Eliana Teixeira, médica pós-graduada em endocrinologia e nutrologia, explica quando o “chip da beleza” é recomendado. “Ele pode ser indicado em alguns casos específicos, como no tratamento de endometriose, Adenomiose, ou miomas uterinos, e raramente em casos de reposição hormonal pós menopausa”, destaca.
“No entanto, o uso voltado apenas para estética, como perda de peso rápida ou aumento de massa magra, não é unanimidade, inclusive podendo levar frequentemente ao ganho de peso. A segurança depende diretamente da indicação correta, do acompanhamento médico regular e de exames laboratoriais frequentes”, completa.
Confira a entrevista:
- O chip da beleza é considerado anabolizante? Por quê?
“Sim, o chip pode ser considerado anabolizante porque contém substâncias que estimulam o ganho de massa muscular e reduzem gordura corporal, efeitos semelhantes aos dos esteroides anabolizantes, além de outros colaterais, como queda de cabelo, acne intensa, engrossamento da voz e aumento de clitóris. A diferença é que, sendo um implante, a liberação é contínua, lenta e prolongada, o que exige ainda mais cuidado, já que não é possível interromper os efeitos de forma imediata após a colocação.”
- Quais são os benefícios e os riscos?
“Os benefícios relatados incluem melhora da dores que são bem intensas nos casos de endometrioses, por vezes incapacitantes, impedindo a paciente de manter sua rotina de vida diária. Pode ocorrer, caso a paciente faça atividade física regular e uma dieta específica, composição corporal. Além disso, se observa aumento de energia, libido, disposição e redução do fluxo menstrual por tempo indeterminado. No entanto, os riscos também são significativos: oleosidade, alterações no colesterol, pressão arterial, resistência à insulina, aumento do risco cardiovascular e até alterações de humor. Como cada organismo reage de forma diferente, é fundamental pesar riscos e benefícios antes da indicação. Por isso, é imprescindível utilizar somente quando se tem o diagnóstico correto, com a dose correta.”
- É possível alcançar resultados apenas com alimentação e atividade física?
“Em muitos casos sim. Dependendo do nível de definição muscular e baixa gordura, é praticamente impossível sem auxílio de drogas com efeitos anabolizantes. Resultados consistentes em perda de gordura, ganho de massa muscular e melhora da energia podem ser alcançados com mudanças estruturais de estilo de vida: alimentação equilibrada, rica em proteínas de qualidade, e boas gorduras, aliada a treinos de força e aeróbicos bem orientados. O chip - implante hormonal - pode acelerar alguns processos, mas nunca substitui a disciplina diária com hábitos saudáveis, que são a base de qualquer resultado duradouro.”
- Qualquer paciente pode usar?
“Não. O uso é restrito e deve ser individualizado. Pacientes com histórico de câncer hormoniodependente, problemas cardiovasculares, trombose ou alterações hepáticas, por exemplo, são contra indicados. Mesmo entre pessoas com indicação seu uso deve ser extremamente cauteloso, com exames prévios e acompanhamento regular para monitorar possíveis efeitos adversos.”
- Algo que gostaria de acrescentar ou esclarecer?
"É importante desmistificar que o nome ‘chip da beleza’’ não existe! O que existe é a introdução de uma substância por via sub cutânea. Se ganhou esse nome por conta de mulheres com indicações precisas, que treinavam e faziam dieta, e obtinham como efeito secundário uma melhora física. Porém, as que não o tinham não obtinham o resultado da parte estética, com melhora da parte clínica de suas dores.
Usar esse termo ‘chip da beleza’ dá a falsa ideia de algo milagroso e isento de riscos. Estamos falando de hormônios potentes, que atuam em múltiplos sistemas do corpo e exigem responsabilidade no uso. Resultados estéticos podem acontecer, mas o foco deve ser sempre a saúde do paciente. O acompanhamento médico sério, baseado em evidências, é indispensável para garantir segurança e eficácia.”