As ‘escrevivências’ chegaram à Academia Mineira de Letras. Conceição Evaristo, 77 anos, uma das principais escritoras do Brasil na atualidade, foi eleita nesta quinta-feira (15) como imortal da Academia. Ela vai ocupar a cadeira de número 40, fundada por Pinto de Moura e que era ocupada pela romancista, poeta e crítica literária Maria José de Queiroz, falecida em novembro de 2023.
Segundo a Academia Mineira de Letras, Conceição Evaristo recebeu 30 dos 34 votos possíveis e disputou a vaga com outros cinco candidatos.
Evaristo nasceu na favela do Pindura Saia, na região centro-sul de Belo Horizonte, em 1946. Ela migrou para o Rio de Janeiro nos anos 1970, onde fez carreira como professora da rede pública. É mestre em literatura pela PUC Rio e doutora em literatura comparada pela Universidade Federal Fluminense.
Ela se notabilizou por criar o conceito de ‘escrevivência’, que ficcionaliza a vivência da população negra, de um modo que valoriza suas subjetividades e contextos, sem cair em lugares-comuns que sempre deixaram o negro em lugares invisíveis ou marginais nas artes brasileiras. Nas obras de Evaristo, o racismo está presente com pungência, mas a memória ancestral é celebrada, as famílias possuem vínculos e o amor é vivenciado nos detalhes - ainda que em meio à completa miséria.
Obras
A primeira obra de Conceição Evaristo foi lançada em 1990 na série Cadernos Negros. As primeiras obras individuais da ficcionista e poeta só saíram em livro nos anos 2000, quando a Mazza Edições, de BH, lançou ‘Ponciá Vicêncio’ (2003), seu livro mais celebrado, e ‘Becos da Memória’ (2006). Outra editora independente de BH, a Nandyala, publicou em seguida ‘Poemas da Recordação e outros movimentos’ (2008) e ‘Insubmissas lágrimas de mulheres (2011)’.
Com o sucesso de público e crítica, Evaristo teve as primeiras obras reeditadas pela Pallas e pela Malê, e também lançou ‘Olhos d'Água’, ‘Histórias de Leves Enganos e Parecenças’, ‘Canção para Ninar Menino Grande’ e ‘Macabéa: flor de Mulungu’.
Evaristo também integra coletâneas nacionais e estrangeiras e teve suas obras traduzidas para inglês, francês, espanhol, árabe, italiano e eslovaco.
O presidente da AML, Jacyntho Lins Brandão, destaca a eleição da professora. ‘A chegada de Conceição Evaristo tem também o sentido de impregnar esta casa com suas qualidades e história de vida, essa prática da literatura por ela denominada ‘escrevivência’. Uma vivência, aliás, profundamente marcada por Minas e por Belo Horizonte’, aponta.
Maria Esther Maciel, acadêmica da AML, celebra a eleição de Evaristo pela potência de sua literatura. “Uma das escritoras mais notáveis da literatura brasileira contemporânea e poderosa representante das mulheres negras em nosso país, Conceição Evaristo vem trazer para a Academia Mineira de Letras a força da negritude, da diversidade e dos saberes afro-brasileiros. Sua eleição é um grande acontecimento literário e político-cultural para Minas e o Brasil”.
Prêmios
Conceição Evaristo recebeu o Prêmio Jabuti em 2015, na categoria contos e crônicas, pelo livro ‘Olhos d'Água’. Em 2017, recebeu o Prêmio Cláudia na categoria Cultura; em 2018, o Prêmio Revista Bravo na categoria Destaque, o Prêmio do Governo de Minas Gerais pelo conjunto de sua obra, o Prêmio Nicolás Guillén de Literatura pela Caribbean Philosophical Association e o Prêmio Mestre das Periferias pelo Instituto Maria e João Aleixo.
Ela foi eleita como personalidade literária de 2019 pelo Jabuti. Em 2023, recebeu o Prêmio Juca Pato como Intelectual do Ano e foi laureada com o prêmio Elo no Festival Internacional das Artes de Língua Portuguesa.
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