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Adoçante é vilão? Estudo da OMS sobre riscos da substância surpreende o público

Especialista explica que assunto já é debatido no meio científico há mais de uma década; nutricionista dá dicas para quem quer evitar o adoçante

Nutricionista recomenda uso de outros tipos de adoçante

“Troque o açúcar pelo adoçante”. Durante muitos anos ou décadas, essa foi uma “verdade universal” seguida por milhões de pessoas no mundo todo. O adoçante era o substituto natural do açúcar para quem queria emagrecer, ter uma vida mais saudável ou não ter complicações com certas doenças. Mas esse “fato” ficou abalado após a Organização Mundial da Saúde divulgar, nesta segunda (15), suas novas diretrizes sobre adoçantes sem açúcar.

Segundo o documento da OMS, adoçantes deste tipo não devem ser utilizados para controle de peso ou redução do risco de doenças não transmissíveis. De acordo com a revisão sistemática de estudos da instituição, o adoçante não oferece benefícios para a perda de peso no longo prazo e pode até causar efeitos indesejáveis, como um risco aumentado de diabetes tipo 2.

Surpresa

“Fiquei muito surpresa”. Foi assim que a psicóloga Ninna Amaral Salgado reagiu após ver o resultado do estudo da OMS. Adepta do adoçante há 15 anos, a profissional passou a utilizar o adoçante natural Stevia há 4 anos acreditando que ele fosse mais seguro. Mas mesmo o seu adoçante preferido acabou sendo citado no relatório, apresentando relação com problemas cardíacos, náusea e gastroenterite.

“Grande parte dos meus parentes maternos são diabéticos, então adotei o adoçante por conta da genética e da qualidade de vida. Troquei a sucralose e o aspartame pela Stevia por conta de pesquisas que relacionam essas substâncias com o câncer. Essa pesquisa me surpreendeu muito. Até imagina malefícios ligados ao câncer e doença cardíaca, mas não diabetes.”

A psicóloga afirma que não esperava que o Stevia também fosse citado no relatório e acredita que, mesmo assim, seus malefícios devem ser menores que os de outros adoçantes. Mesma opinião do orientador de público Gabriel Exposito, que vê o Stevia como um adoçante saudável.

“Minha mãe bebe muito café e sempre me disse para usar o adoçante por ser mais saudável, aí eu mantive essa linha de raciocínio. Vou continuar usando, já estou acostumado. Entre seis e meia dúzia, continuo usando o adoçante.”

Adoçante é vilão?

Apesar do estudo surpreender o público em geral, o resultado não é tão inesperado assim para os profissionais. O nutricionista Felipe França, especialista em oxidologia e bioquímica celular e sócio-fundador da Clínica Soloh de Nutrição, esclarece que os riscos do uso contínuo e elevado de adoçantes já são estudados há mais de uma década.

“Análises como a da ligação com diversos problemas, como circulação, problemas cardiovasculares e até mesmo o ganho de peso, já que ele pode contribuir para o aumento da resistência à insulina, para processos inflamatórios e ainda para a alteração no paladar. Hipersensibilidade no organismo, distúrbios na flora intestinal e até mutação celular são estudados.”

De acordo com o médico endocrinologista e professor da Faculdade de Medicina da UFMG, Márcio Weisshewer, o adoçante não tem eficácia comprovada na prevenção da obesidade, diabetes e doenças cardiovasculares. “Apenas trocar o açúcar pelo adoçante não garante nenhum benefício. Enquanto uma medida única, isolada, o adoçante não tem eficácia”, explica.

Um estudo do Departamento de Promoção da Saúde (DEPROS), do Ministério da Saúde, ainda revelou que o uso de adoçantes aumenta o risco de hipertensão arterial, diabetes e eventos cardiovasculares. “A pessoa acha que ao fazer essa troca, está sendo mais saudável. Mas, na verdade, ela está correndo mais riscos de desenvolver doenças cardiovasculares”, aponta o médico.

Segundo Weisshewer, a dieta ideal é a natural, ou seja, sem nenhuma adição de açúcares. “A gente recomenda para os pacientes uma alimentação sem sal e sem açúcar. O ideal é comer alimentos in natura. E como este é um hábito difícil de mudar na vida adulta, é importante que ele seja construído ainda na infância”, afirma.

Devo trocar o adoçante?

Depois desta novidades, muitas pessoas podem ficar em dúvida se devem continuar usando adoçante, trocá-lo por outra substância ou simplesmente passar a tomar café amargo. O nutricionista Felipe França defende que todos mantenham a calma e, dependendo da situação, façam mudanças na rotina alimentar. Confira as dicas:

  • Se não for frequente e estiver aliado à uma dieta balanceada, use açúcares mais naturais, como o mel, mascavo ou demerara

  • Use frutas mais doces para adoçar bolos e outras preparações, como passas, bananas maduras e ameixas;

  • Canela, baunilha, cardamomo, cacau 70% e outras especiarias também podem ajudar no controle da resistência à insulina.

Jornalista formado pela UFMG, com passagens pela Rádio UFMG Educativa, R7/Record e Portal Inset/Banco Inter. Colecionador de discos de vinil, apaixonado por livros e muito curioso.
Fernanda Rodrigues é repórter da Itatiaia. Graduada em Jornalismo e Relações Internacionais, cobre principalmente Brasil e Mundo.