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Ministério da Saúde nega caso de paralisia infantil no Pará; entenda o que se sabe até o momento

Vírus foi detectado em um exame de fezes da criança de 3 anos no Pará: entenda o que significa

Crianças e adolescentes de Belo Horizonte podem receber a vacina contra a pólio até dia 21 de outubro

No início da tarde desta quinta-feira (6), a Secretaria de Estado de Saúde do Pará (Sespa) confirmou que havia detectado o polivírus (SABIN LIKE 3) em um exame de fezes de uma criança de 3 anos. O menino havia apresentado sintomas clássicos da paralisia infantil e imediatamente se acendeu um alerta sobre um possível primeiro caso da doença desde 1989.

Entretanto, no fim da tarde, o Ministério da Saúde emitiu uma nota negando registro de circulação viral da poliomielite no estado. Segundo a pasta, trata-se de um caso de paralisia flácida aguda que está sendo investigado e que poderia estar associado a um evento adverso ocasionado por vacinação inadequada. A criança estaria com o esquema vacinal incompleto, e chegou a tomar as doses erradas da vacina – leia nota na íntegra no fim desta reportagem.

Apesar de ainda não haver confirmação do que causou a paralisia flácida aguda na criança, a principal hipótese seria de que se trata da síndrome de Guillain-Barré, uma reação autoimune do organismo que pode ocorrer como um sintoma colateral raríssimo da vacinação. Os sintomas relatados pela criança coincidem com os da síndrome: febre, dores musculares e paralisia nos membros.

Segundo a médica infectologista pediátrica Gabriela Araújo, que também é diretora da Sociedade Mineira de Pediatria, ainda é preciso mais informações sobre a condição da criança antes de se ter certeza do causador da paralisia flácida aguda. “Por um sistema de vigilância epidemiológica, todos os casos de paralisia flácida aguda, independente da causa, têm que ser notificados de imediato. Isso porque a pólio, que é uma doença que já foi erradicada do Brasil, é uma das causas de paralisia flácida aguda”.

A infectologista, entretanto, duvida que os sintomas apresentados pela criança podem ter sido causados diretamente pela vacinação. “Um quadro de paralisia flácida aguda pode ter inúmeras razões, e pode estar temporalmente associado a ter tomado a vacina, mas não ter relação causal nenhuma com a vacina”, argumenta.

Indiretamente, entretanto, as doses erradas da vacina podem ter causado a síndrome de Guillain-Barré, explica: “Essa síndrome de Guillain-Barré é o que a gente chama de paralisia ascendente e é um quadro que, quando detectado rapidamente, é manejado. A síndrome de Guillain-Barré pode acontecer por várias causas, além de reações a vacinas. Pode acontecer, por exemplo, após dengue, zika, e com várias outras infecções. É um evento adverso à vacina muito raro, mas possível. Há também a chance de não ter relação nenhuma com a vacina, mas estar apenas temporalmente associado”.

Como funciona a vacina contra a pólio?

A médica infectologista e pediatra Gabriela Araújo reforça que a vacina é a principal prevenção à paralisia infantil e explica como a imunização funciona.

“A vacina contra pólio é dada pela via oral. Ela é a Sabin, a famosa ‘gotinha’, e é composta por vírus vivos atenuados. O que isso significa? A gente pega um vírus da pólio e modifica para que ele seja capaz de induzir a resposta do sistema imune, mas não seja capaz de causar a doença”.

Segundo ela, é possível que o vírus detectado nas fezes da criança no Pará seja, na verdade, o vírus inativado da vacina.

“Esse vírus inativado chega no intestino e se multiplica para induzir a resposta do sistema imune. Ele pode ser excretado nas fezes por um período depois que a criança toma a vacina, então o fato de ter achado o vírus da vacina, que eles colocam lá como ‘Sabin Like’, nas fezes da criança após a vacinação é perfeitamente possível. Na verdade, é até esperado que vá acontecer”, relata.

Vacina contra a poliomielite é segura?

O médico virologista e presidente da Sociedade Brasileira de Virologia, Flávio Fonseca, reforça que a vacina é extremamente segura, mas que, em casos raros, pode causar sintomas semelhantes aos da poliomielite, especialmente se a criança não receber os imunizantes de forma correta.

“No Brasil, o que acontece hoje, é que para evitar esse tipo de problema chamado de ‘poliovacinal’, a criança normalmente toma três doses da vacina injetável da pólio inativada, chamada também de vacina SALC. Assim, quando ela toma a vacina oral, o Zé Gotinha, ela já tem imunidade para evitar que casos de poliomielite vacinal possam acontecer”, explica Fonseca.

De acordo com a Secretaria de Saúde do Pará, a criança que apresentou sintomas da paralisia flácida aguda teria pulado as vacinas injetáveis e recebido de uma vez apenas a vacina oral. “No caso específico que ainda está em estudo, o que acontece é que essa criança não tinha tomado as doses de vacina inativada que devem preceder a vacina oral”, informou o médico.

Importância da vacinação contra a poliomielite

A cobertura vacinal contra a poliomielite vem caindo desde 2015, último ano em que o país atingiu a meta estipulada pelo Ministério da Saúde. Em 2021 o percentual ficou abaixo de 70% pela primeira vez na história, com 69,9%, mas alguns dados ainda podem ser lançados no sistema.

Com o surgimento do caso no Pará, que ainda está sendo avaliado e, portanto, não possui uma conclusão concreta, Flávio da Fonseca reforça que a população precisa vacinar as crianças contra a pólio e de forma correta.

“Os protocolos vacinais não têm sido seguidos pela população. Por isso, a cobertura vacinal vem caindo e, como no caso dessa criança, por exemplo, ela não tinha tomado as vacinas que deveria tomar antes de receber a pólio oral (gotinha). Isso pode ter causado o que a gente está vendo agora”.

Vacinação contra a pólio em BH

Em Belo Horizonte, crianças de 1 a 4 anos podem se imunizar contra a poliomielite até 21 de outubro. Todos os Centros de Saúde estarão disponíveis para a vacinação, e os endereços e horários de funcionamento podem ser conferidos no site da PBH. Além disso, crianças e adolescentes até os 15 anos que não estiverem com o cartão de vacina atualizado também podem procurar um posto de saúde.

Leia na íntegra a nota do Ministério da Saúde sobre o caso de Poliomielite em investigação no Pará:

O Ministério da Saúde informa que não há registro de circulação viral da poliomielite no Brasil.

A pasta enviou equipe ao estado do Pará nesta quinta-feira (6) para investigar um caso de Paralisia Flácida Aguda. De acordo com informações enviadas pela secretaria estadual de saúde, o caso pode estar relacionado a um evento adverso ocasionado por vacinação inadequada. É importante ressaltar que não se trata de poliomielite.

O Ministério da Saúde reforça que pais e responsáveis vacinem suas crianças com todas as doses indicadas para manter o país protegido da poliomielite, doença erradicada no Brasil.