Um crime chocou o Brasil em 18 de maio de 1973. Araceli, de 8 anos, foi sequestrada, drogada, violentada sexualmente e assassinada, em Vitória, no Espírito Santo. Em 1991, os três réus acusados de matar a menina foram absolvidos, e o crime permanece impune até hoje.
Sei que o tema dói. É difícil e constrangedor falar sobre pedofilia. Mas, mais do que nunca, a sociedade precisa abordá-lo e se unir no combate à violência, ao abuso e à exploração sexual infantil.
O crime e impunidade chocaram o Brasil em 1973 e levaram à criação do dia de Combate à Pedofilia. O Maio Laranja é o mês dedicado às vítimas e à luta daqueles que não aceitam tamanha crueldade com as crianças. Tanto quanto combater a pedofilia, é fundamental a realização de campanhas que previnam o abuso infantil e sirvam de alerta para famílias e crianças.
Sempre atuei como voluntária em projetos sociais voltados para o público infantil. Confesso que, por muitos anos, fiquei alheia ao assunto, mas isso mudou radicalmente em 2021, quando conheci a Daiane Dias (Dai), fundadora da ONG Rede Solidária.
Um dia ela me convidou para integrar uma banca de jurados para escolher um projeto atendido pela Rede Solidária que receberia um prêmio financeiro. Foi então que uma mulher entrou, se apresentou como Vanessa do Mila (fundadora do Instituto Movimento Infância Livre de Abusos). Quando Vanessa começou a falar sobre o mundo da pedofilia, quase tive que levantar e me retirar porque comecei a sentir um mal-estar.
Algumas informações ditas por Vanessa, nesse dia, foram: o mercado da pedofilia fatura mais que o do tráfico de drogas; existem estupros de bebês com menos de 6 meses de vida; vídeos desses estupros são vendidos em média por R$ 100 mil no mercado do abuso, e a maioria das vítimas da pedofilia são violentadas pelos próprios familiares.
Pensei na minha filha, amada e protegida em casa, senti vergonha por nunca ter pensado e trabalhado contra a violência infantil. Senti revolta e nojo, mas me perdoei porque lembrei que nunca é tarde para começar algo que acreditamos ser importante e, principalmente, nunca alguém havia me falado sobre o assunto.
Essa é uma das principais questões que precisamos refletir: é preciso falar sobre a pedofilia.
Os dados são alarmantes. A cada 24 horas aproximadamente 320 crianças são abusadas no país. Ainda segundo a Agência Brasil, denúncias do Disque 100 mostram que, em 2019, foram registradas um total de 17.093 denúncias de violência sexual contra menores de idade. A maioria delas é de abuso sexual (13.418 casos), mas existem também denúncias de exploração sexual (3.675). Só nos primeiros meses de 2020, o governo federal registrou 4,7 mil novas denúncias. Os números mostram que mais de 70% dos casos de abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes são praticados por pais, mães, padrastos ou outros parentes das vítimas. Em mais de 70% dos registros, a violência foi cometida na casa do abusador ou da vítima.
O pior é que esses dados só crescem. Outros fatores que contribuíram para o aumento do abuso foram a pandemia do coronavírus, uma vez que as crianças ficaram mais vulneráveis em casa, a impunidade e o uso indiscriminado das redes sociais que cada vez mais sexualizam precocemente as crianças.
Com Vanessa não foi diferente. Aos 10 anos, a fundadora do MILA começou a ser abusada pelo tio. A dor foi se tornando revolta. A menina considerada calada, brava e sem educação não teve a quem recorrer — quando contou sua dor para a família, ninguém ficou a seu lado. Vanessa não teve apoio em sua própria casa, imagina o que esperar sociedade lá fora?
Existem milhares de “Vanessas”, que foram abusadas e que não tiveram o apoio dos próprios pais, que muitas vezes sentem vergonha de falar sobre o assunto, preferem esconder o abuso e sequer dão queixa à polícia. O tabu referente à pedofilia é também um dos fatores que beneficiam os abusadores. Afinal, a criança e a família atingidas pela violência sexual ficam marcadas pelo resto da vida. A vontade de esconder faz com que especialistas acreditem que o número da violência contra crianças seja muito maior.
A dor enfrentada por Vanessa a fez criar em 2019 o Instituto MILA. Em 2022 escreveu e lançou o livro autobiográfico O Escuro Me Abraça, ambos os projetos acelerados pela ONG Rede Solidária.
Realidade dura
Segundo Vanessa, a necessidade de criar o MILA surgiu a partir do momento em que ela se deu conta de que tantas outras meninas e mulheres, assim como também os meninos, estariam desacolhidos e acuados dentro de suas próprias dores e medos.
Desde então, a atuação do MILA em Minas Gerais e no Brasil vem sendo constante e trazendo à luz os indicadores dessa tragédia, onde, infelizmente, Minas Gerais ocupa um dos primeiros lugares na escala dos estados onde mais acontecem violência sexual contra a criança e o adolescente.
E é por isso, que Vanessa vem atuando incansavelmente, buscando erradicar o abuso e a exploração sexual em todos os locais possíveis, e também através de palestras para crianças e adultos, treinamentos em empresas para a conscientização mediante a gravidade do problema e a pouca informação que as pessoas têm sobre o assunto.
Através de materiais impressos, como cartilhas, informativos e kits de proteção direcionados à criança numa linguagem lúdica, porém eficaz, o MILA tem alcançado resultados positivos para a prevenção.
Um dos principais alertas que Vanessa traz aos pais, responsáveis diretos, cuidadores e professores, é o de ficarem atentos às mudanças no comportamento da criança. Os sinais variam de acordo com a capacidade de reação e entendimento de cada uma. Na maioria dos casos, a criança não verbaliza o abuso, mas dá indícios de que algo está acontecendo. Seja através de um desenho, um comportamento que antes ela não apresentava e passa a ter, enurese noturna, mudanças bruscas de comportamento, comportamentos infantis repentinos, silêncio ou agitação predominantes, atitudes sexuais incompatíveis para a idade, aversão a algum parente ou alguém próximo à família, enfermidades psicossomáticas, dentre outros.
Por isso, se faz extremamente importante que exista um diálogo entre pais e filhos, deixando-os sempre cientes que, independente do que aconteça, eles devem saber que podem buscar apoio. Validar a palavra da criança é fundamental, além de sempre ficar alerta para o fato de que a criança não inventa histórias sobre um tema que não conhece.
Impunidade
A impunidade também é uma das principais responsáveis pelo crescimento do número de abusos no Brasil, já que a pena média para um pedófilo é de apenas 4 a 10 anos de reclusão, dependendo do entendimento sobre a “gravidade” do caso, além de um movimento crescente que quer considerar essas pessoas doentes, quando, na verdade, pedofilia é crime contra indefesos.
É preciso falar do assunto nos quatro cantos do país! Por isso, o Maio Laranja é tão importante, um mês dedicado à luta contra a pedofilia, um tema que precisa ser discutido o ano inteiro!
Dai Dias sabe muito bem disso. Por isso, se uniu a Vanessa, e com o apoio da empresa Terceirolhar, Estratégia em Responsabilidade Social e esta colunista voluntária que vos escreve, está realizando o Primeiro Jantar do Instituto MILA.
O evento acontecerá no dia 18 de maio, a partir das 20h, no Restaurante Porcão, que também está apoiando essa causa. Os convites podem ser adquiridos através do Clube do Porcão ou via Instituto MILA. Toda a renda será revertida em prol das campanhas contra o abuso infantil realizadas pela equipe do Instituto MILA.
Conforme falei, até pouco tempo atrás, eu não conhecia sobre o tema, hoje, me tornei voluntária do MILA e convido você a fazer parte do nosso time que luta contra o crime de pedofilia e a violência infantil!
Esperamos você dia 18 de maio, no Primeiro Jantar do Instituto MILA!
Informações
Links de vendas:
https://clubeporcao.com.br/products/jantar-beneficente-instituto-mila
CHAVE PIX INSTITUTO MILA: 41.776.825/0001-80
Contato: (31) 99459-0210 Vanessa do MILA