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Relembre grandes sucessos de Capiba, que compôs de frevo a samba-canção

Compositor pernambucano é responsável por canções atemporais, como ‘Maria Bethânia’ e ‘A Mesma Rosa Amarela’

Capiba teve suas músicas gravadas por Nelson Gonçalves, Maysa, Aracy de Almeida e Caetano Veloso

Lourenço da Fonseca Barbosa, conhecido como Capiba, nasceu no dia 28 de outubro de 1904, em Surubim, interior de Pernambuco, e faleceu no Recife, no último dia do ano de 1997, noite de réveillon, aos 93 anos. Reverenciado como o maior compositor de frevos do Brasil, Capiba herdou o apelido com o qual se consagrou de seu avô: toda a família era conhecida como “Capiba”, sinônimo de “jumento” no Nordeste, devido à baixa estatura e teimosia.

Aos 16 anos, Capiba começou a compor valsas ao piano. Depois de ter músicas carnavalescas gravadas por Francisco Alves, conheceu o primeiro sucesso em 1934, com o frevo “É de Amargar”, a que se seguiram o samba-canção “Maria Bethânia”, gravado por Nelson Gonçalves, “A Mesma Rosa Amarela”, e outros.

“É de Amargar” (frevo-canção, 1934) – Capiba

O frevo se divide em três subgêneros, sendo o primeiro deles de rua, que é exclusivamente instrumental, com uso de pistões, trombones, trompetes e notas agudas. O frevo de bloco surgiu a partir das serenatas de Carnaval, com o uso de banjos, cavaquinhos, violões e outros instrumentos de corda e de sopro, como o clarinete. Por fim, o frevo canção é aquele cantado, que exige um ritmo mais lento. Capiba foi um dos maiores compositores de frevo canção de todos os tempos, autor de “É de Amargar”, “A Pisada É Essa” e “Cala a Boca Menino”. Luís Bandeira também se destacou no gênero, compondo a irresistível “Voltei Recife”.

“Manda Embora Essa Tristeza” (frevo-canção, 1936) – Capiba

Aracy de Almeida tornou-se conhecida de toda uma geração como a jurada mal-humorada de programas de calouros comandados por Silvio Santos e Chacrinha. A pecha, no entanto, não faz justiça à sua história. “Araca”, apelido que ganhou do cronista e compositor Antônio Maria, era a cantora predileta de Noel Rosa, e uma das mais requisitadas na Era de Ouro do Rádio. Foi nesse período que ela deu voz ao frevo-canção “Manda Embora Essa Tristeza”, de Capiba, lançado em 1936. A letra é, justamente, uma prece e louvor à alegria.

“Maria Bethânia” (samba-canção, 1945) – Capiba

Feita por encomenda de Hermógenes Viana, diretor do Teatro dos Bancários, que ensaiava a peça “Senhora de Engenho”, de Mário Sette, a música é inspirada na heroína da montagem. Nelson Gonçalves, em temporada pelo Recife, a ouviu no rádio e acabou registrando a música. Esta gravação só aconteceu por insistência de um lojista pernambucano, que se comprometeu junto à RCA-Victor a comprar um mínimo de duzentos discos. Clássica, a canção inspirou depois o batismo da irmã de Caetano Veloso.

“A Mesma Rosa Amarela” (samba, 1962) – Capiba e Carlos Pena Filho

Nascido em uma família de artistas, sobrinho de Nelson Rodrigues e Mário Filho – “A Mesma Rosa Amarela”, de Capiba e Carlos Pena Filho, foi composta na sala de sua casa – Cafi teve na prima Dani Hoover o empurrão para resgatar a intensa trajetória. A produtora imaginou uma grande exposição, misturando capas de disco a desenhos e pinturas. “Capa de LP era quase obra de arte, pelo tamanho e o formato. Com o advento da modernidade, perdeu-se esse alumbramento e Cafi foi se reinventando vida afora”, avalia o cineasta Lírio Ferreira. Cafi se tornou o grande fotógrafo de capas de disco da MPB.

“Rosa do Mar” (frevo-canção, 1968) – Capiba

Uma rosa num copo d’água. Mesmo que não haja motivo, sombreei cravos presos, botões de rosa já sem vida. Abraça-me na minha carência. Estou me tornando cada noite mais cobra-coral. A gente está incrivelmente sozinho nesse mundo. Tenho os olhos hirtos, pedregulhos massageiam-me a barriga deslizante entre musgos e muros. Na hora do despedaçar da rosa, quando não flui o perfume. Amor já não adianta nada. Ou tudo. Na vitrola “Rosa do Mar”, de Capiba. A alegria não me diz nada, sequer sussurra. Esfuzia vazios vidros que tremem à luz colorida. Esse frevo-canção segue tocando os corações noturnos.