A integração entre os sistemas MES (Manufacturing Execution System) e ERP (Enterprise Resource Planning) tem se consolidado como uma das etapas centrais da transformação digital nas fábricas. Para Devanir Caetano Marques Filho, analista de tecnologia do Senai-MG, conectar essas plataformas significa eliminar a distância histórica entre o planejamento corporativo e a operação diária do chão de fábrica.
“Integrar MES e ERP é o ato de derrubar o muro de comunicação que historicamente separa o escritório da produção”, explica à Itatiaia.
Devanir resume o papel de cada tecnologia: o ERP organiza processos como finanças, vendas e planejamento, enquanto o MES gerencia a execução da produção. A ausência de comunicação entre esses sistemas, afirma ele, cria distorções importantes.
“Quando esses sistemas estão isolados, a gestão opera no escuro”, detalha. Segundo ele, dados defasados podem gerar erros de planejamento, estoques imprecisos e perdas financeiras.
A integração, por outro lado, cria um fluxo contínuo de informações entre ordens de produção e retorno de desempenho. Devanir destaca que esse processo “permite uma tomada de decisão rápida que amplifica o valor e minimiza perdas”.
Confiabilidade e rastreabilidade como principais ganhos
Ao comentar os benefícios da integração para a gestão da produção, Devanir afirma que o principal avanço é a confiabilidade. “O primeiro grande ganho é o fim do planejamento no escuro”, diz.
Com dados instantâneos sobre capacidade das máquinas e andamento das ordens, as áreas de supply chain e comercial conseguem projetar prazos de entrega mais precisos.
Ele explica ainda que a integração transforma o processo de cálculo de custos. “Sem a integração, o custo é baseado em estimativas e médias. Com ela, o MES informa ao ERP o consumo exato de insumos, tempo de mão de obra e energia por lote de produto”, afirma. Essa acurácia, segundo o especialista, contribui para margens mais seguras.
A rastreabilidade também evolui. Para Devanir, a integração permite vincular rapidamente informações de produção e faturamento, o que facilita a investigação de falhas e reduz prejuízos em casos de recall.
Três barreiras comuns na conexão entre TI e chão de fábrica
Devanir identifica três grandes desafios para conectar MES e ERP. O primeiro é cultural. “Historicamente, os profissionais de TI e OT vivem em silos com prioridades diferentes”, observa.
Ele explica que é necessário alinhar governança para que as equipes atuem de forma integrada.
O segundo desafio é tecnológico, especialmente em plantas com máquinas antigas. “Muitas fábricas operam com sistemas legados que não foram projetados para se conectar à internet ou a sistemas modernos”, afirma. A solução, segundo ele, costuma envolver gateways ou middleware para padronizar a comunicação.
O terceiro fator é a segurança digital. “A integração é sinônimo de risco cibernético se não for bem gerenciada”, alerta. Devanir destaca que unir redes corporativas e industriais exige segmentação e mecanismos de proteção específicos.
Digitalização e Indústria 4.0 simplificam a integração
Devanir afirma que a Indústria 4.0 reduziu a complexidade da integração, permitindo conexões mais rápidas e acessíveis. Ele cita protocolos como o OPC UA, que unificam a comunicação entre equipamentos, além do uso de edge computing para lidar com máquinas antigas.
“Eles coletam, processam e padronizam dados, enviando apenas o essencial para o MES e o ERP na nuvem”, explica.
A adoção de softwares em nuvem com APIs abertas também acelerou implementações. Para Devanir, esse modelo “torna a integração mais ágil e menos custosa, especialmente para PMEs”.
Ele acrescenta que a cibersegurança passou a ser tratada desde o início dos projetos, incorporada aos próprios sistemas.
Ganhos práticos no dia a dia da operação industrial
Na rotina da fábrica, os resultados são imediatos. “O fim da digitação de dados é o ganho mais visível e que mais agrada os operadores”, afirma Devanir. Ele destaca que, com coleta automática, desaparece a necessidade de preencher formulários ou atualizar planilhas.
Outro avanço está na área financeira, já que o faturamento se torna mais ágil.
“Assim que o MES sinaliza que o lote está completo e passou no controle de qualidade, o ERP é notificado instantaneamente”, explica.
A manutenção também se beneficia dos dados integrados. O especialista afirma que, com informações precisas sobre horas de operação, a manutenção preditiva substitui cronogramas fixos, evitando paradas não planejadas.
Por fim, a própria organização da produção se torna mais dinâmica. A integração permite ajustes automáticos da fila de produção em resposta a atrasos, urgências ou mudanças na demanda.
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