O mercado fonográfico brasileiro já foi tão aquecido que, durante décadas, eram entregues aos artistas prêmios cobiçados que certificavam as milhões de cópias vendidas por eles. Conhecidos como discos de platina e discos de ouro, esses prêmios ajudavam a contabilizar o sucesso através dos números.
Entre as cantoras brasileiras, algumas das que se tornaram as maiores vendedores de disco transitavam por gêneros diversos, reforçando a pluralidade da música brasileira. Tanto que a rainha do rock disputava espaço com a majestade sertaneja, enquanto uma apresentadora de TV se infiltrava entre elas. Rita Lee, Xuxa, Roberta Miranda, Simone, e outras estão na lista…
Rita Lee
Mulher que mais vendeu discos no Brasil, superando 55 milhões de cópias, Rita Lee é também pioneira ao adentrar o machista circuito do rock. A carreira da ruiva mais debochada do Brasil começou quando ela conheceu os irmãos Arnaldo Baptista e Sérgio Dias, virtuoses instrumentistas e, com eles, criou Os Mutantes, grupo que juntou psicodelismo a música nordestina e abalou as estruturas do cenário cultural brasileiro, despertando o interesse até dos Tropicalistas.
Com Gilberto Gil, eles apresentaram “Domingo no Parque” no Festival Internacional da Canção e desafiaram os arranjos ousados do maestro Rogério Duprat. Depois de sucessos como “Panis et Circenses”, “Ando Meio Desligado”, “Bat Macumba” e “Não Vá Se Perder Por Aí”, Rita deixou o grupo de forma litigiosa e jamais voltou a se entender com os antigos companheiros. Mas o destino da “ovelha negra” da música brasileira já estava traçado e era uma trilha de sucessos.
Roberta Miranda
Maria Albuquerque Miranda adotou o nome artístico de Roberta Miranda quando começou a se apresentar em bares para se sustentar, já que, com 18 anos, decidiu morar sozinha. Nascida em João Pessoa, na Paraíba, no dia 28 de setembro de 1956, ela se tornou a primeira cantora brasileira a vender mais de um milhão e meio de cópias em seu disco de estreia, consagrando-se como a “Rainha Sertaneja”.
Desbravadora e pioneira, Roberta Miranda aliou em seu repertório canções de temática caipira com outras de pegada romântica, em que se destacam os sucessos “A Majestade, o Sabiá”, “São Tantas Coisas”, “Vá Com Deus”, “Meu Primeiro Amor”, e muitas outras. Roberta Miranda também deu voz a faixas consagradas de Roberto Carlos, como “Fera Ferida”.
Angela Maria
Abelim Maria da Cunha adotou o nome artístico de Angela Maria para despistar a família, que não queria que ela seguisse a carreira artística, devido aos estigmas da época. Foi com esse nome que ela se consagrou como uma das maiores cantoras da música brasileira, especialmente na Época de Ouro do Rádio.
Carioca de Macaé, ela nasceu no dia 13 de maio de 1929, e morreu em São Paulo, no dia 29 de setembro de 2018, aos 89 anos, pouco depois de lançar um disco dedicado à obra de Roberto e Erasmo Carlos.
Ao longo dessa prolífica trajetória, Angela lançou sucessos do bolero, do samba-canção e do Carnaval, como “Lama”, “Orgulho”, “Vida de Bailarina”, “A Lua É dos Namorados”, e diversos outros, influenciando toda uma geração de intérpretes. Ao todo, estima-se que Angela Maria vendeu mais de 60 milhões de discos na carreira.
Xuxa
Xuxa Meneghel nasceu em Santa Rosa, distrito do Rio Grande do Sul e começou a carreira como modelo, chamando atenção graças à sua beleza de traços loiros e olhos azuis. O sucesso sempre a acompanhou e, na década de 1980, ainda em início de carreira, posou nua para a Playboy, fato que ela renegaria ao se tornar uma das mais bem-sucedidas apresentadoras de programas infantis da televisão brasileiro, levando todo seu carisma para os baixinhos.
Na esteira dessa consagração, Xuxa participou de filmes e lançou discos com trilhas de canções infantis, vendendo mais de 48 milhões de cópias no mercado fonográfico. Mais bem sucedida apresentadora de programas infantis da TV brasileira, Xuxa soube aliar a carreira ao lançamento de discos voltados para o mesmo público. O período auge foi na década de 1980, quando lançou uma franquia com sete trabalhos.
Maria Bethânia
O encontro de duas majestades da música brasileira. A Abelha-rainha e o Rei. Há 30 anos, Maria Bethânia, que ganhou o apelido graças à música “Mel”, de Wally Salomão e Caetano Veloso, dedicou um disco inteiro à obra de Roberto Carlos, coroado pelos milhões de fãs ao longo das décadas.
“As Canções Que Você Fez Pra Mim” fez tanto sucesso que, num intervalo de meses, também em 1993, ganhou uma versão em espanhol. “Emoções”, “Fera Ferida”, “Detalhes” e outros clássicos atemporais entraram para o repertório, feito de parcerias com Erasmo Carlos.
O álbum se tornou o mais vendido da carreira de Maria Bethânia, com mais de um milhão de cópias, superando “Álibi”, o recordista anterior. Era uma nova consagração da eterna Abelha-rainha da música brasileira.
Nascida em Santo Amaro da Purificação, na Bahia, Maria Bethânia começou a carreira em Salvador, levada pelo irmão Caetano Veloso a participar de espetáculos que uniam música e teatralidade, uma das marcas de sua personalidade artística.
Considerada por muitos a maior cantora do Brasil, Maria Bethânia é dona de um posto incontestável. É, na MPB, a que mais vendeu discos. Para isso contribuíram “Álibi” e “As Canções Que Você Fez Pra Mim”, com mais de 1 milhão de cópias.
Clara Nunes
O manto azul e branco da Portela ilumina os passos da mineira guerreira, filha de Oxum com Iansã. Clara Nunes foi cantada em verso e prosa por João Nogueira, Mauro Duarte e Paulo César Pinheiro, com quem viveu um matrimônio cheio de amor e música. Mas, principalmente, cantou o Brasil e suas raízes africanas, com samba no pé e, eventualmente, dores no coração.
Mineira de Caetanópolis, no interior do Estado, Clara Nunes encantou todo o Brasil com o brilho de sua voz e a exuberância de sua personalidade, que ela adornava com amuletos e patuás. Sempre vestida de branco, Clara foi a expressão de um Brasil profundo, orgulhoso de suas origens.
Foi apenas em 1968, com a produção de Adelzon Alves, que Clara selou seu encontro definitivo junto ao samba, graças ao enorme sucesso de “Você Passa Eu Acho Graça”, música do conterrâneo mineiro Ataulfo Alves, em parceria com o capixaba, convertido em carioca, Carlos Imperial. Ao longo da carreira, ela recebeu onze vezes o certificado do disco de platina pelas milhões de cópias vendidas.
Simone
Um único nome, que representa muito na música brasileira. Simone é muito mais do que a cantora que nasceu no dia 25 de dezembro e dedicou um disco inteiro às músicas de Natal. Para além dos discos de ouro que acumulou ao longo da carreira, a maior vendedora de discos da década de 1980 é também uma intérprete de timbre inconfundível, vocacionada às canções românticas e que, quando foi chamada à luta, jamais deixou de dar o seu recado através da música brasileira. Agora, Simone comemora 50 anos de uma carreira vitoriosa.
O primeiro LP lançado, em 1973, já revelava o talento da garota de apenas 23 anos, em canções como “Morena”, “Caminho do Sol” e “Tudo Que Você Podia Ser”, esta última dos irmãos mineiros Márcio e Lô Borges, filiados ao Clube da Esquina de Milton Nascimento.
Na sequência, Simone dividiu um álbum com o sambista Roberto Ribeiro, gravado em Bruxelas, na Bélgica, exibindo toda a sua desenvoltura para percorrer diversos ritmos. Ela caía no samba e na MPB. Ao longo da carreira, Simone faturou onze vezes o certificado de disco de platina e sete vezes o de disco de ouro, pelas milhões de cópias vendidas.
Joanna
Rebatizada por um produtor, Joanna foi acolhida em todo o Brasil, que se habituou a entoar seu nome em espetáculos lotados. O clamor popular sempre esteve a seu lado. Há 40 anos, em 1983, Joanna faturou o seu quinto disco de ouro consecutivo com o lançamento de “Brilho e Paixão”, que vendeu mais de 150 mil cópias.
O álbum vinha na sequência de outros sucessos de arrasar quarteirão, como “Estrela Guia” e “Chama”. Mas a estreia profissional de Maria de Fátima, que ganhou o nome artístico de Joanna, foi em 1979, com o disco “Nascente”, que, além da faixa-título, trouxe os hits “Descaminhos”, “Cicatrizes” e “Agora”, misturando canções autorais a composições de Roberto Carlos, Milton Nascimento e Gonzaguinha.
Outro momento decisivo na carreira de Joanna foi a participação no especial “Mulher 80”, da Rede Globo, em que cantou “Seu Corpo” e “Cantoras do Rádio”, ao lado de Maria Bethânia, Elis Regina, Zezé Motta, Rita Lee, Fafá de Belém, Gal Costa e outras divas da música brasileira. Empoderada, Joanna assumia a homossexualidade e cantava o amor sem preconceitos nem medo de ser feliz.
Beth Carvalho
O Brasil vivia os ventos da redemocratização e o Carnaval se aproximava. Foi nesse cenário que Beth Carvalho lançou, há 40 anos, o 16º disco da sua carreira. Mas não foi um disco qualquer. “Suor no Rosto” apresentou ao mundo o talento de um compositor iniciante: Zeca Pagodinho, que participa da faixa “Camarão Que Dorme a Onda Leva”, dele e de Arlindo Cruz e Beto Sem Braço. A partir de então, Beth Carvalho ficou conhecida como a “Madrinha do Samba”.
No repertório do álbum, uma gama de sucessos do porte de “Suor no Rosto”, “Firme e Forte”, “Caciqueando”, “Jiló com Pimenta”, “É Hora de Pintar”, dentre outros, em que ela dava voz e vez a compositores como Jorge Aragão, Dida, Nei Lopes, Noca da Portela, Martinho da Vila e Dona Ivone Lara, tudo no ritmo da folia, reafirmando a sua condição de pesquisadora atenta das nossas raízes. Para completar, encerrava a festa com uma canção natalina de Cartola.
Na capa do LP, Beth Carvalho surgia com seus cabelos ruivos e o sorriso estampado no rosto, coberta por confetes e serpentinas. Era a realização da intérprete, que começou a carreira em 1965, quando lançou o seu primeiro disco, e, na sequência, tirou o terceiro lugar no Festival Internacional da Canção com “Andança”, toada de Edmundo Souto, Paulinho Tapajós e Danilo Caymmi. O encontro definitivo com o samba ocorreu em seguida, nos anos 70.
Ivete Sangalo
Ela é a estrela que há mais tempo reina na música brasileira. Recordista de vendas, sucesso de Norte a Sul do Brasil, Ivete Sangalo arrasta multidões em trios elétricos com a mesma gana e força que recebe elogios dos críticos mais elevados, ao cantar sentada em um banquinho com violão ao lado de Gilberto Gil e Caetano Veloso.
Não é exagero constatar que Ivete pertence ao panteão das grandes cantoras da música brasileira, numa linhagem que vai de Elis Regina a Maria Bethânia, passando por Daniela Mercury, Nara Leão e Simone.
O diferencial de Ivete, para além da voz afinadíssima, o timbre especial e a capacidade de pular durante horas em cima de um trio elétrico, é a sua relação com a plateia. Sempre disponível, ela consegue criar uma sintonia que elimina as possíveis distâncias.
Quem vai ao show de Ivete Sangalo se sente próximo da cantora, mesmo que esteja a mil quilômetros do palco. Ivete bota pra ferver! Ao longo da carreira, Ivete vendeu mais de 20 milhões de discos e, atualmente, é dona de outro recorde: mais de 2 milhões de downloads pagos de suas músicas nas plataformas digitais.