Ouvindo...

Beth Carvalho gravou, há 40 anos, disco de Carnaval que lançou Zeca Pagodinho

Com músicas como ‘Firme e Forte’, ‘Caciqueando’ e ‘Camarão Que Dorme a Onda Leva’, a cantora ainda trazia uma pérola de Cartola

Beth Carvalho lançou, em 1983, o disco carnavalesco ‘Suor no Rosto’, que deu voz a Zeca Pagodinho, Jorge Aragão e Martinho da Vila

O Brasil vivia os ventos da redemocratização e o Carnaval se aproximava. Foi nesse cenário que Beth Carvalho lançou, há 40 anos, o 16º disco da sua carreira. Mas não foi um disco qualquer. “Suor no Rosto” apresentou ao mundo o talento de um compositor iniciante: Zeca Pagodinho, que participa da faixa “Camarão Que Dorme a Onda Leva”, dele e de Arlindo Cruz e Beto Sem Braço. A partir de então, Beth Carvalho ficou conhecida como a “Madrinha do Samba”.

No repertório do álbum, uma gama de sucessos do porte de “Suor no Rosto”, “Firme e Forte”, “Caciqueando”, “Jiló com Pimenta”, “É Hora de Pintar”, dentre outros, em que ela dava voz e vez a compositores como Jorge Aragão, Dida, Nei Lopes, Noca da Portela, Martinho da Vila e Dona Ivone Lara, tudo no ritmo da folia, reafirmando a sua condição de pesquisadora atenta das nossas raízes. Para completar, encerrava a festa com uma canção natalina de Cartola.

Na capa do LP, Beth Carvalho surgia com seus cabelos ruivos e o sorriso estampado no rosto, coberta por confetes e serpentinas. Era a realização da intérprete, que começou a carreira em 1965, quando lançou o seu primeiro disco, e, na sequência, tirou o terceiro lugar no Festival Internacional da Canção com “Andança”, toada de Edmundo Souto, Paulinho Tapajós e Danilo Caymmi. O encontro definitivo com o samba ocorreu em seguida, nos anos 70.

A partir de 1973, Beth Carvalho, atendendo à demanda das gravadoras e do público, passou a lançar um disco por ano, acumulando sucessos como “1.800 Colinas”, “Saco de Feijão”, “Coisinha do Pai”, “Vou Festejar”, “Mas Quem Disse Que Eu te Esqueço”, e tantas outras, em que a crítica social convivia pacificamente com o discurso amoroso e o ritmo esfuziante, pra cima. Outro diferencial da cantora foi resgatar ícones, como Cartola e Nelson Cavaquinho...

Foi numa de suas inúmeras visitas ao bloco carnavalesco Cacique de Ramos que Beth teve o primeiro contato com nomes do grupo Fundo de Quintal, Zeca Pagodinho, Almir Guineto, Luiz Carlos da Vila e até Bezerra da Silva, sob os quais, com a sua postura generosa e desbravadora, ela ajudou a jogar luz. A partir daí, o pagode tomava o seu novo espaço na história da música brasileira.

Em um de seus últimos discos lançados, “Nosso Samba Tá na Rua”, de 2011, Beth Carvalho voltou ao lugar que a consagrou, hasteando a bandeira do Cacique de Ramos na capa. Em 2019, aos 72 anos, a Madrinha do Samba nos deixou, após uma longa batalha contra problemas de coluna, mas legou, para a posteridade, provas incontestáveis da riqueza cultural desse país chamado Brasil. Basta olhar para o povo que encontramos as repostas, como disse Beth.