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De Roberto Carlos a Maiara & Maraisa: Músicas para o Dia dos Namorados

O amor está no ar, como dizia aquela famosa canção norte-americana, de John Paul Young, e que enternece os corações

Maiara & Maraisa no especial de Roberto Carlos, ícones da canção romântica no Brasil

O amor está no ar, como dizia aquela famosa canção norte-americana, de John Paul Young, mas, aqui, damos preferência aos compositores nacionais, com uma leve exceção que comprova a regra, à francesa. O importante é tocar o coração, e a diversidade também marca presença com balada, toada e canção, de norte a sul do Brasil, com os mais variados ritmos e aquele pulsar inconfundível.

Todo casal é único, assim como a paixão é múltipla. Fato é que o amor e suas consequências segue como tema incontornável da Humanidade, ainda mais nesse Dia dos Namorados. Como dizia Molière: “Para dizer-lhes a verdade, os apaixonados são mesmo malucos!”.

Ouça a playlist completa:
“Eu Sei Que Vou Te Amar” (samba-canção, 1959) – Tom Jobim e Vinicius de Moraes

Considerada ainda hoje, com justiça, uma das mais românticas canções do repertório nacional, “Eu Sei Que Vou Te Amar” costuma embalar pombinhos apaixonados de todas as gerações. Composta pela dupla Vinicius de Moraes e Tom Jobim, a música foi lançada pela cantora lírica Lenita Bruno, em 1959. No mesmo ano, recebeu outras regravações, sendo a mais destacada delas a da intérprete paulista Elza Laranjeira.

Os versos de Vinicius ganharam a adesão de uma declamação feita por ele próprio do “Soneto de Fidelidade”, mais conhecido pelo afamado verso “que seja infinito enquanto dure”, numa gravação feita por Maria Creuza em 1972, com o acompanhamento do violão de Toquinho. “Eu sei que vou te amar/ Por toda a minha vida, eu vou te amar/ Em cada despedida…”.

“Pare o Casamento!” (rock, 1966) – Kenny Young e Arthur Resnick em versão de Luiz Keller

Mineira de Governador Valadares, criada no Rio de Janeiro, Wanderléa já era a grande vedete da Jovem Guarda, movimento que incluiu a juventude no cenário da canção nacional, quando, em 1966, lançou o seu quarto LP, “A Ternura de Wanderléa”, que fazia referência ao apelido que ela ganhara comandando um programa de TV ao lado de Roberto Carlos e Erasmo Carlos na TV Record: “Ternurinha”.

Habituada a gravar versões de sucessos para rocks norte-americanos, a cantora voltou a apostar no gênero e obteve êxito. “Para o Casamento!”, versão de Luiz Keller para rock de Kenny Young e Arthur Resnick, parodiava uma inusitada situação sobre a qual as cenas de casamentos em filmes costumam alertar: “Fale agora ou cale-se para sempre”, nos avisa o padre.

“Como É Grande o Meu Amor Por Você” (balada, 1967) – Roberto Carlos

Roberto Carlos vinha, aos poucos, de descolando do título de ídolo da garotada para se consagrar como o Rei da música brasileira. Um dos principais ativos nesse movimento foi apostar em canções mais maduras, que deixavam para trás o espírito juvenil e rebelde, em busca de declarações de amor capazes de acalentar corações de todas as idades.

“Como É Grande o Meu Amor Por Você” destoa do repertório de “Roberto Carlos em Ritmo de Aventura”, LP lançado em 1967, exatamente por esse motivo. A balada se eternizou como uma das mais tocadas em festas de casamento país afora, e empilhou regravações de nomes como Nara Leão, Fagner, Ivete Sangalo, Fábio Jr., Sandy, Lulu Santos, Roberta Miranda, Nelson Gonçalves, Joanna, Oswaldo Montenegro e muitos outros mais.

“Je T’aime… Moi Non Plus” (balada, 1969) – Serge Gainsbourg

Nada como uma polêmica para acender uma canção e leva-la ao topo das paradas de sucesso. Foi o que aconteceu com a balada “Je T’aime… Moi Non Plus”, do francês Serge Gainsbourg, que, em 1969, acabou proibida em diversos países, devido a seu conteúdo erótico. No Brasil, apesar da censura, a canção passou, e logo se tornou uma febre parecida ao fervor da cantora Jane Birkin, então namorada de Gainsbourg, que acompanha o compositor na gravação e simula um orgasmo. Para completar, a música é cantada em sussurros. Originalmente, ela teria sido composta para a musa Brigitte Bardot…

“Samba de Gesse” (bossa nova, 1971) – Vinicius de Moraes

Vinicius de Moraes (1913-1980) foi casado nove vezes. A sétima esposa foi a atriz baiana Gessy Gesse. Apresentados por Maria Bethânia, os dois selaram o matrimônio de maneira pouca ortodoxa. Numa praia de Salvador, Vinicius vestiu-se de bata branca e uma coroa de margaridas. Os dois foram morar na capital baiana, e o relacionamento durou sete anos.

Enquanto a chama do amor ainda não havia se apagado, o Poetinha compôs, para a sua musa, “Samba de Gesse”, um singelo samba ao estilo da bossa nova, em que declarava uma paixão que, apesar de nova, ele suspeitava vir de outras eras.

“Até parece que eu conhecia sempre você/ Que me aparece quando eu não via jeito de ser/ (…) Quando amanhece e eu ao meu lado vejo você/ Eu digo em prece que a vida é linda como você”. Fato curioso e raro na trajetória do compositor, Vinicius criou melodia e letra sozinho, sem parceiros.

“Amor de Índio” (balada, 1978) – Beto Guedes e Ronaldo Bastos

Beto Guedes nasceu em Montes Claros, no interior de Minas Gerais, e participou ativamente do movimento que ficou conhecido como Clube da Esquina desde o início, ao lado de Milton Nascimento, Fernando Brant, Lô Borges, Toninho Horta, Márcio Borges, Wagner Tiso e outros agregados, caso do carioca Ronaldo Bastos, que se tornou seu parceiro em uma de suas mais emblemáticas canções.

“Amor de Índio” deu título ao LP lançado por Guedes em 1978, o segundo de sua carreira solo, na esteira do sucesso de “A Página do Relâmpago Elétrico”. A balada combina com maestria versos de um lirismo romântico a observações reflexivas sobre o comportamento da natureza. Os versos iniciais atingem em cheio a mente e o coração do ouvinte: “Tudo que move é sagrado”.

“Minha Superstar” (balada, 1981) – Roberto Carlos e Erasmo Carlos

Uma tragédia marcou a vida de Erasmo Carlos, quando a ex-mulher Narinha, que sofria de depressão, cometeu suicídio, em 1995, aos 49 anos. Os dois estavam separados desde 1991. Mas quando eles ainda eram casados, Erasmo dedicou todo um disco à esposa, lançado em 1981, em que apareciam juntos na capa, com o cantor nos braços de Narinha.

Entre as canções de maior sucesso do disco está a balada “Minha Superstar”, de Erasmo e Roberto Carlos. Na letra, o compositor apaixonado descreve a esposa: “Ela é minha superstar/ Mulher de brilho farto/ Que eu sempre hei de ver brilhar/ No palco do meu quarto”. Um sucesso atemporal, e que ainda embala os casais românticos.

“Dia Branco” (balada, 1981) – Geraldo Azevedo e Renato Rocha

“Dia Branco” ostentou durante muito tempo o título de canção brasileira mais executada em casamentos e, talvez, ainda hoje, esteja entre as primeiras nesse ranking romântico. A história de sua criação é curiosa.

O batismo teria sido inspirado pelo famoso “Álbum Branco” dos Beatles, que, naquela época, fazia a cabeça de Geraldo Azevedo, pernambucano que rumou para o Sudeste a convite da cantora Eliana Pittman em busca de oportunidades para seu trabalho. A travessia, no entanto, não foi das mais fáceis.

Azevedo levou nove anos até conseguir gravar o seu primeiro LP. Pode-se dizer que “Dia Branco”, parceria com Renato Rocha, ajudou a asfaltar o caminho que havia sido aberto com “Bicho de Sete Cabeças” dois anos antes. A canção dolente ainda toca corações.

“Ai Que Saudade D’ocê” (toada, 1983) – Vital Farias

Paraibano de Taperoá com influências ibéricas em seu violão, o músico Vital Farias construiu uma obra particular, facilmente identificável. Entre seus maiores sucessos destacam-se “Era Casa, Era Jardim”, lançada em 1978 e regravada por Fagner, também conhecida como “Canção em Dois Tempos”, e “Veja (Margarida)”, de 1980, lançada por Elba Ramalho no disco “Capim do Vale”.

Também paraibana, Elba voltou à obra de Vital no álbum “Coração Brasileiro”, de 1983, um dos mais bem-sucedidos de sua trajetória, que rendeu à cantora os discos de ouro e platina pelas milhões de cópias vendidas. No repertório, Elba dá voz a “Ai Que Saudade D’ocê”, uma toada dolente, romântica, que caiu no gosto do público e entrou para o repertório de sucessos.

“Iolanda” (canção, 1984) – Pablo Milanés em versão de Chico Buarque

A tentação de estabelecer relações diretas entre o entorno e a obra só não pode cair na esparrela de perder de vista o primordial. Se o próprio Chico Buarque calhou de encontrar anacronismo em algumas de suas composições – e agora revê este ponto de vista quando as traz novamente à baila, certamente influenciado pelo cotidiano –, a observação mais atenta percebe nelas um sentido, acima de tudo, humano. A versão feita por Chico para a balada “Iolanda”, de Pablo Milanés, abriu espaço para o lado romântico e a gama de personagens que sua lírica foi capaz de criar nessas décadas. A versão lançada pela cantora Simone, em 1984, se transformou em sucesso atemporal.

“Aventura” (balada, 1986) – Eduardo Dussek e Luiz Carlos Góes

A dupla de compositores formada por Eduardo Dussek e Luiz Carlos Góes é responsável por músicas impagáveis do repertório nacional, como “A Índia e o Traficante”, “Doméstica”, “Brega-Chique”, “Folia no Matagal”, “Chocante”, dentre outras, em que mesclavam um humor ácido e irônico a críticas sociais, com forte influência do Teatro Besteirol do qual Góes fez parte, ao lado de nomes como Vicente Pereira, Miguel Falabella e Mauro Rasi. Além da irreverência, a dupla também apostava no romantismo, como comprova a balada “Aventura”, lançada em 1986, um dos maiores sucessos da carreira de Eduardo Dussek. Com canto doce e suave, ele disseca meandros do encontro.

“Preciso Dizer Que Te Amo” (balada, 1988) – Cazuza, Dé Palmeira e Bebel Gilberto

Interpretada por Cazuza no especial “Uma Prova de Amor”, exibido pela Rede Globo em 1989, a música teve o seu primeiro registro revelado no ano de 2004, quando o produtor Ezequiel Neves recuperou a fita cassete original. Lançada na coletânea “Preciso Dizer Que Te Amo”, a versão apresenta as vozes de Bebel Gilberto e Cazuza sob o acompanhamento do violão de Dé Palmeira.

“E até o tempo passa arrastado/ Só pra eu ficar do teu lado”, sublinham os versos prenhes de paixão. Inicialmente, o refrão dizia: “É que eu preciso dizer que te amo/ Desentalar esse osso da minha garganta”, mas Dé Palmeira o achou muito “punk”, e Cazuza substituiu a expressão por “te ganhar ou perder sem engano”.

A canção recebeu inúmeras regravações, com diferentes arranjos, mas mantendo o poder de identificação entre os românticos e apaixonados. Marina Lima, Leo Jaime, Bebel Gilberto e Cássia Eller foram alguns dos que deram voz a essa balada.

“Bem Que Se Quis” (balada, 1989) – Pino Danielle em versão de Nelson Motta

Marisa Monte era uma cantora lírica em turnê pela Itália quando foi descoberta e convencida por Nelson Motta a investir no universo da canção popular. A estreia não poderia ter sido mais animadora. Lançado em 1989, o disco que continha as iniciais da debutante (“MM”) vendeu mais de 700 mil cópias e ganhou elogios entusiasmados da crítica, transformando Marisa em um fenômeno imediato.

Além de regravar canções de Tim Maia, Os Mutantes, Titãs, Candeia e Luiz Gonzaga, ela deu voz a uma versão de Nelson Motta para o sucesso de Pino Danielle, rebatizado como “Bem Que Se Quis”. Romântica, a canção entrou na trilha sonora da novela “O Salvador da Pátria”, foi regravada por Nelson Gonçalves e tornou-se um dos maiores sucessos da carreira de Marisa Monte.

“Alma Gêmea” (balada, 1994) – Peninha

Aroldo Alves Sobrinho só é reconhecido quando chamado pelo nome que o consagrou. Cantor popular, compositor e instrumentista, Peninha nasceu em São Paulo e começou a carreira artística em 1972, com apenas 19 anos, ao gravar um compacto. O primeiro sucesso nacional veio em 1977, quando a música “Sonhos”, de Peninha, foi incluída na novela “Sem Lenço, Sem Documento”, da Rede Globo. Outro arrasa-quarteirão aconteceu em 1994. A balada “Alma Gêmea” foi gravada pelo cantor Fábio Jr. e chegou ao topo das paradas de sucessos. No ano de 1997, Peninha lançou a sua versão para o hit.

“Vambora” (balada, 1998) – Adriana Calcanhotto

“Vambora” integra o quarto disco de Adriana Calcanhotto, “Maritmo”, que deu início à trilogia marítima da cantora, finalizada em 2019 com o elogiado “Margem”. A música rapidamente se transformaria em um dos principais hits da gaúcha.

Calcada em uma estrutura romântica, em que o ponto de partida é o desenlace amoroso, Calcanhotto se vale de estratégias ambivalentes que aumentam a complexidade da canção, sem eliminar a sua atmosfera romântica.

Assim, “Vambora” atende tanto aos anseios do público que busca um consolo para a frustração romântica quanto para aqueles mais antenados, que pescam as referências às obras literárias dos poetas Ferreira Gullar (1930-2016) e Manuel Bandeira (1886-1968), cujos títulos dos livros “Dentro da Noite Veloz” e “A Cinza das Horas” são citados. Até hoje, “Vambora” é indispensável em qualquer show de sucessos da compositora gaúcha.

“Românticos” (balada, 1999) – Vander Lee

O segundo disco de Vander Lee, no “Balanço do Balaio”, foi lançado em 1999 pela gravadora Kuarup, e trouxe no repertório o maior sucesso de sua carreira: “Românticos”, uma balada delicada, dolente e sensível, com forte poder de identificação sobre o público. “Românticos são poucos/ Românticos são loucos desvairados/ Que querem ser o outro/ Que pensam que o outro é o paraíso”. Em 2019, a música ganhou uma versão da Orquestra Ouro Preto, com os vocais de Renegado, rapper que manteve longa amizade com Vander Lee. Hit.

“Você É O Mel” (jazz, 2000) – Cole Porter em versão de Augusto de Campos

No primeiro ano do novo milênio, o letrista, produtor e jornalista Carlos Rennó colocou na praça um projeto ousado: músicas de Cole Porter e George Gershwin, dois dos maiores estandartes do jazz norte-americano, traduzidas para o português em versões interpretadas por Caetano Veloso, Gilberto Gil, Chico Buarque, Mônica Salmaso, Jussara Silveira, entre outros.

Coube ao tropicalista Tom Zé dar conta de “Você é o Mel”, versão para clássico de Cole Porter concebida pelo poeta concretista Augusto de Campos. Tom Zé, aliás, era íntimo do movimento Concreto, tanto que Décio Pignatari concebeu a mais polêmica capa de sua discografia. Sem fugir ao atrevimento que pautou sua trajetória, o baiano dá voz a essa desconcertante tradução dum amor romântico.

“Vai Dar Namoro” (sertaneja, 2003) – Bruno & Marrone

Estouro da dupla sertaneja Bruno & Marrone no ano de 2003, a música foi lançada no álbum “Inevitável”, que trazia ainda a presença de Claudia Leitte na faixa “Doce Desejo” e uma regravação para “Você Não Me Ensinou a Te Esquecer”, música de Fernando Mendes. Aliás, a canção de Mendes foi gravada por Caetano Veloso neste mesmo ano. Para completar, Maria Bethânia intercala em seus shows o refrão de “Vai Dar Namoro” com “É O Amor”, outro sucesso sertanejo. “Do jeito que você me olha/ Vai dar namoro...”.

“Ainda Bem” (balada, 2004) – Vanessa da Mata e Liminha

Natural de Alto Garças, cidade no interior do Mato Grosso, Vanessa da Mata estourou nacionalmente com o primeiro álbum, de 2002, que arrebatou, de cara, disco de ouro pelas mais de 150 mil cópias vendidas. O desafio era provar que o sucesso não se tratava de “fogo de palha” no segundo disco, que confirmou o talento da intérprete ao redobrar a aposta: disco de platina com mais de 250 mil cópias vendidas.

“Essa Boneca Tem Manual”, de 2004, foi calcada na parceria entre Vanessa e o produtor Liminha. Juntos, eles assinaram a maior parte do repertório, que trazia regravações para sucessos de Chico Buarque e Caetano Veloso. “Ainda Bem”, que abria os trabalhos, confirmou a vocação para hit e garantiu lugar no coração dos casais apaixonados com sinceros versos de amor.

“Pra Sonhar” (balada, 2010) – Marcelo Jeneci

Músico polivalente, Marcelo Jeneci decidiu passar de coadjuvante a protagonista com o lançamento do primeiro disco solo, “Feito Pra Acabar”, em 2010, que arrebanhou elogios da crítica e um público cativo. No repertório, parcerias com nomes consagrados, como Chico César, Arnaldo Antunes, José Miguel Wisnik e Luiz Tatit. Mas foi uma canção só de Jeneci que se destacou das demais.

O conteúdo romântico de “Pra Sonhar” levou a música a embalar tantos casamentos pelo país que o compositor resolveu fazer um clipe só com cenas das cerimônias enviadas pelos próprios noivos. O sucesso da empreitada pode ser conferido com as mais de 30 milhões de visualizações no YouTube. “Se a gente se casar domingo/ Na praia, no sol, no mar/ Ou num navio a navegar”, diz.

“Partilhar” (balada, 2014) – Rubel

Talvez essa canção tenha passado desapercebida do grande público quando foi lançada, lá em 2014, pelo programa Sofar Sounds, ou mesmo quando, em 2018, finalmente integrou um álbum, o “Casas”, do cantor Rubel, mas nada que um videoclipe com a participação de Marina Ruy Barbosa e a inserção da dupla Anavitória não possa consertar.

A recriação da música gerou um hit, e, de lá pra cá, passou a ser comum a execução em casamentos de “Partilhar” e a escolha por vários casais de ter a música como aquela que marca o relacionamento. “Se for preciso/ Eu pego um barco, eu remo/ Por seis meses, como peixe pra te ver/ Tão pra inventar um mar grande o bastante/ Que me assuste e que eu desista de você”, diz a abertura da canção, antes de entrar no refrão: “Eu quero partilhar/ A vida boa com você”, simbolizando o companheirismo e a cumplicidade desse romance.

“Medo Bobo” (sertaneja, 2016) – Maraisa, Juliano Tchula, Vinicius Poeta, Junior Pepato e Benicio Neto

A ascensão de intérpretes femininas no universo do sertanejo universitário teve como um dos principais nomes a dupla de irmãs gêmeas Maiara & Maraisa, nascidas no dia 31 de dezembro de 1987, noite de réveillon, em São José dos Quatro Marcos, no interior do Mato Grosso.

Ao lado de “10%”, o primeiro hit a dar projeção nacional para as cantoras foi “Medo Bobo”, balada sertaneja assinada por um time tão amplo como aqueles que costumam apresentar sambas-enredos nas avenidas do atual Carnaval carioca.

Fato é que o refrão “E na hora que eu te beijei/ Foi melhor do que eu imaginei/ Se eu soubesse tinha feito antes/ No fundo sempre fomos bons amantes” grudou tanto nas rádios e plataformas digitais quanto no coração dos fãs. Em 2019, a faixa foi relida pelo cantor Rubel para a trilha da novela “Amor de Mãe”, com um arranjo diferenciado que voltou a enternecer corações.

“Ai, Amor” (balada, 2018) – Ana Caetano

Primeira música de trabalho do álbum “O Tempo É Agora”, lançado em 2018 pela dupla tocantinense Anavitória, formada por Ana Caetano e Vitória Falcão, a balada “Ai Amor” fala sobre um final de relacionamento e aborda as incertezas pelas quais todos nós já passamos ao experimentar a sensação de ver o amor indo embora.

Mais forte e mais expressiva que o restante do segundo álbum da dupla, a música composta por Ana Caetano possui um daqueles refrões chiclete e simples, que fazem a gente cantarolar sem perceber: “Ai, amor/ Será que tu divide a dor/ Do teu peito cansado/ Com alguém que não vai te sarar?/ Meu amor/ Eu vivo no aguardo/ De ver você voltando, cruzando a porta”, antes de emendar onomatopeias delicadas que substituem os famosos “laraiás” do samba. Como prova desse sucesso, o vídeo de “Ai, Amor” já tem quase 30 milhões de visualizações no YouTube.

“Meu Abrigo” (balada, 2018) – Gabriela Melim, Rodrigo Melim e Diogo Melim

Dentro de um cofrinho em formato de porco, Gabriela Melim juntava suas economias na adolescência. Porém, um belo dia, em vez de dinheiro, ela resolveu colocar no porquinho uma folha de papel, onde escreveu sobre o futuro próspero que almejava.

Com o refrão escrito pela irmã mais nova, os gêmeos Rodrigo e Diogo começaram a desenvolver aquele que viria a se tornar o maior hit do trio nascido em Niterói, no Rio de Janeiro, que despontou para o estrelato depois de aparecer no programa “SuperStar”, da Globo, em 2016.

Atualmente, o videoclipe de “Meu Abrigo” supera as 320 milhões de visualizações no YouTube, e a música chegou ao topo do Spotify em 2018, além de ter integrado a trilha de “O Sétimo Guardião”. Não restam dúvidas de que os versos do refrão, “meu amor, por favor, vem viver comigo/ no seu colo é o meu abrigo” mobilizaram multidões.

“Só Nós Dois” (balada, 2019) – Tim Bernardes

“Grande amor da minha vida…”, Tim Bernardes não deixa dúvidas, logo de cara, do que vem por aí: uma autêntica canção de amor, na tradição romântica da música brasileira. Tim, aliás, é um conhecedor privilegiado desse universo, o que pode ser constatado no trabalho moderno que ele desenvolve com a banda O Terno.

Filho de Maurício Pereira, que fundou, com André Abujamra, o grupo Os Mulheres Negras, Tim já regravou a clássica valsa de Lamartine Babo, “Eu Sonhei Que Tu Estavas Tão Linda”, compôs e cantou com Jards Macalé a ótima “Buraco da Consolação” e fez um dueto com Gal Costa em “Baby”, de Caetano. “Só Nós Dois” elabora todas essas influências no estilo próprio de Tim, com um canto melancólico que acentua a bonita e sensível harmonia de “Só Nós Dois”.

“Tangerina” (MPB, 2019) – Tiago Iorc e Roberto Pollo

“Tangerina” foi lançada por Tiago Iorc no álbum “Reconstrução”, o quinto de estúdio da carreira do brasiliense, em maio de 2019, mas ganhou fama e caiu no gosto do público depois de ter sido incluída no bem-sucedido projeto “Acústico MTV”, do mesmo ano, e contar com a participação da cantora pernambucana Duda Beat, que se inspirou para que tudo se encaixasse perfeitamente.

Além da voz afinada, Duda gesticulou bem, dançou e mostrou toda a sensualidade da letra. O toque final foi dado com o vestido volumoso da intérprete, na cor tangerina. O clima intimista criado para o lançamento acústico deu outro tom à canção, e a participação do guitarrista Mateus Asato trouxe ainda mais genialidade à gravação.

Atualmente, o registro de “Tangerina” no YouTube supera 15 milhões de visualizações. “Chega, bem devagar/ Calma, só me beija/ Cala, minha boca”, dizem os versos iniciais.

“Faz um Carnaval Comigo” (MPB, 2019) – Jade Baraldo e Pedro Luís

A sensualidade dita o ritmo de “Faz um Carnaval Comigo”, que reúne dois nomes de diferentes gerações. A catarinense Jade Baraldo, uma das revelações da música brasileira contemporânea, conta que se sentiu atraída “pelo frescor carnavalesco e a característica visceral” da letra de Pedro Luís. A canção é parte do projeto “Macro”, que uniu a música de Pedro Luís ao universo visual de Batman Zavareze, e rendeu um videoclipe com a presença dos compositores, que cantam em dueto.

“Faz um Carnaval Comigo” é uma dessas preciosidades da música popular brasileira, com seus versos langorosos e cheios de lirismo, capazes de colocarem a delicadeza do sentimento amoroso no mesmo bojo do desejo carnal: “Faz um carnaval comigo/ Desfilando em meu umbigo/ Evolui em minha nuca/ Ela louca, eu maluca”. A melodia envolvente contribui para realçar esse impacto da composição.

“Graveto” (sertanejo universitário, 2020) – Edu Moura, Matheus Di Pádua e Normani Pelegrini

A canção “Graveto”, interpretada por Marília Mendonça, foi marcada pela polêmica do videoclipe gravado em um show surpresa e aberto ao público na cidade de Belo Horizonte, em janeiro de 2020. Na ocasião, cerca de 50 mil pessoas compareceram à Praça da Estação, cartão postal da cidade, para um evento que foi divulgado apenas algumas horas antes.

A presença de um público muito maior que o esperado pela Polícia Mineira gerou registros de violência e furtos, terminando com a prisão de 14 pessoas.

Passado o susto, o resultado final traz belas imagens, que demonstram a força dos fãs da cantora sertaneja em um videoclipe cheio de delicadeza e emoção, que já conta com mais de 149 milhões de visualizações no YouTube.

A música faz parte do projeto “Todos os Cantos” e está entre as mais tocadas do Spotify Brasil, se consolidando como um hit do sertanejo universitário.

“Arco-íris” (MPB, 2021) – Ed Nasque e Raphael Vidigal

A delicadeza permeia todo o repertório de “Interior”, álbum de estreia de Ed Nasque, mineiro de Belo Horizonte que se mudou para Ouro Preto para cursar Música e realizar um sonho. A atmosfera de sonho, embora com pés fincados na realidade, aqui se concentra na transição entre mar e montanha, imagens recorrentes nas letras do trabalho. Agora chega a parte que me cabe. Antes da pandemia, Ed me convidou para escrever a letra de uma melodia que ele compôs. Mas o letrista não é dono das palavras, ele só as escava de dentro das notas. Portanto, tudo que digo em “Arco-Íris” já estava lá, escondido nesse interior sonoro que Ed revela a todos e a todas nós. A esperança está de volta.

“Porto-poema” (samba, 2023) – Marcos Frederico e Raphael Vidigal

O inesperado acendeu a canção “Porto-poema”, que nasceu com outro nome, e andamento diferente. O mundo estava sob uma pandemia quando o jornalista e poeta Raphael Vidigal recebeu do músico e habilidoso instrumentista Marcos Frederico uma melodia para colocar letra.

Diante daquele cenário de desolação e medo veio à luz uma canção que exprimia aqueles sentimentos. A gestação durou cerca de dois anos e, nesse processo, todos sofreram transformações.

Tanto os compositores quanto a própria cria. “Porto-poema” custou a encontrar o seu novo batismo. O verso que a intitulou foi um dos últimos a vir à vida. A melodia também se modificou plenamente, agora impulsionada por um esperançar dos novos tempos, de uma nova estrela a brilhar no horizonte.