A voz de Gal Costa alcançava o espaço sideral, como ela mesma canta em “Não Identificado”, música que Caetano Veloso compôs para homenageá-la. Lançada em 1969, a voz brilhante como um cristal provocou espanto e anunciou a revolução tropicalista, com toda a sua beleza e irreverência.
Antes, em 1967, Gal estreou em disco ao lado de Caetano, no álbum “Domingo”, em que ambos eram muito influenciados pela bossa nova, o que valeu a Gal, na época, o apelido de “João Gilberto de saias”.
Disposta a quebrar paradigmas e superar barreiras, ela foi a voz feminina mais impactante do histórico disco “Tropicalia ou Panis Et Circensis”, de 1968, que ainda trazia em seu time Rita Lee e Nara Leão. Cada uma à sua maneira, elas mandavam o seu recado. O de Gal era com agudos celestiais.
Com o exílio de Caetano e Gilberto Gil, Gal assumiu a bandeira tropicalista e se tornou a porta-voz do movimento, gravando discos emblemáticos, feministas, cheios de atitude e provocação. Em 1973, o disco “Índia”, que trazia na capa um close da parte de baixo de seu biquíni, foi censurado e teve que ser vendido sob uma manta preta, o que só aumentou a curiosidade do público e catapultou suas vendagens.
Outros sucessos vieram na sequência, como “Meu Nome É Gal”, “Pérola Negra”, “Vapor Barato”, “Barato Total”, “Modinha para Gabriela”, “Folhetim”, “Bloco do Prazer” e tantos outros, consagrando Gal como uma das maiores cantoras da história da música brasileira. Antenada, ela não deixou de prestar sua reverência a clássicos nacionais, regravando versões arrebatadoras para músicas de Dorival Caymmi, Ary Barroso e Braguinha.
Uma das últimas contribuições de Gal foi com a cantora sertaneja Marília Mendonça. As duas interpretaram a balada “Cuidando de Longe”, lançada no disco “A Pele do Futuro”, de 2018. “Quando Você Olha Pra Ela”, o último sucesso radiofônico de Gal, foi composto por Mallu Magalhães, o que só comprova que a voz divina maravilhosa da intérprete esteve sempre atenta ao novo.