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Protetores pedem divulgação das marcas de ração que compraram propilenoglicol contaminado

Pedido ocorre após o Ministério da Agricultura afirmar, em nota, que contaminação de petiscos pode ter começado a partir da mistura de composto usado na alimentação para pets

Nesta semana, a cadelinha Mallu, de uma tutora de BH, morreu com suspeita de intoxicação

Pelo menos 50 entidades protetoras dos animais assinaram um manifesto pedindo a divulgação do nome das marcas que compraram lotes de propilenoglicol - com suspeita de contaminação por monoetilenoglicol - da Tecnoclean Industrial Ltda. A presidente da entidade Vida Animal Livre, Val da Consolação, explicou que as assinaturas devem ser entregues ao Ministério Público (MP) na próxima semana, já que o objetivo é aumentar a adesão.

“Estamos com medo do número de mortes de cães aumentar e de outros animais serem expostos à contaminação. Se a gente não tem acesso a essa informação, não tem como resguardar os animais. A gente espera que o Ministério Público faça algo ”, disse.

De acordo com Val, o manifesto deve ser entregue entre terça e quarta-feira da próxima semana. “Animal virou membro da família. Têm animais que estão doentes por causa do consumo de alimento contaminado e os tutores ainda não sabem porque não foram divulgadas as outras marcas”.

Ela, como advogada, ainda tem sido procurada por tutores que buscam compreender os seus direitos. “São danos morais, materiais e indenizações. Quando envolve animais, a grande maioria, infelizmente, ainda não entende que eles têm direitos e que esse direito é exercido por nós. Somos a voz desses bichos que não falam”, conclui.

O manifesto ocorre após o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) identificar que a contaminação, que matou dezenas de cães no país, pode ter iniciado no propilenoglicol vendido pela Tecnoclean e usado pela Bassar Pet Food em petiscos.

“O propilenoglicol é um aditivo permitido tanto para alimentação animal quanto para alimentação humana. Nesse caso, a causa em investigação é uma contaminação do propilenoglicol por monoetilenoglicol. A causa está sendo investigada”, diz parte da nota.

A reportagem entrou em contato com o MAPA pedindo nomes de produtos, lotes e marcas que usaram propilenoglicol da Tecnoclean e aguarda retorno.

Revenda

A Tecnoclean Industrial Ltda, empresa de Contagem, na região Metropolitana de Belo Horizonte, que vendeu propilenoglicol para a Bassar Pet Food, explicou que não fabrica a substância. O insumo - que estaria contaminado com monoetilenoglicol - faz parte da composição dos petiscos que teriam intoxicado cães no país, sendo que apenas em Minas Gerais dez morreram.

Em nota enviada à Itatiaia, a Tecnoclean explicou que “não fabrica propilenoglicol, apenas tendo comprado da empresa A&D Química Comércio Eireli (que é o importador) e revendeu ao mercado nacional como apenas distribuidor”. Ainda, conforme o texto, a “falha deve ser entendida entre o importador e o fabricante.”

O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) divulgou, nessa quarta-feira (7), orientação para que empresas fabricantes de alimentos para animais suspendam o uso de dois lotes de propilenoglicol vendidos pela Tecnoclean. São eles: D5053C22 e AD4055C21.

Recall

Na última sexta-feira (2), o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) determinou o recolhimento de todos os lotes de produtos da empresa Bassar Indústria e Comércio Ltda - a Bassar Pet Food - responsável pela fabricação de petiscos. A decisão ocorre após laudo pericial divulgado pela Polícia Civil, que identificou monoetilenoglicol em um petisco da marca.

Nessa quarta (7), a empresa informou que está fazendo um recall de todos os seus produtos. “A Bassar Pet Food informa que exames preliminares realizados pelo MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) apontaram indícios de que o propilenoglicol, insumo utilizado pelo setor industrial na fabricação de alimentos para humanos e animais, adquirido pela Bassar Pet Food de um de seus fornecedores, estaria contaminado com etilenoglicol. Por isso, a empresa está realizando um recall de todos os seus produtos junto a seus consumidores, solicitando que entreguem no local de venda os itens que já tenham adquirido anteriormente”.

Entenda

A investigação teve início após tutores desconfiarem da morte de dois cães e levarem corpos para serem analisados pela Escola Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Conforme laudo de necropsia, os animais morreram por “ lesões renais graves” em decorrência de consumo de etilenoglicol. Na ocasião, os donos suspeitaram que a substância estava em petiscos.

Na sexta passada, a Polícia Civil divulgou dados que confirmam a presença de monoetilenoglicol - mesmo que etilenoglicol - em um petisco recebido pela instituição de um dos tutores que registraram denúncia.

Conforme a perita criminal Renata Fontes, três produtos diferentes da Bassar passaram por processamento. Todos eles foram entregues pelos tutores. “Recebemos desde o início da semana materiais que foram encaminhados pela delegacia do consumidor para análise”, destacou em coletiva.

“Nós identificamos a presença do monoetilenoglicol em um dos produtos que foram encaminhados à perícia. Praticamente todos que foram encaminhados foram processados”, detalhou a perita.

Patrícia Marques é jornalista e especialista em publicidade e marketing. Já atuou com cobertura de reality shows no ‘NaTelinha’ e na agência de notícias da Associação Mineira de Rádio e Televisão (Amirt). Atualmente, cobre a editoria de entretenimento na Itatiaia.