Após quase 30 dias operado, Fausto Silva, de 73 anos, precisou voltar ao Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, nessa quarta-feira (20). Segundo a unidade hospitalar, Faustão foi ao local apenas para realizar exames de rotina, o que é habitual em pacientes transplantados. À Itatiaia, Charles Simão Filho, cirurgião cardiovascular do Hospital Felício Rocho e professor de medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), explica que o procedimento é comum em pessoas que receberam transplante de coração.
No primeiro ano após o procedimento, conforme o médico, as idas ao hospital são mais frequentes e costumam ser mensais. “Primeiro para fazer os exames de rotina, porque o paciente submetido a essa cirurgia tem uma série de medicações para tomar, especialmente aqueles chamados imunossupressores, que diminuem a possibilidade de rejeição”, esclarece.
Porém, segundo o médico, esses medicamentos possuem “uma série de efeitos colaterais”, que podem causar “risco elevado de infecção em relação à população normal”, riscos relacionados “à pressão arterial”, danos ao rim, entre outros. Por este motivo, os “pacientes precisam ser extremamente bem controlados”. Ou seja, o paciente que faz um transplante, ele “tem que estar de forma muito próxima ligada ao seu cardiologista”.
Além disso, no primeiro ano, é necessário que o paciente realize biópsias para identificar qualquer tipo de rejeição ao órgão transplantado. “Você tem que fazer algumas biópsias através da introdução de um cateter na veia. Um pequeno fragmento do coração é retirado e é examinada a microscopia. Essa microscopia vai te dizer com precisão e precocemente se está havendo um processo de rejeição. É a chamada biópsia endomiocárdica, então, por todos esses motivos, esse paciente tem que estar muito ligado ao hospital, especialmente, no primeiro ano pós-transplante, quando a ocorrência de rejeição é maior que nos anos subsequentes”.
O professor da UFMG explica que, apesar das idas ao hospital serem comuns para realização de exames, cada paciente pode responder ao pós-operatório de forma diferente. “Bom, elas são normais. Mas podem haver também complicações, né? Um caso igual, por exemplo, o que está acontecendo aí com Faustão, você tem muita especulação em volta, você não sabe exatamente porque ele está internado, o que que tá acontecendo, se ele teve algum processo infeccioso ou algum processo insuficiência cardíaca ligada à rejeição, mas com certeza, independente de qualquer complicação, esse paciente tem que estar muito ligado a instituição que prestou o serviço que realizou o transplante”.
Cuidados pós-transplante
Após a cirurgia de transplante de coração, alguns cuidados precisam ser tomados, dentre eles, “o estrito seguimento da prescrição médica”. Ou seja, dos medicamentos que são usados para impedir a rejeição. “Eles precisam de ser acompanhados através de exames de sangue e, como eu disse, no primeiro ano, independente de qualquer coisa, são realizados cerca de três a quatro biópsias miocárdicas para monitorizar de perto a rejeição através do microscópio antes mesmo dela se manifestar clinicamente”, esclarece.
Poucos dias depois do transplante, Faustão já estava ansioso para caminhar. Simões explica se o paciente tem alguma restrição médica. “O paciente que sai de um transplante cardíaco ele tem condições, assim como qualquer pós-operatório, de iniciar um processo de reabilitação física gradual onde ele começa aos poucos a caminhar e reassumir as suas atividades da vida diária. O que depende muito da rapidez dessa recuperação é como o paciente estava antes”. Ou seja, em casos de pacientes acamados, a recuperação é mais lenta.
O médico acrescenta: “Não existe uma regra para o pós-operatório. Como qualquer outro paciente, ele já inicia um processo de reabilitação que vai se completar por volta de 90 dias, onde ele retoma suas atividades da vida diária. Agora, se houver alguma complicação nesse meio tempo, cada caso precisa ser analisado individualmente”.
Entenda
Faustão foi internado no dia 5 de agosto com insuficiência cardíaca. No entanto, ele acabou apresentando piora no quadro e, por isso, precisou entrar na fila de transplante de coração do SUS. O procedimento foi feito no dia 27 deste mês seguindo a ordem prioritária da Secretaria Nacional de Transplantes. O apresentador era o segundo da fila e só pôde fazer a cirurgia após recusa do primeiro.
O doador era um jogador de futebol, de 35 anos, que morreu no dia anterior após sofrer um Acidente Vascular Cerebral (AVC). Ele residia em Santos, no litoral de São Paulo. O órgão foi transportado de helicóptero até a capital paulista.
No dia 10 de setembro, o hospital divulgou novo boletim médico informando que Faustão havia ganhado alta médica. “Fausto Silva recebeu alta do Hospital Israelita Albert Einstein neste domingo, dia 10 de setembro de 2023. O paciente seguirá sob as orientações médicas e nutricionais necessárias para a reabilitação após o transplante cardíaco”, diz o texto.
Nessa quarta (20), Faustão voltou ao hospital. Inicialmente, a informação era de que o apresentador havia retornado à unidade devido ao excesso de potássio, no entanto, pouco depois, o hospital esclareceu que ele foi ao local para realizar exames de rotina.