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De Nara Leão a Ivete Sangalo: As canções mais românticas do Brasil

O amor e suas consequências segue como tema incontornável em músicas de Chico Buarque, Caetano Veloso e Angela Ro Ro

Canções de Caetano Veloso, Chico Buarque, Angela Ro Ro e Moraes Moreira estão entre as mais românticas da música brasileira

O amor está no ar, como dizia aquela famosa canção norte-americana, de John Paul Young, mas, aqui, damos preferência aos compositores nacionais. O importante é tocar o coração, e a diversidade também marca presença com balada, toada e canção, de norte a sul do Brasil, com os mais variados ritmos e aquele pulsar inconfundível. Todo casal é único, assim como a paixão é múltipla. Fato é que o amor e suas consequências segue como tema incontornável da Humanidade.

“Com Açúcar, Com Afeto” (MPB, 1967) – Chico Buarque

Dos vários tipos de amor que existem, um deles é o que sufoca, machuca, maltrata. Em 1967, Nara Leão lançou a resignada espera de Chico Buarque, “Com Açúcar, Com Afeto”. No DVD “À Flor da Pele”, que trata da temática feminina na obra de Chico Buarque, o compositor explica que escreveu “Com Açúcar, Com Afeto” para Nara Leão quando a cantora pediu: “Eu quero uma música daquelas das mulheres que esperam o marido”. Ela logo se converteu em um dos principais clássicos da discografia de ambos. Em 2007, ao gravar “Onde Brilhem os Olhos Seus”, Fernanda Takai regravou a canção de Chico no disco em que homenageou Nara Leão, dando voz aos grandes hits da cantora.

“Andança” (MPB, 1968) - Edmundo Souto, Paulinho Tapajós e Danilo Caymmi

Um encontro entre três jovens iniciantes rendeu à Beth Carvalho, que também dava os primeiros passos na carreira, o seu primeiro sucesso de proporções nacionais. Composta por Danilo Caymmi, Edmundo Souto e Paulinho Tapajós, a toada “Andança”, que já trazia influências do samba, numa mistura típica da MPB, foi apresentada em 1968, no III Festival Internacional da Canção, e arrematou o terceiro lugar. Ao final do número, Beth e os Golden Boys saíram aclamados pelo público. Curiosamente, apesar da consagração, Beth enveredaria por outros caminhos na sequência da carreira, tomando de vez e definitivamente a bandeira do samba, a exemplo de Clara Nunes, que adotou o gênero depois de lançar discos de boleros e sambas-canções.

“Menino do Rio” (MPB, 1979) – Caetano Veloso

Em 1979, Caetano Veloso foi o primeiro artista brasileiro a compor uma canção inspirado em um muso: “Menino do Rio” falava da admiração do cantor pelos dotes físicos de um surfista, José Antônio Machado, conhecido como Petit, que fazia sucesso na praia de Ipanema. Ao longo da carreira, Caetano se fartou de interpretar canções a partir do eu lírico feminino, como “Esse Cara”, regravada por Maria Bethânia e Cazuza. “Menino do Rio” foi regravada por Baby do Brasil em 1980, e lançada com um clipe gravado na praia, se tornando um dos maiores sucessos da carreira dessa cantora cósmica, alto-astral e irreverente.

“Amor, Meu Grande Amor” (balada, 1979) – Angela Ro Ro e Ana Terra

“Essa música tem 40 anos de sucesso, é impressionante. Sempre falo para a Ana (Terra) que a culpa é dela; ela ri e diz que é minha. Já até tocaram ela sem letra, no Faustão, para os convidados adivinharem, e com menos de dois segundos todo mundo bateu a campainha porque já sabia qual era a música”, confirma Angela Ro Ro, em referência a “Amor, Meu Grande Amor”. Por sinal, a cantora pôde sentir essa perenidade na própria pele quando, em 2018, estreou o show “Pilotando o Piano”, basicamente dedicado ao seu primeiro LP.

“Frevo Mulher” (frevo, 1979) – Zé Ramalho

Não deu nem tempo de o técnico de som apertar o botão e Dominguinhos já desfiava a sua sanfona. Além dele, participaram da gravação de “Frevo Mulher” o autor Zé Ramalho (no violão), Geraldo Azevedo (também ao violão) e Wilson das Neves (na percussão). “É uma explosão, uma energia contagiante”, define Amelinha, responsável por lançar o hit em 1979, no álbum homônimo que lhe valeu Disco de Ouro pelas mais de 100 mil cópias vendidas. A entrega da intérprete à canção tinha mais um motivo: ela era a musa da letra. Amelinha e Zé Ramalho haviam acabado de começar a namorar e se encontravam no Hotel Plaza, no Rio. Eles foram casados entre 1978 e 1983, e tiveram dois filhos. No estúdio, Zé Ramalho observava os compositores levarem músicas para Amelinha e serem recebidos com muita leveza e simpatia.

“Asa Morena” (toada, 1982) – Zé Caradípia

Quem não associar Zé Caradípia aos compositores da MPB, mudará de ideia quando se falar na música “Asa Morena”, que esse gaúcho de Canoas compôs na década de 1980, quando viu o seu nome estourar em todo o Brasil graças à gravação inesquecível de Zizi Possi para essa toada sensível, de inspiração nortista, que fala sobre um romance brejeiro e inocente. Infelizmente, Zé Caradípia pode ser associado àqueles artistas de um sucesso só, já que não voltou a frequentar as paradas de sucesso nem a ter seu nome listado nas grades radiofônicas. O que não o impediu de, em 2001, lançar a bonita canção “Chuva de Outono”, versando sobre a estação conhecida pelas folhas caídas…

“Você É Linda” (balada, 1983) – Caetano Veloso

A primeira palavra dita por Caetano Veloso foi “quem”. Ao menos quando se toma como base sua carreira fonográfica iniciada em 1965, com a edição do compacto simples que traz “Cavaleiro” (da onde se extrai a expressão) em um lado, e “Samba em Paz”, no outro. Já em 1983, Caetano Veloso compôs a música “Você É Linda” para Cristina, uma moça que morava em frente à sua casa na Bahia, do outro lado da rua, no bairro de Ondina. Caetano se apaixonou por Cristina e o resultado foram os versos românticos de “Você É Linda”, música lançada em 1983, no álbum “Uns”.

“Sintonia” (balada, 1986) – Moraes Moreira, Fred Góes e Zeca Barreto

Moraes Moreira nasceu em Ituaçu, interior da Bahia, no dia 8 de julho de 1947, e morreu no dia 13 de abril de 2020, aos 72 anos, após sofrer um infarto enquanto dormia. Ainda na década de 1970 ele fundou, ao lado de Pepeu Gomes, Baby Consuelo, Paulinho Boca de Cantor e Galvão, o grupo Os Novos Baianos, que criou verdadeiros clássicos da música brasileira, como “Preta Pretinha”, “Acabou Chorare”, “Besta É Tu”, “Mistério do Planeta”, e muitos outros. Já em carreira-solo lançou, em 1986, “Sintonia”, outro grande sucesso...

“Te Ver” (balada, 1994) – Samuel Rosa, Chico Amaral e Lelo Zaneti

Eles já pediram esmola e nos ensinaram o que é uma partida de futebol. Também procuraram uma resposta para os sentimentos mais misteriosos e exaltaram as belezas e artimanhas da garota nacional. Juntando baladas românticas a canções cheias de suingue, influenciadas pelo reggae e pelo ska da Jamaica, o Skank criou uma mistura azeitada que elevou o pop rock mineiro a nível nacional, arrebatando milhões de fãs em todo o Brasil e excursionando através do mundo. Foi em 1992 que o Skank colocou na praça o seu primeiro LP, com críticas ácidas ao então presidente Fernando Collor. Na sequência lançou, em 1994, “Calango”, apresentando futuros sucessos como “Te Ver”, parceria de Samuel Rosa, Chico Amaral e Lelo Zaneti.

“Se Eu Não Te Amasse Tanto Assim” (balada, 1999) – Herbert Vianna e Paulo Sérgio Valle

Diante de todo esse sucesso de proporções nacionais, Ivete seguiu o caminho natural da carreira-solo e, em 1999, se despediu do grupo que a revelou durante o Carnaval, em um show emocionante sobre o trio elétrico que a levou às lágrimas. Novas alegrias estavam reservadas para a cantora, que, sem jamais abandonar as origens festivas, entregou-se a um repertório mais amplo, realçando a beleza de canções românticas do porte de “Se Eu Não Te Amasse Tanto Assim”, de Herbert Vianna e Paulo Sérgio Valle, trilha de novela global...

Bônus: “Porto-poema” (samba, 2023) – Marcos Frederico e Raphael Vidigal

O inesperado acendeu a canção “Porto-poema”, que nasceu com outro nome, e andamento diferente. O mundo estava sob uma pandemia quando o jornalista e poeta Raphael Vidigal recebeu do músico e habilidoso instrumentista Marcos Frederico uma melodia para colocar letra. Diante daquele cenário de desolação e medo veio à luz uma canção que exprimia aqueles sentimentos. A gestação durou cerca de dois anos e, nesse processo, todos sofreram transformações. Tanto os compositores quanto a própria cria. “Porto-poema” custou a encontrar o seu novo batismo. O verso que a intitulou foi um dos últimos a vir à vida. A melodia também se modificou plenamente, agora impulsionada por um esperançar dos novos tempos, de uma nova estrela a brilhar no horizonte.