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The Voice Brasil deixa programação da Rede Globo após queda de audiência

Atração ficou durante onze anos seguidos no ar, e estava sendo comandada por Fátima Bernardes

Fátima Bernardes assumiu o comando do The Voice Brasil nas últimas temporadas, mas programa não decolou

Foram onze temporadas seguidas, com bons índices de audiência e repercussão nas redes sociais, mas chegou ao fim a história do The Voice Brasil na tela da Rede Globo. De acordo com reportagem da Folha de S. Paulo, a próxima temporada, comandada por Fátima Bernardes, será a última.

A queda nos números medidos pelo ibope e a diminuição às menções nas plataformas digitais foram os principais fatores para o cancelamento do programa musical cuja fórmula foi importada do exterior. “Em 2023, o programa retorna para a sua 12ª e última temporada. Com origem na Holanda, em 2010, a franquia se espalhou pelo mundo e conquistou o coração de todos. Depois de 11 temporadas, a versão brasileira retorna para sua temporada final”, afirma um documento da emissora, que ainda não se posicionou oficialmente.

Ao longo dos anos, músicos prestigiados como Lulu Santos, Carlinhos Brown, Daniel, Claudia Leitte, Gaby Amarantos, a dupla Simone & Simaria, Michel Teló, dentre outros, passaram como jurados pelo programa, que também investiu em edições para crianças e pessoas idosas.

The Voice transformou em entretenimento antiga fórmula dos programas de calouros

Programas de auditório que se propõe a revelar talentos não configuram novidade. O Brasil se beneficiou deste molde, sobretudo, nas décadas de 1960 e 1970, conhecidas como “Era dos Festivais”.

Há uma diferença fundamental, no entanto, entre este passado e o momento atual, que salta aos olhos não apenas pelo distanciamento histórico que nos permite elencar nomes como Chico Buarque, Elis Regina, Gonzaguinha, Caetano Veloso, Tom Zé, Mutantes, Jair Rodrigues, que ganharam força ou se consagraram nestes programas.

A estrutura era diferente, porque participavam dela nomes interessados na arte e não apenas no mercado, ou no que podemos chamar de entretenimento. É verdade que essas vertentes nem sempre divergem, mas, no caso citado, sim, e de maneira dramática.

Se há alguma sinceridade na versão brasileira do programa “The Voice”, está sobre os participantes, que nitidamente se esforçam e creem naquele espetáculo de espasmo, apoplexia e demagogia que produtores, apresentador e jurados promovem.

Tudo para extrair o máximo de audiência, drama, risadas, voltas por cima e reviravoltas das quais a plateia é cúmplice. Daí a diferença crítica entre os festivais de tempos idos e esse circo em tempo real e interativo que se escora nestes adjetivos para alardear suposta modernidade.

Cláudia Leitte, Carlinhos Brown, Daniel e Lulu Santos nunca priorizaram a técnica em detrimento do alcance pop de uma canção, pelo contrário, e aí não há demérito, apenas fatos. Mas se arvoram de tais argumentos para colocar a cabeça a prêmio ou eleger para lágrimas os que ali se prestam ao crivo.

Ou seja, o “The Voice Brasil” anuncia técnica, mas vende só entretenimento, não se constrangendo em explorar o sonho dos participantes para alimentar ego e bolso, e se apresentar vaidosamente como um sensível conhecedor musical. A falta de personalidade, ousadia, discurso dos avaliados apenas vem a corroborar com o que a produção do programa pretende estampar em sua vitrine.

Afinal de contas, se é para ficar emocionado frente ao televisor com histórias de mentira, prefira Chaplin, ao menos é bem mais honesto em sua tentativa de avaliar o homem, inclusive no que ele tem de mais piegas.