 20 anos, vemos que esta onda está chegando no Brasil. O clube que não embarcar (na SAF), será engolido. Não podemos remar contra a correnteza, usando um ‘colete de chumbo’, completa.
Confira outros pontos abordados na entrevista com Rafael Menin:
POR QUE VIRAR SAF?
“Daqui a pouco teremos muitos clubes com uma capacidade de investimento, sem dívidas, e outros como Flamengo e Palmeiras, que são clubes sem dívidas, com maior patrocínio e cotas de televisão, e lutar contra este movimento será muito complicado para o Galo. É possível, mas achamos que ficaremos com uma capacidade competitiva muito limitada nesta nova realidade do futebol brasileiro.
CLIMA QUENTE NA REUNIÃO DO CONSELHO - Kalil vaiado e ameaça de judicialização da SAF
“O Galo está pacificado há muito tempo. No momento atual, os ânimos ficaram mais exaltados, mas conversas futuras acontecerão. É o que vamos procurar, na medida do possível. São dois grupos políticos com ideias diferentes, mas que querem o melhor para o clube. Todos são apaixonados do mesmo tanto. Em algum momento, um fica mais aborrecido com a fala do outro, mas nada melhor que o tempo para que o conselho volte a estar pacificado. Vamos esperar algumas semanas. Claro que não é questão de ser amigo, mas não se pode colocar nada à frente do clube. Veio no calor do momento. Todos sabem que o processo foi conduzido corretamente. O conselheiro que quiser judicializar ou protelar a SAF, vai colocar a mão na consciência e não será por uma vontade pessoal para prejudicar o projeto do Galo. Quando a SAF for apresentada, com debate, o conselho terá sabedoria”.