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Mercado da carne, um jogo muito disputado

Os consumidores são como torcedores de futebol, mas só torcem por um time: a carne – por isso, mais perdem que ganham

O mercado da carne é o tema da coluna de Valdir Barbosa desta quarta-feira

A JBS deu férias para seus funcionários em vários frigoríficos do Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Pará. Um deles foi fechado e seus 200 funcionários demitidos. Tudo aconteceu no amanhecer, ninguém previa nada. É assim que funciona o jogo no mercado.

O frigorífico fechado foi na cidade de Juara, Noroeste do Mato Grosso, 630 km de Cuiabá. Faço uma comparação entre Juara com Itabirito próximo a Ouro Preto.

Itabirito tem 97 anos, 51 mil habitantes e está a 57 km de Belo Horizonte.

Juara tem 39 anos, 35 mil habitantes e está a 650 km a Noroeste de Cuiabá.

O mais interessante: Itabirito tem o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) 0,786 – alto. O IDH de Juara é 0,763 – também alto.

PIB: R$ 24.312,00 per capita (Itabirito);

PIB: R$ 21,348,00 per capita (Juara);

O PIB de Juara é o mesmo da cidade de Arcos, Centro-Oeste mineiro, cidade desenvolvida e que vai crescendo dia a dia.

Aqueles que nos acompanham agora, 98% jamais ouviram falar de Juara ou estou errado?

Então precisamos conhecer melhor o Brasil. O agronegócio está transformando o país. Por isso essa potência chamada Brasil explodiu de repente, quase ninguém conhecia bem o que temos e produzimos.

Esses novos conhecimentos, infelizmente, devemos à pandemia e à guerra Rússia/Ucrânia que ameaçou deixar o mundo de panelas vazias.

Ja que falamos de frigorífico voltamos a carne, que continua com o mercado quase parado e os preços da arroba derretendo na maioria das regiões brasileiras, só não chega o preço menor para o brasileiro comer melhor.

Esse tipo de comportamento da JBS faz parte do jogo, infelizmente.

O que acontece todos os anos com o mercado do boi?

Os grandes criadores, que produzem o BOI CHINA/Exportação, procuram os frigoríficos no início da engorda de seus rebanhos e olhando o mercado futuro eles travam os preços de um determinado número de arrobas.

Por exemplo: se produtor procura o frigorífico hoje e a previsão para maio de 2023 é de 350 reais a arroba, assina-se o contrato de compra e venda, porque o frigorífico, mesmo com pequeno risco, precisa garantir um número X de arrobas para aquele período. E o produtor quer garantir pelo menos o pagamento de seu custo.

Chegando em maio a arroba está nos mesmos R$ 300, mas o frigorífico cumpre os contratos levando prejuízo de 50 reais em arroba.

E como ele recupera esse prejuízo? A primeira forma é a exportação que paga em dólar, vai equilibrando a balança.

Como os frigoríficos têm conhecimento de todo o mercado produtivo, estimativa do volume de arrobas na safra, gado no pasto, eles começam a pressionar os preços para baixo.

De que maneira? Como eles pagaram caro, mas tem animais na escala necessária de abate, tem estoque, simplesmente começam a oferecer menos para o gado avulso. Aproveitam-se do período seco e sem chuvas, quando há aumento dos insumos. Compram cada vez menos deixando o produtor gastando com um boi que não engorda mais, até corre o risco de emagrecer.

E num momento atípico com esse, dá-se ao luxo de fechar uma de suas plantas e dar férias coletivas em outras quatro. E vão devagar espremendo a boiada na porteira até o cadeado do produtor arrebentar. E na maioria das vezes vence jogo. São poucos produtores que suportam essa pressão.

Já disse em outras vezes que estamos seguindo o mesmo caminho do leite. Lamentavelmente!

O mercado funciona assim!

Produtor rural no município de Bambuí, em Minas Gerais, foi repórter esportivo por 18 anos na Itatiaia e, por 17 anos, atuou como Diretor de Comunicação e Gerente de Futebol no Cruzeiro Esporte Clube. Escreve diariamente sobre agronegócio e economia no campo.