Game design entra na segurança do trabalho e muda a forma de treinar colaboradores

Missões, níveis e recompensas deixam treinamentos mais ativos e melhoram retenção e comportamento dos colaboradores

Dinâmicas inspiradas em jogos ajudam trabalhadores a identificar riscos e tomar decisões com mais precisão

Transformar regras de segurança em desafios pode parecer inusitado, mas essa estratégia tem conquistado espaço dentro das empresas. Para Samuel Gonçalves Mordente, instrutor de Formação Profissional do Senai-MG, elementos de game design deixam o aprendizado mais estimulante e aumentam a participação dos trabalhadores.

Ele explica que missões funcionam como motivadores naturais. Em vez de encarar listas de normas, o colaborador passa a cumprir objetivos claros e contextualizados, o que cria urgência e senso de propósito.

Já os níveis ajudam a organizar o conteúdo em etapas menores, reduzindo a sobrecarga e reforçando a sensação de progresso. As recompensas, sejam simbólicas ou práticas, validam o esforço e mantêm o engajamento.

“O colaborador deixa de ser espectador de slides para se tornar protagonista. Isso muda a forma como ele retém o conteúdo para quando enfrentar o risco real”, afirma Mordente à Itatiaia.

Do jogo para a fábrica

Segundo o instrutor, a gamificação vai além da teoria e ajuda a modelar comportamentos seguros. Entre os hábitos que podem ser reforçados estão a percepção de riscos, o uso proativo de EPIs, a cultura de reporte (near-miss), a memória procedimental e até a tomada de decisão sob pressão.

A retenção também melhora. Mordente explica que, enquanto treinamentos tradicionais dependem da memória de curto prazo, jogos ativam o sistema emocional e as áreas responsáveis por decisões rápidas. Cada pequeno desafio retomado nos dias seguintes ajuda a “resetar” a curva do esquecimento e fixar o conhecimento.

O feedback imediato também conta. Quando o colaborador erra dentro do jogo, ele falha na hora — e isso força o cérebro a corrigir rapidamente o que não foi assimilado.

Barreiras para implementar a gamificação

Apesar dos benefícios, aplicar jogos à segurança do trabalho exige atenção. Mordente aponta quatro desafios principais:

  • Resistência cultural à ideia de que “jogos são coisa de criança”;
  • Limitações tecnológicas em ambientes industriais;
  • Metodologias fracas que adicionam pontos e medalhas sem mudar a lógica de aprendizagem;
  • Dificuldade de manter o interesse ao longo dos meses em treinamentos recorrentes.

Segundo ele, jogos lineares perdem a graça rapidamente. E, quando o colaborador é forçado a repetir o mesmo cenário sempre, o treinamento perde impacto.

Como medir se está funcionando

A avaliação da gamificação passa por quatro etapas. A primeira é observar se o colaborador volta ao jogo por vontade própria — sinal claro de engajamento. A segunda é usar os erros cometidos no ambiente virtual como diagnóstico para corrigir falhas antes que virem riscos reais.

O terceiro indicador aparece na rotina: quanto mais funcionários passam a reportar situações perigosas, maior a evidência de que estão colocando o aprendizado em prática. O último passo é o mais concreto: a queda de acidentes e a redução de custos com afastamentos.

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Erem Carla é jornalista com formação na Faculdade Dois de Julho, em Salvador. Ao longo da carreira, acumulou passagens por portais como Terra, Yahoo e Estadão. Tem experiência em coberturas de grandes eventos e passagens por diversas editorias, como entretenimento, saúde e política. Também trabalhou com assessoria de imprensa parlamentar e de órgãos de saúde e Justiça. *Na Itatiaia, colabora com a editoria de Indústria.

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