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Intérprete fora de série, Milton Nascimento se apropriou de canções

Músicas de Chico Buarque, Catulo da Paixão Cearense, Marcos Valle e Gilberto Gil ganharam versões definitivas da ‘voz de Deus’

Milton Nascimento é considerado um dos maiores cantores da história da música brasileira

A voz de Deus. Foi assim que Elis Regina definiu a voz de um dos maiores cantores da música brasileira. Para muitos, o maior de todos os tempos. Afinal de contas, não é qualquer um que recebe um elogio desse porte, ainda mais de Elis Regina. Também conhecido como o mais mineiro de todos os cariocas, Milton Nascimento nasceu há 80 anos no Rio de Janeiro, mas foi criado em Três Pontas, no interior de Minas, e foi adotado após perder a mãe aos 2 anos.

A voz celestial não demorou a chamar a atenção. Vizinho de Wagner Tiso em Três Pontas, Milton se mudou para Belo Horizonte e conheceu a turma com quem formaria o histórico Clube da Esquina, movimento que abalou as estruturas da música brasileira com sua mistura única de canção barroca e influências estrangeiras, notadamente dos Beatles. Intérprete fora de série, Milton se apropriou de canções de Chico Buarque, Marcos Valle e João Bosco.

“Luar do Sertão” (toada, 1914) – Catulo da Paixão Cearense e João Pernambuco

Catulo da Paixão Cearense nasceu na capital do Maranhão, e aos dez anos foi para o interior do Ceará. Interior que amaria muito mais do que qualquer capital. Catulo era apaixonado pelas coisas singelas, simples e ingênuas e delas fez a obra-prima de suas canções. Eternizada na memória afetiva do povo brasileiro, “Luar do Sertão” foi composta por ele em 1914, e gerou divergências com relação à autoria da música. Enquanto Catulo afirmava que a havia composto sozinho, inspirado por uma música folclórica, outros como Heitor Villa-Lobos e Almirante diziam que a melodia era de João Pernambuco, violonista semianalfabeto. O que não se discute é a lembrança imediata de cada brasileiro quando se começa a tocar o refrão que remete ao balanço de uma rede. Pois Milton Nascimento também gravou a sua versão deste clássico.

“Cavaleiros do Céu” (folk, 1950) – Stan Jones em versão de Haroldo Barbosa

O compositor de música country norte-americana Stan Jones, compôs, na década de 1950, uma música que fez enorme sucesso: “Riders in The Sky”. Atento ao que acontecia lá fora, Haroldo Barbosa, responsável por sucessos que já ecoavam nas vozes potentes de Francisco Alves, Dalva de Oliveira e, posteriormente, Nora Ney, Lúcio Alves e Miltinho, compôs uma versão para o hit, que rebatizou de “Cavaleiros do Céu”. Gravada por Luiz Gonzaga, a canção ganhou uma versão de Milton Nascimento em 1981, no LP “Caçador de Mim”, com direito à introdução da bela peça instrumental “Crescente”, de Wagner Tiso. Mais uma prova do poder e da capacidade de Milton de renovar clássicos.

“Me Deixa em Paz” (samba-canção, 1952) – Monsueto e Airton Amorim

Uma das letras mais fortes do cancioneiro de Monsueto foi também a responsável por seu primeiro sucesso. “Me Deixa em Paz”, parceria com Airton Amorim lançada pela não menos incisiva Linda Batista trazia os versos: “Se você não me queria/Não devia me procurar/Não devia me iludir/Nem deixar eu me apaixonar/Evitar a dor/É impossível/Evitar esse amor/É muito mais/Você arruinou a minha vida/Me deixa em paz”. Em 10 frases se resumia a música inteira. Além do poder sintético, a dramaticidade da canção foi sublinhada por Alaíde Costa, no histórico álbum “Clube da Esquina”, em dueto com Milton Nascimento. Outro que a regravou, em sintonia com o enredo pesado da letra e a sua habitual iconoclastia, foi o compositor e cantor Lobão, já no ano de 2011.

“Volver a Los 17” (folclórica, 1966) – Violeta Parra

Considerada uma das mais importantes cantoras argentinas de todos os tempos, Mercedes Sosa tinha ótima relação com o Brasil, que passou a ser construída a partir de 1976, quando gravou com Milton Nascimento a folclórica “Volver a Los 17”, da chilena Violeta Parra, no álbum “Geraes”, do mais mineiro dos cariocas. Mais tarde, ela também gravaria “San Vicente”, de Milton e Fernando Brant, e “Cio da Terra”, de Milton e Chico Buarque. Violeta Parra também é a autora de “Gracias a La Vida”, mais um clássico da canção latina.

“Viola Enluarada” (canção-toada, 1968) – Marcos Valle e Paulo Sérgio Valle

Na casa de Tom Jobim, um recém-chegado de uma longa temporada nos Estados Unidos, Marcos Valle, conheceu Milton Nascimento, compositor para quem Eumir Deodato havia lhe chamado atenção. Eumir escrevera os arranjos para as músicas de Milton inscritas no II Festival Internacional da Canção. A identificação entre Marcos e Milton foi imediata, e eles logo entoaram juntos “Viola Enluarada”, música de Marcos com letra do irmão Paulo Sérgio Valle. Também em dupla, os dois a registraram para um compacto da Odeon, que depois virou parte do álbum de 1968 de Marcos, batizado, justamente, como “Viola Enluarada”. Antes, a música já havia sido cantada em shows pelo Quarteto em Cy e pela cantora Eliana Pittman. E a música foi grande sucesso.

“Para Lennon e McCartney” (clube da esquina, 1970) – Márcio Borges, Lô Borges e Fernando Brant

“Márcio (Borges), Lô (Borges) e Fernando (Brant)... Posso definir os três numa só palavra: coração. E o que eles trouxeram de único para mim e para minha vida é uma coisa chamada amizade. Isso sim é uma das coisas mais importantes na minha vida. Sem amizade não consigo fazer nada, nem atravessar a rua”. A afirmação é de Milton Nascimento que, entre os amigos, sempre foi intimamente chamado de Bituca, e, em 1970, lançou uma parceria do trio que se tornou um de seus grandes sucessos. “Para Lennon e McCartney” explicitava no título a influência dos Beatles sobre o Clube da Esquina, mas deixava claro em seu verso final: “Sou do mundo/ Sou Minas Gerais”. E a música ganhou uma regravação da cantora Célia, no ano de 1971.

“Caça à Raposa” (MPB, 1974) – João Bosco e Aldir Blanc

Formada pelo mineiro de Ponte Nova, João Bosco, e o carioca da gema, Aldir Blanc, essa dupla fez história na música popular brasileira. Dentre tantos sucessos, algumas preciosidades escaparam desse rol. Um exemplo é “Caça à Raposa”, que deu título ao disco de Bosco de 1975, lançada um ano antes por Elis Regina, intérprete soberba. Com a perspicácia de Blanc, a letra narra uma caçada à raposa sem citar o animal que, em 1945, foi adotado como mascote do Cruzeiro em alusão à astúcia do então presidente do time celeste, Mário Grosso. Milton Nascimento também deu a sua bela versão para a composição.

“Beijo Partido” (clube da esquina, 1975) – Toninho Horta

Lançada em 1975 por Nana Caymmi e relançada por Milton Nascimento no disco “Minas”, a música “Beijo Partido”, de Toninho Horta é, até hoje, considerada uma das mais bonitas da música brasileira, definida pelo historiador Jairo Severiano, no livro “A Canção do Tempo: Volume II”, como aquela que “tipifica o estilo do compositor, com sua linha melódica aparentemente simples e a harmonia sofisticada”. “As pessoas vão perceber esse movimento pendular, de uma construção musical sofisticada que regressa ao berço, a algo mais simples”, sustenta o sempre inquietante Toninho Horta.

“Calix Bento” (folia de reis, 1976) – Tavinho Moura

Entre trilhas sonoras, títulos da discografia-solo e outros em parceria, o músico Tavinho Moura contabiliza 18 álbuns na carreira, sem contar as participações. Mineiro de Juiz de Fora, ele recolheu, em 1976, a música de domínio público “Calix Bento”, oriunda da folia de reis, que ele adaptou para ser lançada naquele ano por Milton Nascimento, com enorme repercussão. Outra gravação de sucesso para a mesma música foi a da dupla caipira Pena Branca & Xavantinho. A canção desperta o histórico barroco e colonial das Minas Gerais.

“Xica da Silva” (samba-rock, 1976) – Jorge Ben Jor

Carnavalesco de primeira linha e horas a fio, Monsueto era também um grande intérprete, e foi o responsável por cantar na avenida o samba enredo do Salgueiro no ano de 1963, o histórico e inesquecível “Chica da Silva”, de autoria de Anescar do Salgueiro e Noel Rosa de Oliveira. A letra revive a trajetória de uma das mais simbólicas personagens do Brasil, a escrava mineira Chica da Silva, natural do Serro e que viveu em Diamantina, alforriada após se casar e ter treze filhos com o rico contratador de diamantes João Fernandes de Oliveira. Chica aparece em outras letras do cancioneiro brasileiro, como, por exemplo, na música de Jorge Ben Jor, lançada no ano de 1976: “Xica da Silva”. Milton Nascimento a regravou em dueto com Gilberto Gil, em CD do ano 2000.

“O Que Será [À Flor da Pele]” (MPB, 1976) – Chico Buarque

Lançada durante a ditadura militar, “O Que Será (À Flor da Pele)?” é uma das canções imbrincadas de Chico Buarque que suscitam uma beleza difícil de ser explicada. Composta para a trilha sonora do filme “Dona Flor e Seus Dois Maridos”, em 1976, e regravada por Milton Nascimento, ela alinha com rigor de costura cada palavra do inspirado poema do autor, cujo simbolismo tem a percepção ampliada pela lentidão com que suas frases aparecem aqui (feito imagens) para o espectador-ouvinte: “o que não tem vergonha, nem nunca terá/ o que não tem governo, nem nunca terá/ o que não tem juízo”. Quanta atualidade no que traz a natura do indefinível. A letra é das mais belas da MPB.

“Nascente” (clube da esquina, 1977) – Flávio Venturini e Murilo Antunes

Não é exagero dizer que “A Página do Relâmpago Elétrico” foi um acontecimento na música mineira. O primeiro disco de Beto Guedes congregou sucessos que são cultuados até hoje, como “Nascente” (de Flávio Venturini e Murilo Antunes), “Belo Horizonte” (de Godofredo Guedes), “Maria Solidária” (parceria com Milton Nascimento) e “Luminar” (de Guedes e Ronaldo Bastos), além da faixa-título, outra da dupla. “Luminar” foi uma dessas canções arrebatadoras, responsável por puxar o êxito da estreia de Guedes. A música ganhou uma regravação exemplar do grupo Roupa Nova, já no ano de 1982.

“Cálice” (MPB, 1978) – Chico Buarque e Gilberto Gil

O tema religioso perpassa toda a estrutura da música “Cálice”. Composta numa Sexta-Feira da Paixão, a lembrança do martírio de Cristo inspirou Gilberto Gil a identificá-lo com a situação vivida pelos brasileiros no auge da ditadura militar. A melodia, também de memória sacra, acompanha os versos que falam da “bebida amarga”, a “força bruta”, o “monstro da lagoa” e “o grito desumano”. Todas essas imagens fortes seriam ainda coroadas com o refrão que mistura o sentido das palavras “cálice” e “cale-se”. O trauma da época levou Gilberto Gil a jamais regravar essa canção após a tentativa, censurada pelo regime militar, de apresentá-la em um show ao lado de Chico Buarque, naquele ano de 1978.

“Mania de Você” (balada, 1979) – Rita Lee e Roberto de Carvalho

Quando Carmen Miranda brincou com o duplo sentido na carnavalesca “Eu Dei”, de 1937, ela teve que se valer dos versos de Ary Barroso. O mesmo aconteceu com a cantora portuguesa Vera Lúcia, primeira intérprete da lânguida e sensual “Amendoim Torradinho”, obra de Henrique Beltrão lançada por ela em 1955, e que depois ganhou as vozes de Ney Matogrosso, Angela Maria, Alcione, Dóris Monteiro e Ivon Curi, entre outros. O fato ainda era comum no ano em que Maria Bethânia gravou, “O Meu Amor”, de Chico Buarque, em 1978. Rita Lee avançou nessa questão com a sensualíssima “Mania de Você”, balada composta com o marido Roberto de Carvalho, em 1979. E Milton Nascimento a regravou, em dueto com Rita, no “Acústico MTV”.

“Libertad Mariposa” (MPB, 1980) – Gonzaguinha

Composta para descrever o sentimento onírico que Gonzaguinha experimentava diante da Lagoa da Pampulha, a canção “Lindo Lago do Amor” inspirou a criação do “Lindo Bloco do Amor”, que desfila pelas ruas no Carnaval de BH. Gonzaguinha morou na capital mineira em seus últimos 12 anos de vida e se tornou amigo de Fernando Brant e Milton Nascimento, com quem gravou “Libertad Mariposa”, em 1980, no disco “De Volta ao Começo”. No mesmo ano, Zizi Possi também colocou na praça a sua versão para a composição. Já “Lindo Lago do Amor” foi lançada em 1984, no LP “Grávido”, de Gonzaguinha.

“Peixinhos do Mar” (cantiga, 1980) – adaptação de Tavinho Moura

A ligação de Milton com as tradições de Minas não é segredo para ninguém, e está na base de sua obra e dos pilares que fundamentaram o Clube da Esquina, com forte influência do acento barroco. “Peixinhos do Mar” fortalece essa tese. A música, tradicional, folclórica, é uma cantiga popular, de domínio público, que recebeu adaptação de Tavinho Moura, participante da faixa ao lado do anfitrião, que a revelou ao mundo em 1980, no disco “Sentinela”. Simples, quase infantil, a música traz reflexões sobre as condições da vida. Um coro acompanha Milton e o seu convidado nessa canção de todas as gerações.

“A Arca de Noé” (infantil, 1980) – Toquinho e Vinicius de Moraes

Em 1980, os poemas de Vinicius de Moraes que abordavam a história bíblica da “Arca de Noé” ganharam a primeira versão em disco, com melodias de Toquinho. Vários artistas participaram desse trabalho – que teve a arte da capa feita por Elifas Andreato –, como Elis Regina, Milton Nascimento, Chico Buarque, Ney Matogrosso, Marina Lima e o conjunto As Frenéticas. Coube a Milton interpretar, justamente, a “Arca de Noé”, parceria de Vinicius e Toquinho. Essa faixa é interpretada ao lado de Chico Buarque, que declama a introdução.

“Caçador de Mim” (MPB, 1981) – Sérgio Magrão e Luiz Carlos Sá

Milton Nascimento tem a capacidade de tomar para si as canções que interpreta. Não por acaso é considerado por muitos como o maior cantor brasileiro de todos os tempos – com vistas até para o mundo. Ele realizou esse feito com “Beatriz” (de Chico Buarque e Edu Lobo) e “O Que Será (À Flor da Pele)”, também de Chico, para ficar só nos exemplos mais marcantes. Outro caso é o de “Caçador de Mim”, parceria de Sérgio Magrão, do 14 Bis, com Luiz Carlos Sá, do extinto trio Sá, Rodrix e Guarabyra. A interpretação definitiva de Milton, em 1981, a atrelou para sempre ao intérprete, embora tenha recebido outras gravações igualmente bem-feitas e dignas, mas sem a tal “voz de Deus”.

“Canção do Novo Mundo” (clube da esquina, 1981) – Beto Guedes e Ronaldo Bastos

“Contos da Lua Vaga” é o nome de um filme japonês de 1953, dirigido por Kenji Mizoguchi, até hoje apontado como uma das principais contribuições do cinema oriental à sétima arte. A história se baseia em contos do século XVI e reúne uma série de acontecimentos de um período violento no Japão, quando o país enfrentou uma guerra civil. Misticismo e realidade atuam juntos no filme. Certamente Beto Guedes assistiu a este clássico do cinema mundial, tanto que o seu LP de 1981 se chamou, justamente, “Contos da Lua Vaga”. Entre as músicas do repertório, destacou-se “Canção do Novo Mundo”, mais uma parceria com Ronaldo Bastos, logo regravada por Milton Nascimento em 1983.

“Coração Brasileiro” (MPB, 1982) – Celso Adolfo

Celso Adolfo nasceu em São Domingos do Prata, interior de Minas Gerais, no dia 9 de setembro de 1952. Cantor e compositor, ele começou a carreira em 1983, quando lançou o disco “Coração Brasileiro”, produzido por Milton Nascimento. Da lavra de Celso Adolfo, há outras canções de destaque, como “Nós Dois”, que mereceu inúmeras gravações, entre elas a de Tadeu Franco. “Brasil, Nome de Vegetal” contou com a participação especial de Milton. Entre os discos de Celso Adolfo, há também títulos como “Anjo Torto”, “Festa do Padroeiro” e “Paixão Atleticana”. Ele ainda tem parcerias com Juarez Moreira.

“Beatriz” (valsa, 1983) – Chico Buarque e Edu Lobo

Inspirado em uma história real passada na Áustria do século XIX, o escritor alagoano Jorge de Lima (1893-1953) criou, em 1938, o poema épico e surrealista “O Grande Circo Místico”. Transformado em balé, o espetáculo ganhou trilha musical de Chico Buarque e Edu Lobo no ano de 1983, quando a dupla compôs a belíssima “Beatriz”. Interpretada por Milton Nascimento, a valsa faz uma elegia para a personagem que dá nome à canção e, com igual sensibilidade nos versos e acordes, cria uma imagem fluida e apaixonante. “Olha, será que ela é moça? Será que ela é triste? Será que é o contrário…?”. A música ganhou regravações de Tom Jobim, Ana Carolina e do próprio Chico. A protagonista é toda circense.

“Chico Rei” (clube da esquina, 1986) – Wagner Tiso e Fernando Brant

Wagner Tiso tentou falar, ensaiou um discurso, mas não teve jeito: começou a chorar. Ele estava no encerramento da turnê “Clube da Esquina”, de Milton Nascimento, no Mineirão, diante de quase 15 mil espectadores. “Sou ‘manteiga-derretida’”. Conhecido por melodias sofisticadas para parcerias com Milton Nascimento, Fernando Brant e Ferreira Gullar, além de adaptações sobre temas do maestro Heitor Villa-Lobos, ele afirma que nunca se importou com o sucesso.

Nascido em Três Pontas, no Sul de Minas, Tiso se tornou vizinho de Milton ainda criança. “Quando o Bituca tinha dois anos, o levaram pra morar em frente à minha casa”, recorda. A história da dupla estava só começando. Em 1959, Milton fundou o conjunto Luar de Prata e convidou Tiso para tocar acordeom. Foi Milton quem gravou, em 1986, “Chico Rei”, parceria do pianista com Fernando Brant, feita para a trilha sonora do filme homônimo.

“Quanta” (MPB, 1997) – Gilberto Gil

Useiro e vezeiro em misturar as influências, ritmos e estilos, tropicalista por vocação e origem, baiano de nascimento e brasileiro até a espinha, Gilberto Gil é dos compositores mais ouvidos e repetidos por bocas e becos e lonas, e para isto há motivo mais do que consistente. É que com sua geleia geral o autor de “Aquele Abraço”, “Toda Menina Baiana”, “A Paz”, e tantos, mas tantos outros sucessos sempre manteve o olhar como de cronista, não preso aos fatos, porém transformando-os – por sua concepção poética e fluida do mundo – em instrumentos de reflexão e mudança. Se inscreve nessa tradição a música “Quanta”, que Gil lançou em 1997, e, depois, regravou com Milton Nascimento.

“Quem Sabe Isso Quer Dizer Amor” (MPB, 2003) – Lô Borges e Márcio Borges

Na opinião de Márcio Borges, o interesse contínuo pela música gerada por garotos que eram fãs de Beatles e uniram referências da tradição barroca à bossa nova tem a ver com o próprio reconhecimento internacional que o Clube da Esquina conquistou. “Foi um acontecimento que influenciou a música popular do mundo todo. A influência da obra de Milton e seus parceiros para os compositores de jazz americanos e europeus e para a música latino-americana é incomparável”, assegura Borges. Em 2003, ele compôs com o irmão Lô Borges a balada romântica “Quem Sabe Isso Quer Dizer Amor”, nos moldes do Clube da Esquina, lançada por Milton Nascimento no revigorante disco “Pietá”.

“Dia Comum” (clube da esquina, 2011) – Ronald Valle

O cartunista, chargista, escritor, jornalista Ziraldo, para ficar no básico, é um moleque atrevido, maluquinho, menino. Obediente à sua própria escrita, afirma: “Tudo na vida tem limite, isso de ‘perder o amigo, mas não a piada’ é, em si, uma piada. Ninguém é sozinho na vida. É preciso ter coragem para dizer as verdades e aguentar as consequências”. “Na época do Pasquim criamos várias charges sobre a tragédia que se transformou no filme, aliás, belíssimo, ‘Os Sobreviventes dos Andes’, e o Quino, muito meu amigo, inventor da Mafalda, disse que era um absurdo fazer graça com aquilo, ao que eu retruquei que cada um tem o seu próprio absurdo, o humor tem um limite peculiar”. No filme “Uma Professora Muito Maluquinha”, inspirado em uma de suas criações, Milton Nascimento interpreta “Dia Comum”, de Ronald Valle. Ali, a beleza do aprendizado aparece de forma sutil, mas deixa claro que “vai mudar sua vida”.