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Advogadas analisam conduta da Netflix ao exibir relato de abuso em ‘Casamento às Cegas': ‘Absurda’

A plataforma foi detonada nas redes sociais após a participante Ingrid Santa Rita dizer que foi tocada sem consentimento pelo ex-parceiro Leandro Marçal

Programa foi ao ar na última quarta-feira (10)

O relato de abuso sexual que Ingrid Santa Rita, participante da 4ª temporada de “Casamento às Cegas”, fez em relação ao ex-marido, Leandro Marçal, chocou a internet.

No episódio chamado de Reencontro, filmado meses depois fim da temporada, ela acusa o então marido tê-la tocado sem consentimento e não ter respeitado seu pedido de parar.

Após a exibição, a Netflix foi duramente criticada nas redes sociais pela maneira como a situação foi conduzida. Nos comentários de espectadores, são mencionadas questões como a falta de posição firme dos apresentadores e a ausência de um alerta de conteúdo sensível.

“Esse assunto foi abordado de maneira totalmente irresponsável, foi estranho demais assistir um relato tão sério e grave de maneira tão banal”, disse uma usuária do X.,

Além disso, há quem acredita que expor aquela situação pode desencadear ‘gatilhos’ em outras sobreviventes de violência sexual. “É bizarro a Netflix não ter colocado um aviso de conteúdo sensível nesse episódio, você acessa procurando entretenimento e assiste um relato de abuso sem nenhum aviso”, escreveu outra na postagem feita pela plataforma no Instagram.

Para entender se a plataforma pode ser responsabilizada pela conduta em relação ao relato da participante no programa, a reportagem da Itatiaia conversou com Camila Rufato Duarte, advogada e cofundadora do Direito Dela, com a Carla Silene, criminalista e professora no Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (IBMEC), e com Alessandra Margotti, advogada professora universitária, doutora e mestra em direito pela UFMG.

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Camila Rufato classificou a condução do reality como “completamente absurda”. “O episódio da Netflix foi um horror sob todos os ângulos. Existe uma tendência muito grande de mostrar cenas de misoginia, LGBTfobia, gordofobia e racismo como se fossem entretenimento. Os realities retratam a realidade, logo esse tipo de situação acontecerá, mas é importante que esses casos sejam usados não para revitimizar a pessoa que passou por aquilo, como foi o caso da Ingrid, mas para acolhê-la e conscientizar sobre esse tipo de situação”, analisou.

Para Carla Silene, a plataforma pode, sim, ser responsabilizada. Segundo ela, o Ministério Público poderia ser provocado, se entenderem que ocorreu um dano coletivo. “Nada melhor que os usuários demonstrarem fortemente que não aceitam mais esse tipo de omissão”, disse. Alessandra Margotti concorda: “Caso acionada judicialmente, pode ser responsabilizada no âmbito civil, tendo de indenizar a participante por danos morais, ou até respondendo por danos morais coletivos”, analisou.

À Itatiaia, o Ministério Público de São Paulo informou que, até o momento, não recebeu nenhuma investigação sobre o assunto.

A Netflix, a Endemol Shine Brasil e a equipe do Casamento à Cegas Brasil informou, por meio de nota, que “repudiam veementemente qualquer tipo de violência. A produção, em todas as suas etapas, é conduzida com constante apoio profissional aos participantes, e as denúncias apresentadas estão sendo apuradas pelos órgãos competentes.”

A reportagem também entrou em contato com a Polícia Civil de São Paulo e aguarda um posicionamento.


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Formou-se em jornalismo pela PUC Minas e trabalhou como repórter do caderno de Gerais do jornal Estado de Minas. Na Itatiaia, cobre principalmente Cidades, Brasil e Mundo.