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O voo do Pombo

Richarlison, com passagem marcante pelo América, foi o grande destaque da estreia do Brasil na Copa do Mundo do Catar

Richarlison brilhou na vitória do Brasil contra a Sérvia na Copa do Mundo

Nunca fiquei tão feliz com o sucesso de um jogador como com Richarlison na vitória da Seleção Brasileira diante da Sérvia, pela Copa do Mundo. E o motivo é muito simples: quis o destino (ou Deus) que assistisse, de perto, o seu início no futebol profissional. À época, repórter setorista do América na Itatiaia, pude ver o seu ‘nascimento’.

Era 2015 e o América brigava pelo acesso à elite do futebol brasileiro, com um time modesto, formado por jogadores experientes como Leandro Guerreiro, Marcelo Toscano e Mancini e mesclado por jovens como Bryan e Bruno Sávio.

Richarlison tinha acabado de chegar à equipe Sub-20 do Coelho e logo chamou a atenção do então técnico Givanildo Oliveira, que buscava um atacante de área.

E a estrela do garoto brilhou logo no primeiro momento. O jovem de 18 anos marcou o terceiro e último gol da vitória americana por 3 a 1 sobre o Mogi Mirim-SP, em jogo pela Série B do Campeonato Brasileiro.

De fala tímida e vergonhosa, em nada lembra o autor do golaço de voleio na Copa do Mundo do Catar.

Se nas entrevistas era difícil arrancar umas poucas frases do garoto, em campo, durante os treinamentos, ele se transformava. A mesma volúpia apresentada em campo, seja pela Seleção Brasileira ou pelo Tottenham, da Inglaterra, o camisa 9 mostrava nas atividades no CT Lanna Drummond.

Após brilhar na estreia do Brasil na Copa do Mundo do Catar, Richarlison disse que tinha realizado um sonho de criança. Que, pouco tempo antes de ser convocado, estava chorando, mas que valeu o esforço por sua recuperação.

Essa é a marca do capixaba com alma mineira.

Foi a resiliência e a persistência que fizeram Richarlison (e claro, o talento), chegar onde está e vai levá-lo ainda mais longe. Não tenho dúvidas disso. Antes de explodir no América, o garoto de Nova Venécia encontrou muitas portas fechadas e nunca desanimou.

E, talvez por isso, Richarlison seja tão sensível para questão humanitárias.

Ele protestou contra o racismo após as mortes do norte-americano George Floyd e do menino João Pedro; doou 500 cestas básicas para moradores de bairros carentes da sua cidade natal; se posicionou a favor da ciência e se tornou embaixador do programa USP Vida, da Universidade de São Paulo; fez apelo aos brasileiros para incentivar a vacinação contra a Covid-19 e dedica 10% do seu salário para ajudar uma instituição de tratamento de câncer. Algumas das coisas que mostram o lado humano desse eterno menino.

Talvez por isso, Richarlison tenha colhido tanto sucesso em sua carreira e continuará.

E do lado de cá, estarei torcendo, aplaudindo e principalmente acompanhando com um orgulho quase paternal o voo do pombo.

Voa, Richarlison, porque, pra você, o céu não será limite!

Emerson Romano escreve semanalmente sobre futebol