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Relembre os grandes sucessos de Paulo Diniz, autor de ‘Pingos de Amor’

Cantor e compositor pernambucano teve suas músicas gravadas pelo grupo Kid Abelha, Emílio Santiago, Simone e Clara Nunes

Paulo Diniz foi um dos músicos mais tocados nos anos 70, graças a músicas como ‘Pingos de Amor’ e ‘Um Chope pra Distrair’

Paulo Diniz foi um músico de muito sucesso na década de 1970, que começou a carreira ligado ao movimento da Jovem Guarda, mas, logo em seguida, criou o seu estilo, com uma assinatura própria, baseada em um jeito de cantar que injetava doses de rebeldia, e canções que transitavam entre a crítica dos costumes e as dores-de-amores. Distante dos holofotes após contrair esquistossomose, ele manteve afiada a navalha da poesia, fosse musicando autores consagrados, como Drummond e Ferreira Gullar, ou lançando o seu olhar acerca da existência em suas reminiscências e nos instantes do dia a dia.

“O Chorão” (jovem guarda, 1966) – Edson Mello e Luiz Keller

A Jovem Guarda começou com uma proibição, e não foi o “É Proibido Proibir” de Caetano Veloso, muito menos o “É Proibido Fumar”, de Roberto e Erasmo Carlos. No segundo ano de instauração da ditadura militar no Brasil, em 1965, as transmissões de jogos de futebol ao vivo pela televisão estavam suspensas. Assim, com o horário vago, a TV Record de São Paulo colocou no ar o programa que trazia o nome de que se apoderou o movimento, ou, antes, tenha sido o contrário. Nesse embalo juvenil, Paulo Diniz, começando a carreira, lançou “O Chorão”, de Edson Mello e Luiz Keller. Foi um grande êxito.

“Quero Voltar pra Bahia” (samba, 1970) – Paulo Diniz e Odibar

Irmão de Maria Bethânia e filho de Dona Canô, Caetano Veloso foi preso e torturado pela ditadura militar no período mais repressivo do regime, sendo exilado em Londres, onde deu forma a um de seus discos mais aclamados tanto pela crítica quanto pelo público. “Transa”, de 1972, reuniu participações fundamentais de nomes como Jards Macalé, Gal Costa e Angela Ro Ro. “Quero Voltar pra Bahia”, de Paulo Diniz e Odibar, foi inspirada nas cartas que Caetano, exilado em Londres, escrevia para o semanário “O Pasquim” durante a ditadura militar. A música foi lançada em 1970, e alcançou um largo sucesso.

“Um Chope pra Distrair” (samba, 1970) – Paulo Diniz e Odibar

Diniz e Odibar se conheceram no Solar da Fossa, lendário casarão localizado no bairro de Botafogo, no Rio, que abrigou Paulinho da Viola, Gal Costa, Caetano Veloso, Paulo Coelho, Betty Faria e outros artistas de destaque na década de 60, como Paulo Leminski, responsável pelo batismo da música “Ponha um Arco-Íris na Sua Moringa”, outra da dupla. Os dois estrearam no ofício compondo juntos “Brasil, Brasa, Braseiro”. Outro sucesso foi o samba “Um Chope pra Distrair”, lançado em 1970, naquele LP com a capa psicodélica.

“Ponha um Arco-Íris na Sua Moringa” (salsa, 1970) – Paulo Diniz e Odibar

O “samurai malandro”, como ficou conhecido o poeta de Curitiba, Paulo Leminski, traduz, logo no codinome, a gama de contradições e opostos que atraíram o artista. Com descendência polonesa e africana, Paulo furou o umbigo do Paraná e de lá puxou oriente, Brasil e Europa. Cinema, judô e arte plástica. Aquele que com aparente superficialidade ia do raso ao profundo, do clássico ao populacho. E foi sendo “mínimo em matéria de máximo” que Paulo Leminski construiu uma obra cuja precisão e musicalidade o eternizou junto a gentes variadas, como Paulo Diniz e Odibar, no batismo de uma maluca salsa.

“Pingos de Amor” (balada, 1971) – Paulo Diniz e Odibar

Depois de despontar como intérprete da cômica “O Chorão”, em 1966, Paulo Diniz, um então jovem promissor de Pesqueira, no agreste de Pernambuco, enfileirou hits radiofônicos que ainda são obrigatórios em apresentações de voz e violão nos bares de todo o país, como “Pingos de Amor”, regravada pela banda Kid Abelha. Lançada em 1971, a música alavancou Paulo Diniz ao estrelato. “Pingos de Amor”, parceria com o baiano Odibar, rapidamente se tornou um clássico da música brasileira, com sua melodia simples e seus versos apaixonados. Em junho do ano 2022, Paulo Diniz faleceu aos 82 anos...

“O Meu Amor Chorou” (samba, 1971) – Luiz Marçal Neto

Reza a lenda que Luiz Marçal Neto era um arquiteto bom de copo e de prosa. Fato é que seu nome aparece como único creditado na autoria de um grande sucesso. Lançado em 1971, o samba “O Meu Amor Chorou” ganhou fama com a voz peculiar de Paulo Diniz, estourado nas paradas na época. Sérgio Dimacau, outro boêmio carioca, dizia que a música era dele, e não de Marçal. Seja como for, a letra relata o entrevero amoroso dum casal que não consegue chegar a bom termo quanto ao casamento. Esse tema, por sinal, é de quase todos, o que responde por boa parte de seu sucesso, além da melodia perfeita.

“E agora José?” (MPB, 1972) – Paulo Diniz e Carlos Drummond de Andrade

“Depois que o Paulo adaptou o poema ‘E Agora, José?’, o que se dizia é que o próprio Drummond confessou, um dia, que não conseguia mais tirar a melodia da cabeça ao recitar”. O testemunho é do jornalista paraibano José Teles, biógrafo em potencial do músico Paulo Diniz. Em 1972, enfronhado no universo da poesia, Paulo Diniz resolveu musicar os versos mais conhecidos de então, e se atreveu a criar melodia para o poema “E agora José?”, de Carlos Drummond de Andrade. O resultado foi um sucesso de público e crítica, incluindo o poeta...

“Viola no Paletó” (balada, 1973) – Paulo Diniz e Roberto José

“O Paulo Diniz tem um timbre muito peculiar, que as pessoas não conseguem imitar, graças a um vibrato característico e à interpretação meio gritada da voz. Ele é capaz de transitar entre o extremo bom gosto e gravações bem populares”, analisa o documentarista Max Levay. Essa característica pode ser observada na balada “Viola no Paletó”, lançada em 1973. Parceria com o poeta Roberto José, a letra aborda uma lida sofrida, de lutas diárias, comum a muitos brasileiros, sem perder o olhar poético e de esperança para o horizonte. Pérola.

“Oco do Mundo” (toada, 1976) – Paulo Diniz e Juhareiz Correya

Max Levay dirige o documentário “Paulo Diniz: No Oco do Mundo”, ainda sem previsão de estreia nos cinemas. O título faz alusão a uma desconhecida canção do protagonista, presente no não menos obscuro LP “Estradas”, de 1976, concebido durante uma viagem de 36 dias, feita a pé entre Recife e Juazeiro do Norte, ao lado do amigo Juhareiz Correya. “Paulo Diniz voltou do Rio em 1974, procurando um companheiro para essa viagem, que era um sonho da sua mãe, porque ela era muito devota do Padre Cícero”, conta Levay.

“Bela, Bela” (MPB, 1978) – Paulo Diniz e Ferreira Gullar

Ferreira Gullar iniciou sua parceria com Milton Nascimento em 1979, quando a partir de versos do célebre “Poema Sujo” eles deram forma a “Bela, Bela”, música que entrou para a trilha de peça teatral protagonizada por Esther Góes e Rubens Corrêa. Milton só registrou a canção em 1981, no disco “Caçador de Mim”. “Bela, bela/ Mais que bela/ Mas como era o nome dela?/ Não era Helena, nem Vera/ Nem Nara, nem Gabriela/ Nem Tereza, nem Maria/ Seu nome, seu nome era”, cantava ele no encerramento do álbum. Antes, em 1978, Paulo Diniz compôs outra melodia para os mesmos versos, e a gravou no disco “É Marca Ferrada”. A versão de Milton ganhou outro registro, em 1988, com a participação da cantora Alaíde Costa, e foi gravada por Wagner Tiso, em 1979.