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Jeferson Tenório participa de bate-papo em BH sobre literatura, racismo e censura

Jeferson Tenório, vencedor do prêmio Jabuti, participa de bate-papo com entrada gratuita em BH nesta quarta-feira (10)

Jeferson Tenório, escritor

Jeferson Tenório, vencedor do Prêmio Jabuti, participa de bate-papo sobre o romance De Onde Eles Vêm, racismo, censura e o papel da literatura na sociedade brasileira. A conversa acontece na noite desta quarta-feira (10), na Biblioteca Pública Estadual de Minas Gerais, no bairro Funcionários, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte.

O evento faz parte do tradicional projeto Sempre um Papo, que aproxima autores e leitores há 40 anos e acontece a partir das 19h30. A entrada é gratuita.

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Trajetória e formação

Jeferson Tenório nasceu em 1977 no Rio de Janeiro e hoje vive em São Paulo. É formado em Letras e tem doutorado em Teoria Literária pela PUC-RS. Além de escritor, atua como professor e pesquisador. Sua carreira literária começou a ganhar destaque com o romance O beijo na parede (2013), eleito Livro do Ano pela Associação Gaúcha de Escritores.

A obra de Tenório é marcada por reflexões sobre racismo estrutural, violência policial, memória familiar e a experiência negra no Brasil, mesclando elementos autobiográficos com narrativa sensível e por vezes experimental.

O autor se consolidou nos últimos anos com O Avesso da Pele (2020), que já vendeu mais de 200 mil exemplares e venceu o Prêmio Jabuti de 2021. O livro acompanha Pedro, jovem negro que tenta reconstruir a própria história depois que o pai é morto em uma abordagem policial.

“O Avesso da Pele foi uma mudança que eu posso dizer radical na minha vida. Eu trabalhava como professor de escolas públicas. E aí o livro é publicado em 2020 e teve uma boa repercussão já de início, e aí depois veio o prêmio Jabuti, começou a entrar nas escolas, depois veio toda a história da censura. Então é um livro que se mantém. Era a ideia de contar a história de um professor, a história do ensino, falar sobre a violência policial e sobre a história de um pai e um filho. Era o que eu queria com esse livro trazer”, diz em entrevista à Itatiaia.

Em 2024, exemplares de O Avesso da Pele foram recolhidos de colégios estaduais do Paraná. “Todo ano tem uma censura. Eu já estou me acostumando com isso, ou é ameaça, ou é intimidação, ou é censura. Estamos vivendo um momento bastante tenso com tudo que está acontecendo, com o julgamento histórico de um ex-presidente, e os efeitos colaterais disso são a reação, e essa reação tem a ver com silenciamento, com censura. Então o que acontece comigo, e não só comigo, mas também com outras personalidades, é justamente esse efeito colateral que a gente precisa estar muito atento, porque a democracia não é algo ganho, a democracia está sendo colocada à prova”.

O novo romance: De Onde Eles Vêm

Em De Onde Eles Vêm, Tenório acompanha Joaquim, jovem negro órfão que precisa cuidar da avó doente e enfrenta dificuldades para permanecer na universidade, nos anos 2000, em Porto Alegre.

“A ideia era contar um pouco sobre a trajetória desses estudantes cotistas negros que entram pelo sistema de cotas. Mas eu não queria fazer um livro sobre as cotas. Eu queria fazer um livro sobre alguém se tornando um leitor, tomando consciência racial, consciência social, e discutir sobre a permanência dele na universidade. Então a ideia do livro é um pouco sobre isso.”

O romance mostra o despertar racial de Joaquim em meio a um ambiente hostil, retratando uma jornada de obstáculos, sonhos e resistência em um momento em que políticas de inclusão eram vistas como problema, e não como solução.

Sempre um Papo: literatura em diálogo

O bate-papo em Belo Horizonte faz parte do Sempre um Papo, programa criado por Afonso Borges há 40 anos que promove encontros gratuitos entre escritores e leitores, aproximando o público de debates sobre literatura, sociedade e política.

“Conheço o Afonso Borges (idealizador do Sempre um Papo), sou curador também das feiras que ele organiza. É um grande amigo. É a minha segunda vez que participo do Sempre um Papo. E a ideia hoje é a gente falar do lançamento do meu livro novo, De Onde Eles Vêm, que conta a história do Joaquim, que entra pelo sistema de cotas, fala sobre literatura, sobre o momento político também”, comenta.

“A ideia hoje é a gente falar do meu livro, da literatura e do momento político também”, acrescenta.

Tenório também refletiu sobre a dificuldade de criar leitores no Brasil e a importância de bibliotecas, livrarias e festivais, para além da escola.

“A gente não tem um ambiente propício para criar leitores. Literatura não é elitista. Muita gente acha que só quem tem acesso a uma educação de qualidade consegue ler ou escrever literatura. É uma luta de classe. Precisamos tratar a literatura como algo que fala do povo, da vida, das coisas do cotidiano. Cultura e literatura são direitos de cidadania, não apenas lazer”, conclui.

Estudante de Jornalismo no Centro Universitário Una. Passagens por assessoria política, assessoria de imprensa e TV Alterosa, onde atuou como repórter, produtor e editor do Jornal da Alterosa. Atualmente, produtor do Plantão da Cidade, na Rádio Itatiaia.