Maria da Graça assinou o primeiro compacto com o nome de batismo, mas, já ao dividir o LP “Domingo”, com Caetano Veloso, em 1967, e participar de “Tropicália ou Panis et Circencis”, de 1968, passou a atender por Gal Costa. Nascida em Salvador, no dia 26 de setembro de 1945, Gal Costa nos deixou no dia 9 de novembro, aos 77 anos, e se consagrou como uma das maiores cantoras da história da música brasileira, tanto pela afinação quanto pelo timbre de voz cristalino. Ao longo desta carreira, Gal gravou mais de 40 álbuns.
Entre seus sucessos estão músicas como “Festa do Interior”, “Bloco do Prazer”, “Meu Nome É Gal”, “Meu Bem, Meu Mal”, “Um Dia de Domingo”, “Baby”, “Chuva de Prata”, “Vapor Barato”, “Pérola Negra”, e muitos outros. Musa da Tropicália, Gal homenageou Ary Barroso e Dorival Caymmi, e passou a um repertório popular sem abrir mão da qualidade, gravando músicas de Chico Buarque, Caetano e Gil, e realizando duetos com astros da nossa MPB...
“Meu Nome É Gal” (rock, 1969) – Roberto Carlos e Erasmo Carlos
Gal Costa é a única cantora que ganhou de Roberto e Erasmo Carlos uma música em sua homenagem. “Meu Nome É Gal” foi lançada no LP de 1969, com uma arte pra lá de psicodélica na capa, que se repete nos arranjos. Lanny Gordin e Jards Macalé participam do disco, assim como Caetano Veloso e Gilberto Gil. Vale incluir a regravação da mesma canção no álbum, e show, “Gal Tropical”. O duelo dos agudos mais bonitos do país, com a guitarra de Robertinho de Recife, que acontecia no final do show, é histórico. “Gal Tropical” passou pelo palco do Palácio das Artes, porém com Victor Biglione na guitarra.
“Chuva de Prata” (balada, 1983) – Ed Wilson e Ronaldo Bastos
Depois de mais de duas décadas na gravadora Polygram, Gal Costa assina com a então RCA. É pela nova gravadora que lança “Profana”, de 1984, onde abre espaço para músicas de apelo mais popular. “Chuva de Prata” é o grande sucesso do disco, junto com uma versão para uma música de Stevie Wonder, “Lately”, que, na letra em português de Ronaldo Bastos, virou “Nada Mais”. Também de Ronaldo Bastos, com Ed Wilson, é o sucesso “Chuva de Prata”, que mereceu as regravações de Paula Fernandes, Sandy e do grupo Roupa Nova. Porém, a primeira gravação foi feita em 1983, e pelo tecladista Lafayette.
“Sua Estupidez” (balada, 1971) – Roberto Carlos e Erasmo Carlos
A histórica parceria entre Roberto Carlos e Erasmo Carlos rendeu hits juvenis e românticos do porte de “Sentado à Beira do Caminho”, “Detalhes”, “É Proibido Fumar” e “Minha Fama de Mau”, consagrando a dupla, que alcançou o estrelato com o movimento da Jovem Guarda. Em 1969, Roberto lançou “Sua Estupidez”, logo tomada por vozes femininas de toda ordem. A mais marcante gravação foi feita por Gal Costa, no revolucionário espetáculo “FA-TAL: Gal a Todo Vapor”, dirigido por Wally Salomão, em 1971, que abalou as estruturas da MPB. A gravação de Gal se tornou definitiva para essa balada atemporal, linda.
“De Fogo, Luz e Paixão” (balada, 1978) – Marcelo e Ney Costa
Em 1978, Gal Costa aceitou o convite do cantor Marcelo para gravar, com ele, a música “De Fogo, Luz e Paixão”, parceria do anfitrião com Ney Costa. A faixa marcava um momento de aproximação de Gal com canções mais populares, menos sofisticadas, que a levariam para trilhas de novelas da Rede Globo, após o auge do Tropicalismo. Deu certo. “De Fogo, Luz e Paixão” se consagrou como um grande sucesso e serviu tanto para reaproximar Gal das rádios quanto para apresentar o cantor Marcelo ao público, no início de sua carreira...
“Modinha para Gabriela” (modinha, 1975) – Dorival Caymmi
Com a recepção fria ao disco “Cantar”, Gal ficou dois anos sem gravar. A situação só iria mudar quando ela foi convidada para ser a intérprete da música de abertura da novela “Gabriela”, da Rede Globo, estrelada por Sonia Braga. O tema musical era uma composição de Dorival Caymmi: “Modinha para Gabriela”. O grande sucesso da música nas rádios levou a cantora a voltar aos estúdios, desta vez gravando uma espécie de songbook com músicas de Caymmi: “Gal Canta Caymmi”. Na regravação da novela “Gabriela”, já em 2012, com Juliana Paes no papel principal, o registro de Gal voltou ao sucesso.
“Um Dia de Domingo” (balada, 1985) – Michael Sullivan e Paulo Massadas
Mesmo tendo gravado em dias diferentes no estúdio, o primeiro e único encontro de Gal e Tim Maia em disco rendeu um grande hit e uma boa vendagem para Gal, com mais de 600 mil cópias vendidas do álbum “Bem Bom”, de 1985, que continha a gravação para “Um Dia de Domingo”. A canção leva a assinatura dos hitmakers dos anos 1980, Michael Sullivan e Paulo Massadas, em arranjo de outro nome onipresente em sucessos daqueles anos, o músico Lincoln Olivetti.
A música deveria ser lançada com clipe, mas a produção teve que adiar o registro porque o vestido de Gal não estava pronto. Dois dias depois, ao ligarem para Tim, ele devolveu: “Meu vestido não ficou pronto”. E não compareceu à gravação. Não houve clipe no Fantástico e o encontro só se deu no programa de Chacrinha. Nelson Motta relata o episódio.
“Folhetim” (MPB, 1978) – Chico Buarque
Composta para a Ópera do Malandro, a música “Folhetim” é uma das muitas que sobreviveram ao espetáculo de Chico Buarque. Interpretada por Gal Costa no ano de 1978, na companhia de Wagner Tiso ao piano, a canção narra a trajetória de uma prostituta, com uma melodia ao mesmo tempo suave e incisiva, como requer a letra. A música também foi gravada pelo próprio Chico Buarque e por Nara Leão, mas a gravação de Gal entrou para a posteridade. “Folhetim” se consagrou como um dos grandes sucessos de toda sua carreira...
“O Gosto do Amor” (xote, 1978) – Gonzaguinha
Gonzaguinha manteve durante muito tempo uma relação tumultuada com o pai Luiz Gonzaga que, quando ele começou a se interessar por música, já estava consagrado como o “Rei do Baião”. Mas, depois de idas e vindas, os dois finalmente se entenderam, e Gonzaguinha começou, inclusive, a se aproximar dos ritmos nordestinos que consagraram o pai. Um exemplo é o xote “O Gosto do Amor”, que ele compôs especialmente para Gal Costa lançar, em 1978, no LP “Água Viva”, em dueto com a participação de luxo do próprio Gonzaguinha.
“Balancê” (marcha, 1936) – Braguinha e Alberto Ribeiro
A marchinha “Balancê” é a primeira das grandes gravações de Gal Costa que serviu de trilha sonora para o Carnaval brasileiro pré-axé music. A regravação do sucesso de Braguinha e Alberto Ribeiro, lançado por Carmem Miranda em 1936, foi o grande hit da folia de 1979. Era o ponto alto do show de maior sucesso comercial de Gal, “Gal Tropical”, que ficou um ano em cartaz. Após décadas de ostracismo e esquecimento, Braguinha voltava a reinar no Carnaval brasileiro, graças aos agudos de cristal de Gal Costa, impressionante.
“Forró Nº1” (xaxado, 1985) – Cecéu
Compositora de sucessos como “Bate-Coração” e “Forró do Xenhenhém”, ambos gravados por Elba Ramalho, a paraibana Cecéu concedeu a Luiz Gonzaga, em 1985, a primazia de lançar o xaxado “Forró Nº1” que, como previa o nome, rapidamente ascendeu ao topo das paradas radiofônicas. Como não era bobo nem nada, Luiz Gonzaga convidou para cantar o xaxado contigo a cantora Gal Costa, que deu um show nessa gravação em dueto. A música comprova toda a versatilidade da intérprete e a perfeita afinação com o xaxado.
“Bloco do Prazer” (frevo, 1979) – Fausto Nilo e Moraes Moreira
O compositor Fausto Nilo conheceu os integrantes do chamado “Pessoal do Ceará” ainda na década de 1970, e, desde então, passou a ser gravado por cantores como Fagner e Belchior, e, mais tarde, Chico Buarque, Ney Matogrosso, Caetano Veloso, Geraldo Azevedo, entre outros. No ano de 1979, o Trio Elétrico Dodô e Osmar, banda criada pelos inventores do trio elétrico na Bahia, lançou, no Carnaval, a música “Bloco do Prazer”, parceria de Nilo com o novo baiano Moraes Moreira. O frevo, em ritmo acelerado, é uma conclamação desenfreada à alegria e à liberdade. Gravada por Nara Leão, em 1981, tornou-se sucesso nacional na voz de Gal Costa, um ano depois, já na folia de 1982...
“Sonho Meu” (samba, 1979) – Dona Ivone Lara e Délcio Carvalho
A maneira singular e cheia de suingue de tocar o violão levou a comparações com Baden Powell, de quem Rosinha de Valença seria o modelo feminino, mas é redutor considerar que ela fosse apenas um “Baden de saias”. Rosinha tinha um talento único ao executar, produzir e compor. Além de apurado tino musical. Foi graças a ela que Maria Bethânia conheceu “Sonho Meu”, em um sarau organizado para apresentar as canções de Dona Ivone Lara. Assim, Bethânia e Gal Costa gravaram esse bonito samba, em dueto, no ano de 1979.
“Festa do Interior” (frevo, 1981) – Abel Silva e Moraes Moreira
Após décadas, as festas juninas voltaram a ser tema de uma canção popular de sucesso no Brasil, em 1981. Composta por Moraes Moreira e Abel Silva em ritmo de frevo, “Festa do Interior” foi lançada por Gal Costa. Com arranjo de Lincoln Olivetti, integra “Fantasia”, um dos álbuns mais exitosos da carreira da cantora. A música não apenas puxou as vendagens, até então a maior de Gal, como foi a mais tocada no Carnaval. Curiosamente, o repertório de “Fantasia” vinha de um show de Gal em que a crítica foi implacável. Segundo a cantora, problemas técnicos foram determinantes para o fiasco daquela noite de estreia.
“A Luz de Tieta” (frevo, 1996) – Caetano Veloso
Em 1989, a novela “Tieta”, da Rede Globo, protagonizada por Betty Faria, fez tanto sucesso que rendeu um disco com sua trilha sonora, que exibia, na capa, a modelo Isadora Ribeiro completamente nua, encostada em um coqueiro. Alguns anos mais tarde, em 1996, a história virou filme e, desta vez, ganhou música de Caetano Veloso. “A Luz de Tieta” repete esse clima de sensualidade presente nas duas versões, e conta com a voz acalorada de Gal Costa na faixa. Frevo bem ao estilo de Caetano, essa música foi um sucesso radiofônico.
“Pegando Fogo” (marcha, 1938) – José Maria de Abreu e Francisco Matoso
Gal Costa foi uma intérprete fora de série que, ao cantar uma música, dava uma nova forma e força pra ela. Podemos ver isso claramente em dois exemplos, quando ela grava marchinhas de Carnaval que haviam feito muito sucesso nos anos 1930. O primeiro é “Balancê”, música de Braguinha que Carmen Miranda gravou, em 1936. O outro é “Pegando Fogo”, de 1938, composta por José Maria de Abreu e Francisco Matoso, lançada pelo Bando da Lua. Essas duas composições receberam uma interpretação exuberante de Gal e ficaram, para sempre, associadas ao seu repertório. E são clássicos da MPB.
“Sorte” (MPB, 1985) – Celso Fonseca e Ronaldo Bastos
Violonista habituado a trabalhar com nomes de peso da MPB, como Gilberto Gil e Marisa Monte, o carioca Celso Fonseca compôs, em 1985, uma das pérolas do seu repertório. “Sorte” ganhou letra do poeta Ronaldo Bastos, antes de receber as vozes de Gal Costa e Caetano Veloso, no disco “Bem Bom”, lançado pela baiana, e se transformou em sucesso imediato. A suavidade da letra e da melodia logo conquistou os ouvintes, e mereceu uma regravação de Ney Matogrosso, já trazendo uma nova geração de fãs para a gravação de Gal.
“Brasil” (rock, 1988) – Cazuza, George Israel e Nilo Romero
Bem ao estilo de Cazuza, a música “Brasil”, parceria com George Israel e Nilo Romero, apresenta versos tão sintéticos quanto rascantes, um verdadeiro nocaute poético aos que se apoderavam do país em benefício próprio. Após enumerar uma série de abusos e privações sofridas pela população brasileira, Cazuza deixa claro que o protesto e a indignação são, na verdade, uma declaração de amor. Lançada pelo compositor em seu álbum “Ideologia”, de 1988, ela foi regravada por Gal Costa no mesmo ano e virou tema de abertura da novela “Vale Tudo”. No show, Gal ainda aparecia com os seios descobertos.
“Dos Meus Braços Tu Não Sairás” (foxtrote, 1944) – Roberto Roberti
Duas vozes de arrepiar estão juntas na regravação de “Dos Meus Braços Tu Não Sairás”, um foxtrote de Roberto Roberti, lançado em 1944: Gal Costa e Nelson Gonçalves, cada um à sua maneira, o primeiro abusando da potência e, a segunda, do brilho incomum de seu timbre único, também de alto alcance. O resultado é um dueto impressionante, de tirar o chapéu, que comprova toda a força e riqueza da música popular brasileira. “Dos Meus Braços Tu Não Sairás” foi escolhida como prefixo musical por Nelson Gonçalves, na década de 1940, quando ele era absoluto nos programas de rádio. Foxtrote que não sai de moda, assim como as vozes de Nelson Gonçalves e de Gal Costa. Brilho puro.
“Biscate” (samba, 1993) – Chico Buarque
“Biscate” é um samba com influência do choro, como os melhores de Chico Buarque. A música foi lançada em 1993, no disco “Paratodos”, que trazia a faixa-título como grande sucesso. Habituada a gravar canções românticas de Chico Buarque, desta vez Gal Costa participa em um dueto com o mestre, em letra que encara o amor pelo avesso, cheia de queixas e acusações. Outro recurso que se destaca ao longo da faixa acontece quando Chico canta uma estrofe enquanto Gal dá voz a outro trecho, reforçando o desencontro do casal.
“Espinha de Bacalhau” (choro, 1936) – Severino Araújo
Nascido em Limoeiro, no interior de Pernambuco, Severino Araújo mudou-se para João Pessoa, na Paraíba, ainda na década de 1930. Filho de um mestre de banda, ele logo adotou a clarineta como instrumento predileto. Em 1936, o futuro maestro da Orquestra Tabajara, que dirigiu por décadas, compôs o maior de todos os sucessos: “Espinha de Bacalhau”, um choro ligeiro como os melhores do gênero. Em 1981, a composição ganhou letra de Fausto Nilo e interpretação de Ney Matogrosso e Gal Costa, unindo esses agudos da MPB...