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Gilberto Gil compôs trilha sonora para filme censurado pela ditadura militar

A pedido do diretor Rogério Sganzerla, ícone do Cinema Marginal, ele criou canções ‘alucinadas’ para ‘Copacabana Mon Amour’

Gilberto Gil colaborou com Rogério Sganzerla em filme protagonizado por Helena Ignez

O mais marginal dos cineastas, Rogério Sganzerla, convocou Gilberto Gil para criar a trilha-sonora de seu quarto longa-metragem, “Copacabana Mon Amour”, em 1970. O resultado foram músicas “alucinadas”, em consonância com a estética proposta pelo diretor de filmes disruptivos como “O Bandido da Luz Vermelha” (1968) e “Sem Essa, Aranha” (1970).

Mas, na época, o público não pôde conhecer as canções de Gil. Tudo porque a censura do regime militar proibiu o filme, que ganhou uma restauração digna de sua importância em 2015. A trama tem como protagonista a atriz e diretora Helena Ignez, musa de Rogério Sganzerla, então casada com ele.

Ao longo de cinco canções, Gil imprime uma estética de garage com forte influência do folk, propositadamente precária, suja, construída por meio de sua voz gritada e de um violão visceral, com intervenções pontuais de gaitas e instrumentos de sopro.

Outro expediente é o da canção bilíngue, casos de “Mr. Sganzerla”, que se apropria do nome do diretor, e “Tomorrow Vai Ser Bacana”, explicitando essa flexibilidade da linguagem, viva e em constante construção e desconstrução.

“Diga a Ela”, que abre os trabalhos, recebeu uma versão editada nas plataformas digitais. “Blind Faith” agrega tons de melancolia, enquanto “Yeh Yeh Yah Yah” sintetiza a estética do álbum, com quase 15 minutos de duração.