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As mulheres são a esperança de Brumadinho

Quatro anos depois da tragédia que matou 270 pessoas na mina da Vale no Córrego do Feijão, em Brumadinho, três vítimas seguem desaparecidas

Área antes de ser atingida em Brumadinho

Tenho repetido no rádio que os advogados poderosos e famosos – e, por isso mesmo, com relacionamentos nas altas cortes – mais e mais têm se dedicado não a absolver seus clientes, mas, a protelar os processos de forma que morram antes de cumprir a pena. Quanto mais grave a acusação, mais trabalham nesse sentido.

Reparem no caso de Brumadinho. A defesa, no seu legítimo exercício, pediu para a transferência do julgamento do âmbito estadual para o federal. Alega que existem crimes federais na tragédia que matou 270 pessoas. Sabe a defesa que, lá atrás, o Ministério Público Federal falou no processo – tocado em Minas – que não havia crimes federais, ou seja, que o julgamento poderia se dar em terras mineiras. Claro que, lá na frente, com o processo na Justiça Federal, vão usar esse parecer para desqualificar a denúncia.

Mas, pior, o Supremo Tribunal Federal só decidiu a transferência do foro em dezembro último, sendo que alguns crimes, pelos quais as empresas vão responder, estariam prescrevendo nesta quarta.

Então, três mulheres brilharam: a presidente do Supremo, Rosa Weber, chamou a atenção para a necessidade de urgência; a procuradora da República Miriam Lima apresentou a denúncia na segunda-feira e a juíza Raquel Vasconcelos de Lima imediatamente aceitou. Menos mal. Duas notícias boas: a primeira é que não desconsideraram tudo o que havia sido apurado – como ocorreu na operação Lava Jato – e a procuradora se reservou – na denúncia - o direito de incluir novos fatos durante o curso do processo, ou seja, os tais crimes federais serão sim incluídos.

É claro que o caminho é longo. É certo que, condenados, vão apresentar recurso e o nosso Tribunal Regional – a segunda instância - não julgou até hoje um recurso de 10 anos atrás que continua permitindo a liberdade de Norberto Mânica, réu confesso do planejamento, da contratação e execução de quatro fiscais do Ministério do Trabalho há 19 anos em Unaí. Preciso lembrar, também, que o desastre de Mariana, de oito anos atrás e tão criminoso quanto o de Brumadinho, continua sem responsabilização dos culpados.

Mas, pelo menos a chama da esperança continua acesa. Aleluia!

Antes de trabalhar no rádio, Eduardo Costa foi ascensorista e office-boy de hotel, contínuo, escriturário, caixa-executivo e procurador de banco. Formado em Jornalismo pelo UNI-BH, é pós-graduado em Valores Humanos pela Fundação Getúlio Vargas, possui o MBA Executivo na Ohio University, e é mestre em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Agora ele também está na grande rede!