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Wanderléa comemora 60 anos de carreira e lança disco de chorinhos

Cantora que foi musa da Jovem Guarda alcançou o topo da parada de sucessos com ‘Prova de Fogo’, ‘Ternura’, dentre outras

Wanderléa, a musa da Jovem Guarda, é uma mineirinha de Governador Valadares que, há 60 anos, gravou o seu primeiro disco

Ela é uma prova de fogo e, ao mesmo tempo, uma ternurinha. Wanderléa, a musa da Jovem Guarda, é uma mineirinha de Governador Valadares que, há 60 anos, em 1963, gravou o seu primeiro disco pela histórica gravadora CBS.

Na capa, Wanderléa aparecia sentada em um banquinho, com coque no cabelo e um olhar matreiro, como quem desafiava o ouvinte a conhecer o conteúdo do álbum, que trazia versões para clássicos da canção italiana, uma das influências da Jovem Guarda. Em “Quero Amar”, a cantora era acompanhada pelo grupo Renato e seus Blue Caps, outra referência do movimento.

O primeiro grande sucesso da carreira veio em 1965, com “Ternura”, versão de Rossini Pinto para um estandarte da canção norte-americana. A música tocou tanto nas rádios que acabou se transformando em apelido de Wanderléa, já devidamente coroada como líder da Jovem Guarda ao lado de Roberto e Erasmo Carlos. O trio ganhou um programa de televisão e passou a ter a sua imagem associada a diversos produtos de entretenimento, como bonecos, roupas e outros badulaques.

Herdeira da tradição aberta na música brasileira por Celly Campelo, a Jovem Guarda foi o primeiro movimento pensado para privilegiar a canção jovem no Brasil, e logo elegeu o rock como seu ritmo predileto, pela identificação com a rebeldia que provocava nesse público, sedento por algo novo e libertador. Em 1966, Wanderléa novamente subiu ao topo das paradas de sucesso, mas não subiu ao altar, com “Pare o Casamento”, mais uma versão para um clássico norte-americano.

A primeira grande transformação na carreira de Wanderléa aconteceu em 1972, com “Maravilhosa”, em que ela surgia de cabelo black power, expressão de seriedade, e dava voz a composições de Gilberto Gil, Hyldon e Jorge Mautner, autores ligados à MPB, ao samba e à música soul, até então ausentes de sua discografia. Era uma maneira corajosa de a cantora se posicionar contra a violência da ditadura.

Ao longo dessa bem-sucedida e prodigiosa carreira, Wanderléa passou por outras transformações, renovando seu repertório e emplacando canções em novelas da Globo, como “Foi Assim” e “Te Amo”, mantendo inabalada a sua voz melodiosa e doce, talhada para o romantismo. Em 2016, dedicou o disco “Vida de Artista” à obra da mineira de Juiz de Fora, Sueli Costa, compositora de “Jura Secreta”.

Para celebrar as seis décadas de atividade ininterrupta, a intérprete de 78 anos acaba de colocar na praça o álbum “Wanderléa Canta Choros”, em que retorna ao gênero que a introduziu à música, quando começou cantando no Regional de Canhoto. E, desafiando o tempo, continua uma Ternurinha.