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Insatisfeitos com governo, únicos deputados do Novo em Minas podem deixar o partido

Tanto Laviola quanto Dr. Maurício já foram abordados por lideranças; PL abriu as portas

Tanto Laviola quando Dr. Mauricio já nomearam 14 e 16 assessores de gabinete - quase o dobro do que outros políticos da legenda possuem

Durou pouco a lua de mel entre os dois únicos deputados eleitos pelo Novo em Minas e o governo estadual. A coluna apurou que Zé Laviola (Novo) e Dr. Maurício (Novo) estão insatisfeitos com as obrigações impostas pelo partido e, ao mesmo tempo, pelo pouco espaço na gestão Zema. Os dois parlamentares, inclusive, já cogitam uma saída do Novo.

Tanto Laviola quanto Dr. Maurício já foram abordados por lideranças partidárias para mudarem de partido. O PL, por exemplo, abriu as portas para abrigar os dois.

Uma das insatisfações pontuadas por interlocutores seriam as dificuldades impostas pelo partido para montar as equipes de gabinete, com limitações duras, ao mesmo tempo que os parlamentares não estariam sendo contemplados com agendas e indicações feitas principalmente à secretaria de Estado de Governo.

“A sensação é que pedem demais e ajudam pouco, ao mesmo tempo que pessoas de outros partidos conseguem espaço e membros do Novo não conseguem nem indicar”, conta, em anonimato, um interlocutor próximo à legenda.

Outro ponto colocado como complicador na relação foi a escolha do deputado Cássio Soares (PSD) para a liderança do bloco de governo na Casa. A indicação de Cássio teria desagradado Zé Laviola, que chegou a sondar a possibilidade de não integrar o grupo e seguir o antigo líder do governo, Roberto Andrade (Patriota), rumo ao bloco independente da Assembleia. A mãe do deputado, a ex-deputada Celise Laviola, foi uma das integrantes mais fieis à base do governador nos últimos quatro anos e teve alguns desentendimentos com Cássio. A ideia de ver o filho sendo liderado pelo deputado do PSD não agradou.

Segundo fontes do Novo, é obrigatório que os mandatários do partido sejam sempre os políticos com menos gastos nas Casas legislativas. Tanto Laviola quando Dr. Mauricio já nomearam, cada um, 14 assessores de gabinete - quase o dobro do que outros políticos da legenda possuem.

Aliás, internamente, no partido, Laviola e Dr. Mauricío nunca foram vistos como “integrante raiz” do Novo - o primeiro por ser de uma família tradicional de influentes políticos e empresários. O segundo, por ter uma história ligada à política partidária como ex-prefeito de Ouro Fino e pela proximidade do ex-deputado Dalmo Ribeiro (PSDB).

Outro lado

Em nota, a assessoria de imprensa de Dr. Mauricio negou qualquer insatisfação. “Não procede a insatisfação do deputado estadual Dr. Maurício com o NOVO. Ao contrário, o deputado está totalmente alinhado com os ideais, as regras e os dirigentes do partido e não há nenhuma intenção de sair da legenda. Em função de residir em Ouro Fino, quase 450 quilômetros de distância de Belo Horizonte, todas as flexibilizações foram acordadas previamente com a direção do NOVO, sempre pautada na austeridade e economias de gastos públicos”.

A assessoria também afirmou que, dos 14 assessores nomeados, oito ficam no escritório regional do deputado, uma vez que "é a primeira vez que o Novo tem parlamentares eleitos no interior, então, em conversa com própria sigla, em comum acordo com o dirigentes do partido, foram feitas algumas leves flexibilizações”.

Também em nota, a assessoria de Zé Laviola afirmou não existir “rota de colisão” entre o deputado e o Novo. “Não existe rota de colisão entre o deputado Zé Laviola e o partido NOVO. A relação entre o deputado e o partido se mantém tranquila e satisfatória para ambos os lados. Todas as necessidades do deputado para seu mandato foram pré-acordadas com o corpo do partido e, por isso, seu foco continuará sendo promover o desenvolvimento regional e se firmar como uma sólida base aliada ao Governo de Minas”.

Lucas Ragazzi é jornalista investigativo com foco em política. É colunista da Rádio Itatiaia. Integrou o Núcleo de Jornalismo Investigativo da TV Globo e tem passagem pelo jornal O Tempo, onde cobriu o Congresso Nacional e comandou a coluna Minas na Esplanada, direto de Brasília. É autor do livro-reportagem “Brumadinho: a engenharia de um crime”.