Belo Horizonte, 18 de dezembro de 2024: o silêncio grita na ‘Sala das Sessões’ do Museu Mineiro. Onde antes reinavam as imponentes telas de pintores acadêmicos como Aníbal Mattos, Francisco Rocha, Honório Esteves, José Marques Campão… agora impera o vazio. Só ficaram os vestígios na parede que fazem gritar ainda mais a ausência do que antes estava ali.
A responsável por retirar os notáveis trabalhos dos pintores do cômodo solene é a artista Ana Raylander Mártis dos Anjos, que, com sua exposição-obra “Museu Mineiro [Sala das Sessões]”, propõe uma crítica às narrativas hegemônicas e ao próprio papel do museu como guardião da memória.
A artista encena um esvaziamento simbólico poderoso: 24 obras de 11 artistas, representantes da elite branca e masculina da época, são removidas da ‘Sala das Sessões’, antigo espaço legislativo, e devolvidas à reserva técnica do museu.
O gesto expõe a fragilidade de uma história contada por uma única perspectiva. As marcas nas paredes, as sombras, as ausências, antes ocultas e invisíveis, se tornam protagonistas. Sem os quadros elas saltam aos olhos do visitante o instigando a refletir sobre os apagamentos e silenciamentos que permeiam a construção da identidade mineira.
Quem eram os corpos, as famílias, as histórias que habitavam essas terras antes da fundação de Belo Horizonte? Quais as vozes foram caladas para que a narrativa oficial pudesse prosperar? E quais corpos e construções foram demovidos para que outros ocupassem este mesmo lugar?
A única obra remanescente, “A Má Notícia”, de Belmiro de Almeida (1897),só é revelada pela parte de trás, expondo a materialidade bruta da tela, suas entranhas, o que está por trás da “boa nova” da fundação da cidade. A frente e os lados estão ocultos por um invólucro de madeira.
“Museu Mineiro [Sala das Sessões]” é mais do que uma exposição, é um manifesto. Um grito contra o silêncio violento que ecoa nas salas de tantos museus pelo Brasil afora. Ana Raylander nos lembra que a arte tem o poder de desassossegar o passado, o presente e o futuro.
Ao expor o museu pelo avesso, a artista nos convoca a fazer o mesmo com nossas próprias certezas, abrindo caminho para a construção de uma história mais justa. Resta saber se o Museu Mineiro e a sociedade belo-horizontina estão prontos para ouvir as vozes que ecoam do outro lado da história.
SERVIÇO
Exposição: “Museu Mineiro [Sala das Sessões]”, de Ana Raylander Mártis dos Anjos
Visitação até 16 de fevereiro de 2025 de terça a sexta-feira: das 12h às 19h. Sábados, domingos e feriados das 11h às 17h.
Local: Museu Mineiro – Sala das Sessões (Av. João Pinheiro, 342 – Centro, Belo Horizonte)
Entrada Gratuita