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Gilberto Gil chega a BH com a família; Confira pérolas do repertório do músico

Compositor baiano de 80 anos teve suas canções gravadas por Nara Leão, Zizi Possi, Angela Ro Ro, Beth Carvalho e Baby do Brasil

Gilberto Gil desembarca com a família em Belo Horizonte a bordo de um repertório recheado de pérolas e sucessos

Gilberto Gil aporta com sua prole nesta sexta (23) em Belo Horizonte. Ao lado da família, o músico de 80 anos é a atração principal do Festival Sensacional. Gil promete brindar o público com um repertório de sucessos do porte de ‘Palco’, ‘Drão’, ‘Aquele Abraço’, ‘Andar com Fé', ‘Tempo Rei’, e etc. No próximo dia 26, o compositor comemora mais um aniversário e, no dia 30 de junho, estreia na Amazon Prime Video a segunda temporada da série que acompanhou Gil e sua família durante a turnê comemorativa na Europa, intitulada ‘Viajando com os Gil’. Ao longo de sua intensa trajetória, ele foi gravado por diversas vozes femininas, como Nara Leão, Zizi Possi, Angela Ro Ro, Beth Carvalho e Baby do Brasil.

“Vento de Maio” (canção, 1966) – Gilberto Gil e Torquato Neto

“Nara era muito mais do que a menina da bossa nova, do joelhinho bonito e da voz doce que tinha o apartamento do pai em Copacabana. Era uma mulher de vanguarda sem fazer barulho. Cacá Diegues diz que ela conseguia transgredir sem precisar de gestos chamativos ou grandes polêmicas.

A maior transgressão dela foi como artista, gestando movimentos musicais e sendo decisiva para a criação deles, mas nunca se deixou engessar, por isso era uma artista tão singular”, detalha o biógrafo Tom Cardoso. Em 1967, Nara gravou “Vento de Maio”, de Gil e Torquato Neto, lançada por Wilson Simonal em 1966.

“Mancada” (samba, 1967) – Gilberto Gil

A cinco dias de completar 25 anos, Gilberto Gil lançou, em 1967, o seu primeiro LP, batizado “Louvação”, faixa-título que abre os trabalhos com tons orquestrais, antes que o violão do protagonista tome a cena.

Parceria com o poeta piauiense Torquato Neto (1944-1972), a música foi apresentada para todo o Brasil num dueto explosivo de Elis Regina e Jair Rodrigues, durante o programa “Dois na Bossa”, comandado pela dupla na TV Record, em 1966.

“Mancada” se nutre do samba sincopado, ao estilo de Geraldo Pereira, daqueles que João Gilberto adorava regravar, com um ritmo cadenciado propício para as artimanhas do violão de Gil, e letra sobre desfeita amorosa. A música ganhou gravação de Beth Carvalho no songbook dedicado a Gil, e também a cantou em dueto com o anfitrião.

“Divino Maravilhoso” (tropicalista, 1968) – Caetano Veloso e Gilberto Gil

A discípula de João Gilberto surpreende ao aparecer no IV Festival da Música Popular Brasileira da TV Record mais próxima de Janis Joplin do que do papa da bossa nova. Gal Costa foi quem lançou, em 1968, essa parceria de Caetano Veloso e Gilberto Gil que fincou de vez a bandeira tropicalista em terras brasileiras: “Divino Maravilhoso”.

“Atenção/ Tudo é perigoso/ Tudo é divino, maravilhoso/ Atenção para o refrão/ É preciso estar atento e forte/ Não temos tempo de temer a forte”. Politizada, a canção ganhou versões da nova geração nas vozes de Iza, Almério, Renegado, além de Ney Matogrosso e Elza Soares. E, recentemente, foi interpretada pelo próprio Caetano Veloso.

“Esotérico” (MPB, 1976) – Gilberto Gil

Em 1976, Maria Bethânia sugeriu que ela, Gal, Caetano e Gil fizessem um show juntos para comemorar os dez anos de carreira. Assim se criou os Doces Bárbaros, projeto que reuniu o quarteto baiano e culminou em disco. O dueto de Gal e Bethânia em “Esotérico”, música de Gilberto Gil, é um dos pontos altos do espetáculo que foi gravado ao vivo e lançado em LP duplo.

A música é um exemplo bem-acabado da habilidade de Gil de combinar sensibilidade astrológica com uma poesia que não perde o mistério de vista. “Se eu sou algo incompreensível/ Meu Deus é mais”, afirma um verso antológico desta canção. A música ganhou uma gravação de Baby do Brasil.

“Deixar Você” (balada, 1982) – Gilberto Gil

Passando pelo xote, o samba, o rock e o baião, Gilberto Gil representa a verdadeira diversidade brasileira. Baiano de Salvador, nascido em uma família de classe média, o músico começou a carreira ainda na terra natal, onde conheceu Caetano Veloso, Gal Costa e Tom Zé, que formariam o núcleo da Tropicália, além de Maria Bethânia. Em 1966, Gil se mudou para o Rio de Janeiro, onde lançou o seu primeiro disco, e começou a ter músicas gravadas por Elis Regina, Jair Rodrigues e Nara Leão, chamando a atenção da classe artística para seu talento musical.

Ao longo de 55 anos de carreira, Gil lançou 52 álbuns, entre registros de estúdio e apresentações ao vivo. Em 1983, ele lançou uma das baladas mais bonitas da sua carreira, a romântica “Deixar Você”, que reflete sobre a despedida amorosa. A canção recebeu uma regravação emocionante da cantora Angela Ro Ro, no songbook dedicado a Gil, acompanhada por Antonio Adolfo ao piano.

“Toda Menina Baiana” (axé, 1983) – Gilberto Gil

A Bahia deu a Gilberto Gil régua e compasso e, aos 80 anos, ele continua mandando aquele abraço. Ícone do Tropicalismo, dono de sucessos inesquecíveis, vencedor de prêmios no mundo inteiro e recentemente nomeado membro da Academia Brasileira de Letras, Gilberto Gil é, sem dúvida nenhuma, um dos maiores nomes da música brasileira.

Não há quem desconheça canções como “Toda Menina Baiana”, uma precursora da tomada da axé music pelas rádios de todo o país no final dos anos 1980. Lançada em 1983, a canção foi gravada por Ivete Sangalo, ao lado de Gil e Caetano. Ao longo do tempo também ganhou versões das baianas Daniela Mercury e Margareth Menezes, atual Ministra da Cultura no terceiro mandato do presidente Lula.

“Vamos Fugir” (reggae, 1984) – Gilberto Gil e Liminha

A palavra tinha significado duplo. Podia se referir a “farrapos” e “roupas rasgadas”, ou a “uma confusão”, “quizumba”. Essas características eram chamadas de “rege-rege”, que originou o termo em inglês pelo qual a música espalhada pelos quatro cantos do mundo por Bob Marley passou a ser conhecida como reggae.

Não há dúvidas de que o mítico artista de cabelos dreadlocks, discurso e expressão pacifista, invariavelmente portando sua guitarra ou seu cigarro de maconha, é o principal totem do gênero jamaicano que se transformou em movimento e ideologia para alguns, adquirindo, inclusive, atmosfera de seita. No Brasil, o ritmo influenciou Gilberto Gil que, em 1984, lançou “Vamos Fugir”, parceria com Liminha. A música ganhou uma regravação renovadora da banda Skank, já nos anos 2010.

“A Paz” (MPB, 1987) – Gilberto Gil e João Donato

Em 1982, Zizi Possi ganhou o seu primeiro disco de ouro pelas milhões de cópias vendidas com o disco “Asa Morena”, puxado pela toada de Zé Caradípia que conquistou todo o Brasil. Ela voltaria a bater recordes de vendagens em 1997, 1998 e 1999, no auge de sua aclamação popular, com “Per Amore”, “Passione” e “Puro Prazer”.

Outro momento definitivo de sua carreira aconteceu em 1987, quando gravou uma versão atemporal para a inebriante “A Paz”, de Gilberto Gil e João Donato, cantada até para o Papa. A música integrou a trilha da novela “Mandala”, da Rede Globo, protagonizada por Vera Fischer, Felipe Camargo e Nuno Leal Maia.