Volto a escrever sobre a violência no futebol brasileiro e confesso que fico triste em repetir esse tema. A sensação é de que nada será feito, ou melhor, será feito quando uma tragédia maior acontecer.
As rodadas das Séries A e B do Campeonato Brasileiro deste final de semana foram atingidas por uma onda de violência e selvageria que desafia o limite da civilidade.
Em qualquer país civilizado, é impensável se adiar uma partida porque as autoridades responsáveis temem pela segurança dos torcedores, que ela deveria proteger.
O jogo adiado entre Goiás e Corinthians, que deveria acontecer no último sábado (15), foi adiado pela Justiça comum de Goiás, que decidiu impedir a torcida corintiana de ir ao estádio em vez de garantir a segurança dela.
O ápice da imbecilidade humana aconteceu nesse domingo (16), no Castelão, em Fortaleza, no jogo entre Ceará x Cuiabá, e na Ilha do Retiro, no Recife, no embate entre Sport x Vasco.
Soma-se a isso, a batalha campal promovida pelas torcidas de Athletico-PR e Coritiba pelas ruas da capital paranaense, com barras de ferro, pedaços de pau, rojões, entre outros artefatos.
Até quando vamos assistir passivamente essas cenas como essas?
Até quando nossas autoridades fecharão os olhos a tudo isso?
Vão esperar uma tragédia para (como sempre acontece nesse país) tomar uma providência?
A CBF pediu ao STJD que tome punições drásticas para esses casos. E, na minha opinião, aí está o problema.
O STJD até aplica a lei, o que está previsto no Código Brasileiro de Justiça Desportiva, mas os recursos e efeitos suspensivos tornam as punições praticamente sem efeito.
Adivinhe quem pede esses efeitos? Os próprios clubes, cujas torcidas provocaram as punições.
É um circulo vicioso que não tem fim. Isso está provocando o afastamento dos novos torcedores dos estádios e fomentando o interesse dessa grande gama de jovens por outros campeonatos. Afinal de contas, se é para ficar em casa, melhor assistir uma competição com grandes nomes do futebol mundial, belas arenas e alto nível. Para quê assistir uma partida onde a arbitragem é confusa, os jogadores praticam o antijogo e os torcedores invadem gramado e brigam?
O Campeonato Brasileiro da Série A de 2022 tem a segunda maior média de público em 40 anos e tem tudo para se tornar um produto a ser comercializado nos grandes mercados consumidores do mundo. Mas, infelizmente, estão acabando com essa possibilidade ao não combater, com o rigor necessário, essa onda de violência que se vê a cada rodada dos nossos campeonatos.
As nossas competições nacionais estão muito perto de se tornarem importantes no mundo para espalharem tantas imagens trágicas, tristes, demonstrando uma total desorganização. Coisa que não é.
Um estudo recente apontou a capacidade da liga se tornar a quinta maior do mundo.
Mas continuamos aceitando como normal a quebra de regras, fantasiada de malandragem. Atenuamos crimes de racismo nos estádios e em jogo como se fosse coisa corriqueira. Fingimos que isso pertence ao mundo do futebol.
Me pergunto: até quando?